A expediçom luso-dinamarquesa ao noroeste atlântico: alcançárom América os Portugueses antes do que Colom?

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Segunda parte

 

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E. O REI DE PORTUGAL QUE ALENTOU A IDEIA

     Aclarada esta questom, e sabedores já de que o avô do monarca dinamarquês Christian III, em cujo reinado afirma Carsten Grypp que tivo lugar a expediçom, foi Christian I, tentemos conhecer agora quem pudo ser esse rei de Portugal, a convite do qual foi aquela levada a termo.
     O referido Christian I reinou em Dinamarca de 1 de Setembro de 1448 a 21 de Maio de 1481, data do seu passamento (1). Pois bem, em Setembro de 1448, o rei do vizinho país era Afonso V, moço ainda de dezasseis anos, acabado de sair dumha difícil minoria de idade. O mesmo que posteriormente chegaria a ser conhecido como «O Africano».
     Por umha mais que surpreendente coincidência, Afonso V morreu também no mesmo ano que o monarca dinamarquês, concretamente a 28 de Agosto de 1481. Quer dizer, três meses depois (2).
     Como consequência, nengum outro rei português pudo ter ocasiom de entrar em tratos com Christian I. Lembremos a este respeito que Afonso V lhe enviara ao dinamarquês com data de 11 de Julho de 1461 umha carta por mão de Herolden Lolland. O retorno de Lolland à Dinamarca pudo ter servido para estreitar as boas relações que parecem haver existido entre ambas as cortes, dado que no documento este aparecia expressamente reconhecido como «passavante» ou «mensageiro» do seu Senhor. O conteúdo da missiva, porém, nom nos autoriza a pensar, como aventura Sofus Larsen, na possibilidade de que pudesse ter sido este passavante portador de algumha proposta relacionada com a exploraçom que estamos a estudar (3).



F. OS PROTAGONISTAS DA EXPEDIÇOM

     Ocupemo-nos agora dos navegadores que, segundo Carsten Grypp, «fôrom providos de alguns navios polo augusto avô da Vossa Majestade, o Rei Christian I, para procurarem novas terras e ilhas nos mares do Norte».


     F.1 HANS POTHORST

     A figura de Hans Pothorst vai ineluctavelmente unida à de Didrik Pining, polo que nos vamos ocupar aqui nada mais que dos aspectos biográficos do primeiro que som diferentes dos do segundo.
     A investigaçom actual considera que Pothorst deveu de nascer na Alemanha (4), arredor do ano 1440, e que morreu, também possivelmente, antes de 1493.
     Um facto devidamente contrastado já é o de que em 1484 passou, também em uniom de Pining, ao serviço de Jacob de Oldenburg, sobrinho de Christian I, participando como corsário, e depois como soldado, na guerra naval anglo-dinamarquesa de 1484-90 (5).
     Deveu de ter-se estabelecido nalgum momento da sua vida na vila de Helsingor, já que aparece representado, com o seu escudo de armas, numha das abóbadas da nave lateral sul do convento carmelita desta cidade, hoje igreja de Santa Maria. Um lugar da mesma que estava reservado aos benefactores importantes. O texto que acompanha a representaçom indica que foi ele quem sufragou as obras de construçom das abóbadas. Assim mesmo, o conteúdo da pintura, que se considera posterior a 1493, parece dar a entender que morreu no mar (6).
Figs. 11a e 11b
O centro de Helsingör, Dinamarca, contemplado do peirao do sudeste. Atrás do barco vê-se a igreja de Santo Olaf e, no limite da direita, umha das torres da de Santa Maria, numha de cujas abóbadas aparece esta imagem de Hans Pothorst. O controverso navegador sufragou do seu pecúnio as obras das abóbadas do templo, na altura um mosteiro carmelita.



