Seitura

 

Escolma.

 

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Candêa eterna

A longura das somas afumadas de dúbidas cingue-me neste mar de sonos e
silenços. Meus sensos agrilhoados por astraes cadêas não sabem derrubar
os ídolos do medo.

Falhan vermes de luz pra os caminhos inhotos, sobram escuros veus pra os
carreiros sem perda. Ja não atino —Deus!— c'os alcesos degaros no facho
das espranças que pressentim eternas.

Porque eissi me fiseche de humana melodia, vibrátil como gládio por
Arcanjo brandido, é que, a pouco, derramo, no fito de outros longes, meu
fato de amarelhe nas pugas dos azibros.

Ai, quem dera atopar aquilo de que fujo à toa, toupinhando como ua estrela
cega; apanhar os espantos, a perfídia e as dôres, ter de mão as angúrias e
acarinhar as trévoas!

Alcende em min, Senhor, aquil candor de neno, ingel, virgem candêa que
não se queime nunca!... Pervagar, sim lixar-me, por tam immensas covas!

Esculcar, sim caír, em tam douradas furnas!


Tópico no porto

—"Ai amor; ai amor; ai amor!..."
Na amura, o rapaz de abordo
soletrêa no escordeão.

O mar devala, devala...
Panos de limão do sol
mandam-lhe adeuses à praia.

—"Ai amor; ai amor; ai amor!..."
Um marinheiro assanhado
mata ao longe ua canção.

Cara à Estrela da Fartura
arregala os olhos teixos
o remador da falua.

Bate à noite o coração
lembranças, saudades, bágoas...
—"Ai amor; ai amor; ai amor!..."


Cruzeiro

Trivium, encruzilhada
do Infinido.
Cara a Ti vão, Senhor,
os três hirtos caminhos.
Um serpêa os beirales
dos desacougos místicos
que fão do amor um pasmo
e fão do pasmo um rito
e matinam de cote
no Deus Único e Trino.

Outro, rudo, flagela
nosso corpo cativo, arelando se ceive
o esprito.
Eu vou polo vieiro
na terra frolecido
e vejo-te, Senhor,
ao pé de cada esquivo
penedo, percorrendo
o celme em cada pino,
bulindo em cada verme,
choutando em cada ninho,
pinchando-te nos tojos,
bicando logo os pinchos,
pegureiro do monte
c'o armentio,
nas mourenças do mar
marinho,
nos sinos e nas ervas
saudoso e lírico,
na fartura dos vales
trocado em pão e vinho...

Senhor, que bem me amostras
o carreiro alcendido
c'os teus braços de pedra,
tam feridos,
apreixando a campía
neste trivium!


Si cadra um dia em ti

Si cadra, um dia, em ti, como em num sono,
mergulho-me, ouh estrana e vaga história,
que inda estás por contar em verso antigo,
Deus sabe em que farândola remota!

Que olhos remedarão o meu fasquio?
Meu nome sortirá de cales gorjas?
Que verbas eu direi que não se esqueçam
naqueles peitos e naquelas bocas?

Queçais, exempro pra seguir nalgures,
vivirei num castelo ou nua cova,
cuberto de paxiãos e de desejos,
preada bem por corvos, bem pra pombas.

Serei tirano como un rei antergo,
ou triste como um deus de fé ja morta...
Que veus lhe botarão ao meu esprito
e que feixes de luzes ou de somas!

Que coração me pintarão soberbo
e cales manhas me darão treidoras!
Dos beiços dos poetas moribundos
que versos sairão à minha conta!

Si cadra, um dia, em ti, como em num berce,
volvo a vivir, estrana e vaga história.
E assegúm quem che cante, eissi serei
dor para santos, risa para idiotas.


Lectura autumnal

Na serã escalaçada
remanece o meu fastio
no azul dos tolhe-merendas
e no marelo dos vímbios.

Na brétema se arrandêa
meu coração esquencido,
mentras o orvalho destece
os contornos fugitivos.

Cando queiras podes vir,
feliz ensono perdido,
que a luz ja vai debecendo,
das mãos escorrega o livro
e na fiestra, embaçados,
choram docemente os vidros...


Diante do mar de Cambados

O canistrel de méstos lumiares
que na serã calada se derrama,
todo luz, todo ouro, todo flama,
enveja de sol-pores e de mares,

prelúdio é dos pálidos luares
com que na noite a praia se recama,
em tanto a onda em paxião ama e desama,
envolveita nas névoas tutelares...

Ria de Arousa, grávida de côres,
serêa dos atlânticos amores
que acarinhache a minha infância ingela,

fai-me un recanto no argacento colo,
um sártego onde durma ao teu arrolo
no mais esquivo côm da tua orela!.

 

 

 


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