Mares de queijo

Ramiro Vidal Alvarinho

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Aquela fita de Primus a sonar naquela noite de fumarada, com o livro de Ecologia Social acima da cama,

A saborear a aventura do baixista remando numha galerna de queijo líquido

Parecia, nom lembras? Pedir auxílio desde o som sujo do velho alto-falante, como a piques de se afundir…

Nós também eramos náufragos em decadentes experiências post-hardcore

Nunca fomos discípulos de Mr Brett e Straight Edge só era umha cançom

Jello Biafra era um alfaiate que trabalhava fatos frenéticos para cançons políticas de mais

As cruzes gamadas eram trofeios de guerra convertidos em produtos de lenceria

O punk era um estertor contínuo e o hardcore umha destilaçom impossível

Parecia, nom lembras? Que a adolescência ia ser eterna.

Parecia, nom lembras? Que as drogas eram um manifesto.

Já há tempo que acordei emporcalhado daquele sonho. Cheguei a conclussom de que o punk é umha regiom do nosso ser.

Nom paga a pena arrepentir-se; eu nom o faço. Foi só o momento de glória da minha geraçom. Inevitável.

Hoje fica de tudo aquilo… sobretudo umha consigna: "a atitude é o que importa"


E a certeza de que aquela desesperaçom foi a que nos levou ao melhor e ao pior.

Nom nos podemos entender sem a nossa própria decadência.

O punk que levamos dentro é um náufrago desesperado que se afoga no seu mar de queijo.

Se o punk nasceu morrendo é porque a essência do punk é a sua própria crise.

Porque é o exabrupto de quem descobre a merda debaixo da alcatifa do rock and roll.

Porque é o filho deforme de umha cultura desorientada.


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