Discurso de presentación de Fazer(-se) un nome. Eça de Queirós-Guerra da Cal: um duplo processo de canonicidade literária na segunda metade do século XX

 

(Texto íntegro)

 

UM ESTUDO SOBRE ERNESTO GUERRA DA CAL
Ediciós do Castro incluiu na sua colecçom de Ensaio/Filologia o volume Fazer(-se) um nome. Eça de Queirós-Guerra da Cal: um duplo processo de canonicidade literária na segunda metade do século XX, de Joel R. Gômez, alicerçado numha investigaçom defendida polo autor na Faculdade de Filologia de Santiago de Compostela. No estudo reinvidica-se Ernesto Guerra da Cal como o cientista galego mais reconhecido internacionalmente, além do poeta do século XX na língua da Galiza de que mais se ocupou a crítica literária especializada internacional, e o investigador que mais trabalhou pola difusom da Língua e a Literatura da Galiza no mundo. O volume foi lançado na seqüência do VII Congresso Internacional da "Sociedad Española de Didáctica de la Lengua y la Literatura", celebrado na Universidade de Santiago. Joel R. Gômez estava ladeado, na ocasiom, pola Professora Doutora Aurora Marco, eleita nessa altura presidenta da entidade organizadora do congresso; e polo Professor Doutor Elias Torres Feijó, orientador do seu trabalho de investigaçom, e proferiu a seguinte intervençom: 

Senhoras/es docentes, estudantes, e amigas/os:

     Muito agradeço o poder apresentar neste lugar o estudo Fazer(-se) um nome. Eça de Queirós-Guerra da Cal: um duplo processo de canonicidade literária na segunda metade do século XX. Nunca imaginara realizar o lançamento num lugar tam apropriado. Porque a maior característica de Ernesto Guerra da Cal, o principal protagonista desta investigaçom é, com certeza, o seu labor devotado à didàctica das línguas e as literaturas, e a sua promoçom e participaçom em congressos deste teor em diversos países, atingindo e consolidando um reconhecimento internacional que se mantém firme em finais de 2002, ultrapassados já oito anos da sua morte.

     Da sua ampla trajectória merecem destaque realizaçons muito díspares:
a) Em primeiro lugar os seus estudos, que no respeitante a Eça de Queirós, o seu principal ámbito de trabalho e focado de preferência no volume, fornecêrom inovaçons, legitimadas nas metodologias da Estilística e da Literatura Comparada, nas quais está considerado mestre, e onde continua a oferecer imensa produtividade. Entre elas, deve singularizar-se que defendeu, na Columbia University de Nova Iorque, a primeira Tese de Doutoramento sobre matéria de Literatura Portuguesa nos Estados Unidos, sobre a língua e o estilo de Eça de Queirós; ou a Bibliografia Queirociana, como Apêndice dessa investigaçom, com seis tomos e mais de 3.000 páginas, que merecêrom consideraçom de propostas pioneiras nos estudos literários. Todos estes volumes fôrom editados sob a chancela da Universidade de Coimbra.

b) As suas publicaçons, em vários países e línguas, que espelham umha alargada especializaçom em muito diversos campos, como os das literaturas Portuguesa, Galega, Espanhola, Brasileira, Hispanoamericana e Medieval; mas também em diferentes áreas da Lingüística, da Ortografia à Lexicografia ou à Traduçom; e mesmo da História e da Pedagogia. Um labor polo qual foi distinguido com importantes reconhecimentos por governos e instituiçons académicas e universitárias. Sirva de exemplo lembrar como há 30 anos, em 1972, foi aclamado pola sua trajectória profissional desde 1939 nos Estados Unidos, num encontro internacional organizado na Universidade de Califórnia Los Ángeles.

c) Polas instituiçons que promoveu no ámbito universitário, orientadas para a didáctica das línguas e as literaturas, entre as quais devem citar-se o Instituto Brasileiro, na New York University; ou o programa de Doutoramento em Português nos Estados Unidos, na City University de Nova Iorque.

d) Por empreendimentos como os pioneiros Junior Year, que propiciou entre as instituiçons em que leccionava e outras de Espanha, Brasil e Portugal, que favorecêrom a imersom e um melhor conhecimento destes países por parte do alunado universitário norte-americano.