     F.2 DIDRIK PINING

     Tanto ou mais obscuras e controversas que as de Pothorst som as contadas informações que acerca de Didrik Pining existem. O sempre bem informado Paul Hermann considera a ambos como alemães ao serviço da coroa dinamarquesa (7). E inquirindo no apelido estima-se também que Pining deveu de ter nascido em Hildesheim, quiçá antes do ano 1450.
     Dados firmes da sua biografia, em troca, som os factos de ter sido governador da Islândia entre 1478 e 1490, e que, além de ter estado ao serviço de Jacob de Oldenburg, junto com Pothorst, e participado como corsário, e depois como soldado, na guerra naval anglo-dinamarquesa de 1484-90 (8), no ano 1487 mandava umha secçom da frota dinamarquesa na guerra contra Sten Sture «O Velho», regente da Suécia. Nesta ocasiom Pining conseguiu ganhar Gotland para Dinamarca (9). Esse mesmo ano fôrom-lhe concedidos honores entre a nobreza norueguesa, segundo aparece reflectido no Rigsarkivet (Arquivo Nacional) (10).
     A sua estadia na Islândia coincide com o esmorecimento das viagens comerciais inglesas à ilha, começadas a princípios de século. Este intercâmbio, nem sempre pacífico, assim como os enfrentamentos entre ingleses e alemães na própria Islândia, encontram-se aceitavelmente documentados, e fôrom estudados por Bjorn Thorsteinsson (11):
     Há constância documental da concessom de licenças para trafegar com a ilha para naves procedentes principalmente de Bristol, Hull e Darmouth, além de um número mais reduzido para outras com base noutros portos. Tanto estas, como as que simplesmente pescavam, partiam da Inglaterra entre os meses de Fevereiro e Maio, para retornar de Julho a Setembro, com peixe fresco, assim como linho, falcões e enxofre. E existem, igualmente, numerosos documentos e denúncias que se ocupam de alguns dos muitos navios nom autorizados que realizavam a mesma actividade.
     As relações entre ingleses e islandeses nom fôrom todo o boas que deviam em circunstâncias que se presumiam nada mais que mercantis. Estám documentados saques britânicos, roubos, e mesmo ataques armados, num dos quais, em 1467, chegou a perecer o governador Bjor Thorleifsson.
     Assim mesmo, nos anos 1471, 1474 e 1475, várias naves inglesas que navegavam ilegalmente à Islândia atacárom e roubárom as cargas de dous comerciantes da Hansa, sendo umha das testemunhas de umha das acusações que contra aquela se formulárom, o próprio governador, Henrik Daniel. A Hansa fora autorizada a comerciar com a Islândia por Christian I no ano de 1468, sob a condiçom de que as suas naves nom invernassem na ilha (12). Assim mesmo, em 1477, umha nave hamburguesa atacou outra inglesa, de Hull, nas imediações da vila de Hafnarfjordur, o principal porto da Islândia, muito próximo de Reykjavik.
     Esta breve digressom conduz-nos abertamente ao limiar do ano 1478, data em que parece que, pola primeira vez, foi nomeado Pining governador da Islândia. Ignoramos se por iniciativa própria —era de procedência alemã—, ou por imposiçom do seu próprio monarca —estava-se a dar umha tensa situaçom que acabaria pouco depois em guerra aberta entre Dinamarca e Inglaterra—, o certo é que o seu mandato coincide com o incremento do comércio da Hansa na ilha, à custa do inglês. É possível que o relatório de Olaus Magnus de que na Islândia existia um corpo de guardas montados (13), corresponda a este tenso período.
     O restabelecimento do velho equilíbrio mercantil nom voltará senom como consequência da paz assinada polos monarcas Hans I da Dinamarca e Henry VII da Inglaterra, no 20 de Janeiro de 1490, em que se resolveu que os ingleses pudessem comerciar de novo directamente com a ilha. O facto precede nuns meses a nomeaçom de Pining como Governador de Vardohus, ou fortaleza de Vardo, situada numha ilha do extremo nordeste da Noruega, mais além do Círculo Polar; a praça forte mais setentrional de todo o planeta.
     Antes de deixar o cargo, no 1 de Julho desse mesmo ano, Pining promulgou a sua famosa lei sobre o comércio, que parece referendar outra sua do ano anterior: «Decretamos que os alemães e os ingleses têm de guardar a paz entre eles aqui na Islândia, enquanto estiverem em porto, por a autoridade real nom poder ser exercida se eles nom guardam a paz entre si, usando cada grupo os portos que lhes convenha. Que nom se negoceie com os que rompam a paz, e que paguem a multa acima indicada» (14).
     O facto aparece confirmado por umha testemunha um tanto atípica. No ano 1625, o compilador britânico Samuel Purchas publicou umha monumental obra sobre descobrimentos e navegações, em que aparece a seguinte informaçom, tomada, segundo indica, de um livro de contabilidade das ilhas Faeroe, cem anos anterior:
     «Punnus e Potharse vivêrom também algum tempo na Islândia e às vezes saíam ao mar, e faziam o seu comércio na Gronelândia. Punnus deu aos islandeses as suas leis e mandou pô-las por escrito. Som as chamadas Leis de Punnus.» (15)
     Punnus e Potharse som a versom inglesa de Pining e Pothorst. Importa que advirtamos a especial relevância que os vizinhos feroeses parecêrom dar-lhe a estas oportunas leis, que, polo que a História nos informa, fôrom promulgadas imediatamente antes de Islândia conhecer um longo período de prosperidade. Nom é menos importante o facto de que esse livro de contabilidade, quase coetâneo da promulgaçom das mesmas, soubesse também que tanto Pining como Pothorst viveram «algum tempo» na Islândia e que comerciavam na Gronelândia.