e) Pola sua atitude intelectual, que o levou a discutir teorias de outros com o melhor afám universitário e de progresso. Aquí há de frisar-se o seu constante posicionamento favorável a um iberismo alicerçado no diálogo e no respeito entre as culturas, o que se reflectiu em actitudes como publicar em espanhol em Portugal ou em português em Espanha. Por dizê-lo com palavras suas, datadas em 1953, sobre Eça de Queirós, de quem assinalava que "talvez melhor do que nenhum outro escritor do período contemporâneo exemplificaria a continuidade da interinfluência das duas grandes literaturas da Península, e ajudaria a esclarecer certos aspectos do ritmo histórico que rege as osmoses mútuas de ambas as culturas, as suas afinidades e diferenças, o seu curioso sistema de 'paralelidades e assincronias', as atracções e repulsões das suas respectivas modalidades espirituais -tão próximas e, porém, tão distantes".

f) Polos seguidores e continuadores que ganhou, em vários países, entre os quais resulta paradigmática a personalidade do Professor Doutor Carlos Reis, da Universidade de Coimbra, quem em vida de Da Cal, e após a sua morte, confessou-se reiteradamente seu discípulo; ainda em 2001 no significativo texto de prefácio a Caracol ao Pôr-do-Sol, o poemário póstumo de Da Cal, cuja vultosa produçom literária merece igualmente destaque
.

     Muitos outros aspectos podem ser ainda salientados de Ernesto Guerra da Cal, e estám recolhidos nas páginas e na iconografia deste volume, que acompanha os principais instantes do seu percurso biográfico e intelectual. Indica-se como, desde a mais absoluta periferia do exílio, como perdedor da guerra de Espanha de 1936, evoluiu para posicionamentos de centralidade, até chegar a ser considerado o maior especialista, indicando a originalidade e o destaque de muitas das suas produçons. Esse labor de décadas continua a ser valorizado, como o demonstram a convocatória, no ano 2000, do prémio internacional de investigaçom sobre Eça de Queirós "Professor Ernesto Guerra da Cal", patrocinado polo Governo de Portugal, dentro das actividades oficiais comemorativas do centenário da morte do literato; ou o facto de ser considerado modelar num empreendimento como a "Ediçom Crítica das Obras de Eça de Queirós", que ele apadrinhou em 1986, e que continua em andamento, sendo o mais recente dos seus produtos a publicaçom dos textos de Eça na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, onde mais umha vez consta explícito o reconhecimento para o queirosianismo dacaliano. E já que cito o Brasil, merece lembrar-se como neste país lhe foi dedicada em finais do século XX a colecçom de Obras Completas de Eça, publicada em quatro tomos pola editora Aguilar e coordenada pola professora Beatriz Berrini, da Universidade de São Paulo.

      Era urgente este volume que aqui se apresenta. Porque na Galiza natal, Ernesto Guerra da Cal é muito desconhecido. Valoriza-se como literato, e mais o seu trabalho para que o andaluz Federico García Lorca, ou a norte-americana Anne-Maria Morris, publicassem poesia galega. Mas do seu labor como investigador, que tem na didáctica das línguas e as literaturas o seu principal alvo, é quase, por nom dizer totalmente, ignorado. Umha ignoráncia despropositada e injusta, a meu modo de ver. Esta investigaçom quer começar a remediar esse mal, e contribuir para um maior conhecimento de quem, por esse labor, é hoje o cientista galego com maior projecçom e legitimaçom internacional. E nom só.

      Ter a ocasiom de apresentá-lo neste privilegiado foro de estudos considero-o umha imensa honra, e quero agradecer publicamente à organizacom, e muito em especial à Professora Doutora Aurora Marco, o seu generosíssimo convite; com a fortuna também de poder estar acompanhado do Professor Doutor Elias Torres, quem orientou a investigaçom na Faculdade de Filologia da USC, e de que som muito devedor; um reconhecimento que alargo a todas/os as/os presentes polo interesse demonstrado com a sua assistência ao acto.

      Muito agradecido, pois, a todas e a todos.





     

 

 

 


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