     É bem sabido, por outro lado, que apenas contamos com registos documentais que referendem a existência de contactos com os estabelecimentos nórdicos nesta ilha ao longo do século XV. Estes reduzem-se aos testemunhos de vários islandeses que estivérom na Colónia Oriental, em 1410, a possível visita do geógrafo dinamarquês Claudius Clavus, com anterioridade a 1425 (16), ou às referências indirectas do tratado com Inglaterra de 1432. Porém, existem provas que demonstram que houvo sempre umha relaçom estreita e constante com a afastada Gronelândia.
     Estas fôrom achegadas pola exumaçom dos túmulos do assentamento Oriental. Neles aparecêrom puchas arredondadas com a crista plana, assim como chapéus, cúfias e carapuças das chamadas «liripipe», que se dependuravam às costas, comercializadas no velho continente a princípios do século. Mas, onde eles, havia também gorros borgonhões, generalizados na Europa arredor do ano 1475, bem como puchas cónicas das que se erguem sobre a fronte e se alargam na nuca, moda na França do reinado de Luís XI (1461-83), e no do seu filho Carlos VIII (1483-98). E encontrárom-se também vestidos com várias dobrezes cosidas à altura da cintura, um deles com decote em "V", moda também de finais do século XV na Europa (17).
     A presença destes produtos europeus significa que houvo constantes intercâmbios comerciais entre o velho continente e Gronelândia. A cronologia destes achados permite considerar, assim mesmo, que estes intercâmbios se dérom também durante os anos nos que Pining foi Governador da Islândia, polo que mui bem pudérom alguns ter sido realizados por ele, tal como afirma o informe feroês, e que continuárom depois de 1490, data na que o deixou de ser.
     Ignora-se se o facto de ser destinado entom a um lugar tam afastado como Vardo, pudo ser umha concessom às demandas de Henry VII, por considerá-lo pessoa escasamente proclive aos interesses ingleses. Um prémio, é claro, nom parece. Tampouco sabemos com exactitude que lhe pudo ter acontecido depois. Nom há constância de que o seu novo destino se tivesse prolongado sequer um ano mais (18).
     No verão seguinte chegárom confusas novas à Islândia, através dos marinheiros alemães e ingleses que visitavam o país, que asseguravam que o seu antigo governador morrera no estrangeiro (19). Nesse momento fora nomeado já outro personagem para o desempenho do cargo (20).
     Através destes fragmentários relatórios parece claro que tanto Pining como Pothorst actuárom como corsários ao serviço da coroa dinamarquesa, cousa que, por outro lado, e por necessidades de Estado, faziam quase todos os homes de mar de qualquer país. Assim mesmo, pode-se estimar que Pining deveu de ver-se na necessidade de actuar com certa energia nos conflitos gerados na sua jurisdiçom, tanto pola actuaçom da Hansa, emtom emergente, como pola prepotência com a que, até aquele momento, se vinheram conduzindo na Islândia os ingleses. Mas deveremos considerar também como um facto bastante provável, por proceder o informe de pessoas neutrais, que nengum interesse devia ter em deturpar a realidade, a opiniom feroesa de que ambos comerciárom com Gronelândia.
     Mais duvidosas já, ainda que nem por isso em absoluto rejeitáveis, parecemnos as opiniões de Olaus Magnus e Hyeronimus Gourmontium, que os consideram nada mais que piratas (vide notas 16 a 20 da primeira parte deste Estudo). Os diversos cargos que ostentou Pining, o seu enobrecimento, esse mesmo informe do livro de contabilidade feroês, e, por cima de todo, o disparatado que supõe convertir o inabitável e distante ilhéu de Hvitserk na sua base de operações (21), concedem-lhe escassas probabilidades de verossimilhança a esta opiniom sobre a última parcela da sua vida.
     Por outro lado, através dos precários dados que se conhecem, parece que se pode situar o momento do seu passamento, ainda que com muitas reservas, arredor do período 1491-92 (vide também o comentário da nota 10 da primeira parte). Por isso temos de olhar com cepticismo tanto o informe recolhido por Olaus Magnus de que a utilizaçom de Hvitserk por parte de ambos começasse em 1494, como que as queixas de alguns comerciantes a respeito da sua actuaçom contra eles se alongassem nada menos que até 1499 (22).
     As dúvidas acerca do último período da vida destes homes, porém, a causa de tantas contradições, persistirám sempre. Mas sejamos práticos. Tal período da vida destas personagens é posterior já à morte de Christian I, encontrando-se, portanto, fora da cronologia da viagem que estamos a estudar. O que a estes efeitos nos deve de importar realmente é nada mais que saber se contamos com motivos para os poder relacionar, tanto histórica como geograficamente, com a área do noroeste atlântico na que tivo lugar a expediçom por eles comandada. E, através da opiniom generalizada que acabamos de examinar, parece clara a presença de Pining, polo menos a partir do ano 1478, na Islândia, e, num momento ainda nom determinado, também a de Pothorst.

Fig. 12
Bessastadir, situada a escassa distância ao sul de Reykjavik, é na actualidade a residência oficial do Presidente de Islândia. Na Idade Média, em edifícios entom de muita menor entidade, era-o dos governadores da ilha. Nela residiu Didrik Pining quando ostentava este cargo. No canto, reproduçom do seu selo.



     F. 3: A CONTROVERSA ROCHA DE HVITSERK

     Ordenando-se de jeito cronológico, os relatórios que acerca deste lugar, tam estreitamente relacionado com estes navegantes, pudemos encontrar som os seguintes:

1482: Mapa publicado em Ulm por Donnus Nicolaus Germanus com a sua ediçom da Geografia de Ptolomeu. No extremo meridional da Gronelândia, nele chamada «Engronelant», aparece umha ilha costeira que denomina «Vidisareter». (23)
1532: O humanista bávaro Jacob Ziegler publica em Strasburg o seu mapa Schondia, ou territórios escandinavos, acompanhado dumha exposiçom histórica (24).
Dentro da simplicidade do desenho, observam-se nele dous pontos clarissimamente ressaltados: um no ocidente da Islândia, o «Hekelfol Promontorium», o outro, frente ao mesmo, na costa oriental gronelandesa. Trata-se do perfil dumha montanha, a que denomina «Hvetsardk Promont.» (25)
1539: A «Carta Marina», de Olaus Magnus Gothus, mostra, sob a denominaçom de Hvitsark, o desenho dumha rocha gigantesca, muito semelhante à anterior, a meio caminho entre o extremo norocidental da Islândia, e o que parece ser a ponta meridional da Gronelândia. O penedo encontra-se quase oculto sob umha figura de três grandes circunferências concêntricas, com dezasseis raios, o que fai pensar numha representaçom da rosa dos ventos.
Na secçom B do texto de apoio indica-se que os gronelandeses som uns expertíssimos navegantes que, nas suas embarcações de pele, atacam, se apoderam e afundam a machetaços as naves (26).
A «Opera Breve», um folheto publicado no mesmo ano polo próprio Olaus para um mais ajeitado manejo do mapa, denomina a referida figura «uno horlogio»... «con lettere de piombo», —um relógio... com letras de chumbo—, e considera Pining e Pothorst como «pirati dil mare».
Na sua «Ain kurze Auslegung und Verkleeung», umha traduçom bastante livre ao alemám da «Opera Breve», o «horlogio» aparece tranformado no que parece mais lógico: «ayn pley compast», «um compasso» (27).
Ambos os folhetos afirmam que este sinal servia para advertir os navegadores dos perigos das ribeiras da Gronelândia, e acrescenta-se que os indígenas tinham por costume perfurar sob a linha de flutuaçom os navios que atacavam (28).
1548: Os mapas de Islândia de Hieromymum Gourmontium situam a escassa distância do extremo noroeste desta, umha ilha de paredes quase verticais, iconograficamente semelhante tanto à de Ziegler como à de Magnus, na parte central da qual figura também a tripla circunferência. Mas, com diferença à «Carta Marinha», esta contém quatro raios que sinalam os quatro pontos cardeais. Sobre elas aparece a linha incompleta da linha de um compasso.
O texto sobre Pining e Pothorst, do que nos ocupamos no apartado C, encontra-se sob a ilha.
1551: Na sua carta ao rei Christian III, Carsten Gripp, afirma que nos mapas por ele encarregados consta que:
«No penedo de Wydthszerk, diante da Gronelândia, mesmo frente a Sniefeldsiekel, na Islândia, erguérom —Pining e Pothorst— um grande marco, —«eyn groidth baa»—, virado para o mar, por causa dos piratas gronelandeses que, em grande número, com muitas pequenas embarcações sem quilha atacam de improviso os navios».
1555: A «História de Gentibus Septentrionalibus», de Olaus Magnus, refere que Hvitserk é umha «rocha alta». Um gravado que aparece na mesma mostra um compasso de grandes dimensões no «Mons Hvitserk» . Indica assim mesmo Olaus Magnus que neste «Mons Hvitserk» é onde se instalárom no ano 1494 Pining e Pothorst, logo de serem desterrados a causa dos seus actos piráticos (29), e repete o facto de afundar as naves utilizado polos gronelandeses residentes nas suas imediações (30). Nom relaciona, porém, com estas acções a colocaçom do gigantesco compasso, agora com linhas e círculos de chumbo (31), mas com a pirataria de Pining, já que, segundo ele, servia para indicar até onde os navegantes podiam chegar (32).

     Existem, pois, acusadas diferenças acerca da ubicaçom deste acidente geográfico. Nom as há, porém, a respeito da sua morfologia, já que parece generalizada a opiniom de que se trata de um lugar elevado. Mas, dado que a metade da distância entre Islândia e Gronelândia nom existe terra ou ilha nengumha, podemos simplificar o debate rejeitando já, de entrada, quantos informes a situem neste ponto.
     Polo contrário, Jacob Ziegler sabe que Gronelândia significa «Terra Verde» (33), denomina «Terra Bacalhaus» à sua parte meridional (34), e situa o Promontório de Hvitserk na costa leste da ilha, debuxando ao mesmo tempo o seu perfil. Assim mesmo, Carsten Grypp é conhecedor da proximidade deste à Gronelândia, frente ao islandês Sniefeldsiekel, —que nom é outro que a destacada península de Snaefellsnes— , no extremo da qual se ergue o coruto do glaciar Snaefells, de 1446 m de altura. Este topónimo, desconhecido tanto por Olaus Magnus como por Gourmontium, foi sempre umha referência de primeira magnitude para as naves que se encaminhavam à Gronelândia (35).
     Para tentar localizar este acidente nom fica mais remédio que deitar mão das antigas régulas de navegaçom dos Viquingos, reelaboradas polo arcebispo Erik Valkendorf, a princípios do século XVI, com a intençom de localizar as velhas colónias gronelandesas. O próprio Jacob Ziegler coincidiu com este prelado em Roma no período 1522-23, obtendo do mesmo avondosa informaçom para a sua obra sobre Schondia, segundo confessa na introduçom à mesma (36), polo que a localizaçom que lhe concedeu no seu mapa muito bem pudo ter sido devida a este intercâmbio.
     A citada reelaboraçom precedeu em varias décadas a carta de Carsten Grypp. Vejamos o que a mesma contém, com Hvitserk relacionado:

«Situando-se a sul do Brede Fiord, na Islândia, tome-se rumo oeste até avistar "Hvidserch", na Gronelândia. Entom colha-se o rumo do sudoeste, até "Hvidserch" ficar ao norte».

     O «Brede Fiord» é o actual Breidafjörd, o golfo situado a norte da península de Snaefellsnes, à que Carsten Grypp, que escreve em antigo Baixo Alemám, denomina Sniefeldsiekel. E é claro que Hvitserk se encontra a oeste desta península (sul do Brede Fiord).

«A meio caminho entre a Gronelândia e a Islândia, com tempo claro e límpido, verám-se montanhas muito elevadas, chamada Sneffelss Jochell, a situada na Islândia, conforme dixemos já, e "Hvidserch" a da Gronelândia» (37)

     Esta outra indicaçom situa já inequivocamente Hvitserk na Gronelândia, pontualizando ao mesmo tempo que, navegando para ocidente, em linha recta, desde Snaefellsnes, no extremo da qual se ergue o Snaefelljökul, com 1.446 metros de altura, e antes de perdê-lo de vista, enxergará-se a proa, frente ao mesmo, Hvitserk, umha das grandes alturas da ribeira gronelandesa. Umha referência que nengum piloto podia deixar de utilizar para salvar os 600 quilómetros que em linha recta separam ambos os acidentes.
     A referência conduz-nos abertamente à área das actuais Angmagsalik e Kap Dan na latitude 65° 35'. A primeira é umha ilha costeira de grande extensom e acusado relevo, com umha altura máxima de 1.352 metros, coberta de gelo, de rango apenas inferior ao do Snaefellsjökull, capaz portanto de converter-se noutra referência da necessária entidade. Em quanto ao Kap Dan, é o extremo meridional da pequena ilha de Kulusuk. Trata-se de umha rocha em forma de cúpula, de 350 metros de elevaçom, situada na mesma linha de observaçom que as alturas de Angmasalik, às que precede, próxima, assim mesmo ao monte Qalorujôrneq, de 660 metros, na propia Kulusuk (38).
     Existem também alturas bastante mais acusadas que estas, ainda que ligeiramente mais ao interior e ao norte da área resenhada (39), capazes de ser vistas desde o mar. Mas o facto de que em Hvitserk se situem tanto o Sinal como o refúgio de Pining, assim como o ataque dos indígenas gronelandeses, parece apontar a que a ignota rocha se encontrava em plena costa. E dado que Kulusuk é o primeiro lugar ao que tem de aceder qualquer embarcaçom que chegue de Islândia, e de que a sua morfologia se corresponde com a estrutura mais generalizada entre os geógrafos que de Hvistserk se ocupárom, temos de considerar esta pequena ilha como a sua mais possível localizaçom. Tanto Kulusuk como Angmagsalik som, além disso, dous dos escassísimos pontos desta difícil ribeira utilizáveis por embarcações, mesmo no outono.
     E se, como se indica na primeira das normas resenhadas, umha vez enxergado desde longe Hvitserk, se toma o rumo sudoeste, este ponto de referência situará-se efectivamente, ao norte, à popa da embarcaçom.
     Lembremos também, que o recrudescimento climático foi causa de acontecimentos de grande relevância para as colónias nórdicas de Gronelândia, entre eles o da modificaçom, cerca do ano 1300, da disposiçom dos seus edifícios, para umha melhor conservaçom do calor (40).
     A mudança deu origem também a umha importante migraçom esquimó. Este povo permanecera até entom instalado no norte da ilha, mais além do paralelo 76°. A precariedade climática, que levaria as focas a procurar-se latitudes mais meridionais, fizo-o ter de iniciar um seguimento destas, ao longo da linha costeira, arredor do ano 1200 (41).
     Quase um século antes de que Pining e Pothorst tivessem visitado Hvitserk, chegárom a ela os Esquimós. Tratava-se de esquimós da cultura Thule, que logo de terem ocupado, e quiçá destruído, Vestribyggd, a Colónia Ocidental, e pressionado sobre Eystribyggd, a Oriental, ultrapassaram o cabo Farvel a leste para se estabelecer na área de Angmagsalik, nas inmediações da qual, como acabamos de ver, parece que se encontrava o tam debatido Hvitserk (42).
     Fôrom eles, tal como refere Olaus Magnus, confirmando ao mesmo tempo a opiniom de Carsten Grypp, os que atacavam as naves, em Hvitserk ou nas suas proximidades, entre elas, possivelmente também as de Pining e Pothorst, utilizando os seus caiaques de peles.
     Aclarado isto, cumpre que falemos já do tam discutido sinal que se afirma situárom Pining e Pothorst em Hvitserk. Apesar das diferentes interpretações que sobre a sua condiçom e finalidade existem, a natureza destas, assim como os próprios desenhos que sobre ele nos fôrom transmitidos, inclinam a pensar que deveu tratar-se de um compasso. Contamos, além disso, com umha testemunha que, ainda que mais de um século posterior ao tempo que estamos a analisar, parece confirmar esta apreciaçom. Trata-se do diário de Sigvard Grubbe, personagem que em 1599 acompanhou o monarca dinamarquês Christiam IV (1588-1648), na sua viagem à fortaleza de Vardö, na extrema nororiental da Escandinávia:

«12 de maio: Dobramos o Cabo Norte, na cima do qual há um compasso metido na rocha».

     Ou seja, que o facto de que Hvitserk contasse na sua parte alta com um compasso, colocado, ou gravado, e, se acaso, com letras ou linhas de chumbo, como quer Olaus Magnus, nom se trata de um caso único. O próprio Sigvard Grubbe, autor desta anotaçom, sabe além disso que o tantas vezes aqui referido Pining fora comandante da fortaleza de Vardö, situada aproximadamente a dia e meio de navegaçom do Cabo no que acabavam de advertir este compasso (43).
     O Cabo Norte é um destacadíssimo acidente; um enorme promontório chão que sobrepassa os 300 metros de altura. Lembremos o que já em parte referíamos na nota 10 da primeira entrega acerca de que esse cargo de Pining levava aparelhado o de «Lensherre», ou governador do condado, do que Vardö era entom cabeça. Quer dizer, do actual Finmark, ao que o Cabo Norte pertence. Significa isto que este outro compasso, ao parecer semelhante ao de Hvitserk, pudo ser também da autoria do antigo governador de Islândia?
     Evidentemente, nom contamos com provas suficientes para nos pronunciar. Em todo o caso, a analogia da existência dum compasso num ponto tam especialmente sinalado para a navegaçom como é o Cabo Norte, situado em território sob a dependência de Didrik Pining, confere-lhe muitas possibilidades de que poda ser obra sua, pois que sabemos que colocara outro semelhante noutro lugar de características tam relevantes como as do primeiro, como é o caso da rocha de Hvitserk. Nom se prodigava, porém, este tipo de sinais, ao parecer, daquela. Polo menos nom hai testemunhos da existência de nengum outro, o que incrementa as probabilidades de que ambos tivessem a mesma paternidade.
     Discute-se assim mesmo acerca da sua finalidade. De que jeito poderia o compasso de Hvitserk advertir os navegantes acerca do perigo tanto das ribeiras gronelandesas como dos piratas esquimós, ou da suposta pirataria do mesmo personagem que ali o colocou (44), tal como se tira dos informes que possuímos? Tinha capacidade para iguais, ou parecidas utilidades o compasso do Cabo Norte?
     Tampouco temos respostas contundentes para estas perguntas. À hora de decidir-nos por umha plausível aplicaçom prática para estas instalações, ainda sem esquecer as apontadas por Olaus Magnus e Carsten Grypp, parece que nom se deve rejeitar a possibilidade que a este respeito aventura Sofus Larsen:

«Parece-me bastante provável que Pining tenha mandado colocar estes sinais num sítio visível do mar, para atestar que a respectiva ilha, e o continente que lhe ficava por detrás, não eram terra sem dono». (45)

     Resulta altamente problemático, como já dixemos, que a ilha Kulusuk, ou algum ponto imediato desta perigosa geografia, pudesse ter servido a Pining e Pothorst para algo distinto que nom fosse como escala ocasional para o comércio que, segundo aquele livro feroês, praticavam com Gronelândia. Nengum deles apresenta a devida garantia para montar umha base estável, como a que se pretende que tivérom ambos. O próprio Olaus Magnus lembra-nos no capítulo 10 —«De naufragiis Gruntlandiae»— do segundo libro da sua «Historia de Gentibus Septentrionalibus», as terríveis galernas que, especialmente durante o tempo da Lua cheia, afectam esta costa (46).

Fig. 13
Assim representou Hieronymus Gourmontium a Hvitserk e o seu compasso num dos seus mapas da Islândia publicados em Paris no ano 1548.

 

Fig. 14
Hvitserk, tal como aparece no capítulo XI da Historia de Gentibus Septentrionalibus do norueguês Olaus Magnus, editada em Roma no ano 1555. Observe-se a luita de um branco com um pigmeu. O desenho que figura na rocha, se nom o compasso de que se fala no texto, lembra a rosa dos ventos.

 

Fig. 15
A distância entre a vila de Angmagsalik e a ilha de Kulusuk é de 19 km. en linha recta. A vila de Angmagsalik, desde o sul. A bahia tem aqui mais de três quilómetros de ancho. O cume do fundo, o Polhems Fjeld, a uns 9 quilómetros de distância, alcança 1.030 metros.




G. A DATA DA EXPEDIÇOM

     Conhecidas as precedentes circunstâncias, cumpre tentemos situar no tempo a expediçom objecto deste trabalho. E sabendo que Christian I, em cujos tempos foi efectuada, estivo no trono desde 1448 a 1481, estes «terminus ante quen» e «post quen», servem-nos ainda que nada mais que de jeito aproximado, para enquadrála sem nengumha classe de temor entre ambas as datas.

     G.1: A EXPEDIÇOM EM TEMPOS DE DOM HENRIQUE?

     Por outra banda, o reinado de Christian I coincidiu também com os primeiros tempos da expansom colonial portuguesa, que, como comentamos, dera começo o 21 de agosto do ano 1415 com a conquista de Ceuta (nota 23 da anterior entrega).
     Em contra da visom simplista que se adoita oferecer acerca desta parcela da história de Portugal, a exploraçom do litoral africano por parte deste país nom tomou ímpeto senom depois do descobrimento e colonizaçom das ilhas atlânticas: Madeira, a partir de 1420, ou Açores, depois de 1427, assim como da concessom ao infante dom Henrique das prerrogativas de administrador da Ordem de Cristo —1420—, e de importantes prebendas económicas entre 1433 e 1446 (nota 29 da anterior entrega).
     Conseguidos estes, as explorações marítimas portuguesas, que apenas tinham atingido até aquele momento a actual Agadir, na África setentrional, ultrapassariam o cabo Bojador já no ano 1434, e, apesar do desastre militar sofrido polo próprio infante em Tânger em 1437, no momento do advento ao trono de Christian I —ano 1448— as suas naves ultrapassavam já o território da actual Guiné-Bissau.
     Mas, ao mesmo tempo, o Infante ocupou-se também do Oceano Ocidental. Umha realidade que muitos autores preferem esquecer:

«Naquele tempo o infante D. Henrique, desejando conhecer as regiões afastadas do Oceano Ocidental, para saber se havia ilhas ou terra firme, além da descrição de Ptolomeu, enviou caravelas a buscar terras»

     Som palavras ditadas na sua velhice ao geógrafo Martin Behaim, por um antigo moço de câmara do Infante, e mais tarde marinheiro, escudeiro, escribão e juiz de sisas: Diogo Gomes (47).
     Mas, pudo haver algum motivo polo que dom Henrique chegasse a se interessar polo inóspito noroeste?
     No ano 1427, o geógrafo dinamarquês, Claudius Clausson, ou Clavus, publicou, ao parecer por encargo do rei Erik de Pomeránia (1396-1439), umha ediçom da Geografia de Ptolomeu, que incluía, pola primeira vez, um mapa da Escandinávia, Islândia e Gronelândia, que parece ter visitado, complementado, pouco depois, com outro ampliado ao oeste da Gronelândia, com comentários (48). Entre eles o que segue:

«A península da ilha da Gronelândia estende-se desde umha terra inacessível ou desconhecida por causa do gelo, que se encontra ao norte. Contudo, os pagãos carélios, como eu mesmo tivem ocasiom de observar, descem a miúdo em grandes turbas à Gronelândia, chegados da outra parte do Polo Norte. Por consequência, o oceano não rodeia a terra firme junto ao Círculo Polar, como todos os antigos autores asseguram, e o nobre cavalheiro inglês João Mandeville não mentiu ao afirmar que da China viera dar a uma das ilhas da Noruega» (Vide nota 17 da anterior entrega).

     O cavaleiro ao que Claudius Clavus se refere podemo-lo considerar, ainda que com certas reservas, como um navegante autêntico. A sua sona, porém, procede da publicaçom a princípios da segunda metade do século XIV de «The Voyage and Travels of Sir John Mandeville, Knight», umha extraordinária obra sua que chegou a fascinar o mundo. Em Portugal foi conhecida como o «Livro das maravilhas».
     Trata-se de um relatório de navegações autênticas, complementado com acontecimentos históricos, costumes, lendas, assim como com a descriçom da longa viagem que afirma ter ele mesmo realizado entre os anos 1322 e 1356, e que, seguramente, nunca chegou a fazer. O relato, bem adoviado com lances de cavalaria e pinceladas românticas, serviu ao mesmo tempo para divulgar alguns conhecimentos científicos respeito à esfericidade da Terra, a habitabilidade da zona tórrida, a possibilidade de navegar os mares austrais com o auxílio de umha estrela antárctica, ou a de atingir um dos extremos do mundo partindo do outro.
     Descreve assim mesmo o reino do Preste Joám, as terras onde estavam as desaparecidas dez tribos de Israel, a ave Fénix, as incríveis riquezas da China e do Egipto, a torre de Babilónia, o Paraíso Terreal, e informa sobre a existência de dragões, serpentes venenosas, ou de seres humanos com umha só perna, cabeça de cam, ou com esta situada no tórax (49).
     Esta surpreendente mistura de mentiras e verdades, especialmente as suas considerações cosmográficas acerca da altura dos pólos e a possibilidade de navegar por eles, produziu um enorme impacto, em parte graças a um razoamento seu da mais estrita lógica:

«E isto pode muito bem ser, apesar de também ser verdade que gente simples não quere acreditar, que se possa andar pelo lado debaixo da Terra, sem se caír para o firmamento» (50).

     A credibilidade que entom se Ihe outorgou aos escritos de John Mandeville, constantemente reeditados, influiu de jeito decisivo na concepçom cosmográfica de finais da Idade Média e princípios da Moderna.
    Os predicamentos tanto desta obra como do mapa de Claudius Clavus, que dom Henrique nom pudo deixar de conhecer, podem ser mais que suficientes para justificar a montagem de umha expediçom como da que Garsten Grypp nos dá conta. Mesmo poderia falar no seu favor o facto de que Herolden Lolland, «passavante» ou «mensageiro» de Christian I, chegara a tomar parte em Outubro de 1458 na conquista de Alcácer Ceguer, perto de Tânger, sob as ordens do próprio Infante (Vide o apartado D).
     Ora bem, a possibilidade cronológica de que a exploraçom de Pining e Pothorst se tenha podido realizar em vida de Dom Henrique, descansa no facto de que consideremos infundada a «estima» que fam os analistas de que o primeiro tivesse nascido arredor do ano 1450 (51), já que, de ter chegado ao mundo nessa data, no momento da intervençom de Lolland nos assuntos portugueses, Pining nom seria nada mais que um neno ainda.
     Apuremos, porém, todas as possibilidades. Consideremos como tese de trabalho, que o navegante contava com madureza suficiente para comandar a expediçom com anterioridade a esse ano 1458, no que se levou a termo a conquista africana, que absorveu toda a capacidade do reino, tanto antes como depois desta operaçom.
     Mas, ainda que lhe suponhamos umha idade de nada mais que uns 25 anos, na prudencial data estimativa de 1456, vem resultar que no momento no que foi designado governador de Vardö, ano 1490, Pining tinha de contar arredor dos sessenta. Umha idade nom proibitiva para o desempenho do cargo, com certeza, mas sim um tanto improvável, havida conta o afastado e inclemente dessa fortaleza de Vardohus à que foi destinado. E contaria com 64 e 69, respectivamente, no momento no que Olaus Magnus o situa em Hvitserk, e no que certos comerciantes o denunciavam como presumível e tenaz predador marítimo (52).
     Acrescente-se a isto o facto de que, três anos depois da toma de Alcácer Ceguer, morto já dom Henrique, Lolland retornou ao seu país. E ainda que a missiva da que foi portador parece nom ter outra finalidade que a de recomendá-lo diante de Christian I, nela nada mais que se consideram como méritos salientáveis algumhas das suas actuações em África. Nom há referências, nem alusões, que permitam suspeitar que o «passavante» pudesse ter contribuído à organizaçom da comum expediçom que estamos aqui a procurar.

Fig. 16 a e 16b
Vardö, um luxo a 70º 21' 14'' de latitude: 3.200 habitantes, todos os serviços necessários para umha comunidade humana, e um túnel de 3 km que, a 88 m baixo o nível do mar, a comunica com a terra firme e o aeroporto de Svartness. Do seu porto partiu em 1893 o explorador polar Fritjof Nansen com o seu navio Fram. A imagem foi tomada desde o sudoeste. Ao fundo, as ilhas de Reinöya e Hornöya, reserva ornitológica. Em primeiro plano pode-se advertir o «Vardöhus festning» ou «Fortaleza de Vardö», de que foi governador em 1490 Didrik Pining. Construída no ano 1307, foi reformada em 1460 e 1734. No seu interior há umha sorveira, única árvore capaz de sobreviver neste lugar, mui cuidado polas autoridades, que mesmo se dam ao trabalho de o guardarem no inverno. Todos os anos, em 20 de Janeiro, os disparos de um dos canhões da fortaleza encarregam-se de comunicar-lhe aos vizinhos a jubilosa nova da reapariçom do sol no horizonte, após vários meses de noite ininterrupta.


     G.2: A DÉCADA DE 70

     Consideremos agora como acertada a opiniom historiográfica que estima que Pining e Pothorst deviam ser pouco menos que recém nascidos no ano 1448, quando começou o reinado de Christian I.
     Como consequência haverá que supô-los superando também, como pouco, os vinte e cinco anos de idade no momento em que fôrom eleitos para comandar esta missom. Isto reduz o leque das possibilidades cronológicas a nada mais que a década que se inicia em 1470, já que Christian I desapareceu da cena em 1481. Umha maior aproximaçom poderíamo-la encontrar no facto de ser Pining governador de Islândia, e portanto residente nela, em 1478.
     Trata-se esta nada mais que doutra hipótese, porquanto a ninguém se lhe escapa que nom resulta indispensável que Pining tivesse que estar a desempenhar um cargo na ilha para que lhe fosse encomendada a exploraçom. O facto é sinificativo, porém, no sentido de que demonstra que, nessa data de 1478, o «sceppere» gozava da confiança da coroa, o que converte esse momento, assim como os imediatamente anteriores e posteriores, nos que parecem contar com mais probabilidades de ser aqueles nos que pudo ter sido requerido para a finalidade que nos ocupa. Se as estimações biográficas som acertadas, em 1478 o nosso controverso personagem poderia andar polos 30 anos. Umha idade idónea para esta classe de negócios.

     G.3: PROVAS CIRCUNSTANCIAIS

     A «Carta Nautica» de Zuane Pizzigano do ano 1424, ubica a ocidente da Península Ibérica várias ilhas. Interpretar este facto no sentido de considerá-lo como umha prova irrefutável para demonstrar que antes desse ano tivo que haver expedições de descoberta para o oeste, poderia resultar um tanto aventurado.
     Mas, se doze anos mais tarde, o Atlas de Andrea Bianco conhece o Mar dos Sargaços —«Questo xe mar de Baga» (53)—, o que si poderia resultar aventurado seria o negar tal possibilidade. Consideremos isto enquanto lemos o que continua.
     Durante umha visita a Nurenberg, no período 1490-92, o geógrafo Martin Behaim construiu um globo terráqueo em que recolhe as descobertas e explorações portuguesas até entom realizadas. Nele mostra mais de 1.100 topónimos, e avondosa informaçom, anterior tudo, como é natural, à primeira viagem de Cristóvao Colom.
     No que a Islândia se refere, coloca um estandarte com três leões, os da Dinamarca, acompanhado polo seguinte texto:

«Na Islândia encontra-se bonita gente branca; som cristã, e ali há o costume de vender-se os cães por alto preço e dar aos comerciantes, a conta de Deus, os próprios filhos. Também se encontram na Islândia pessoas de 80 anos que nunca comérom pam, nem medra ali o trigo, e em lugar de pam comem peixe seco. Na ilha de Islândia pescam o bacalhau, que é traído à nossa terra» (54).

     Num grupo de ilhas situados ao noroeste desta, —evidentemente Gronelândia— aparece um urso branco perseguido por um arqueiro, seguidos desta explicaçom:

«Hie fecht man weisen valken». «Aqui encontra-se gente branca». (55)

     Som informes em parte coincidentes com os que, várias décadas mais tarde, refere Olaus Magnus nas suas obras.

     G.3.1: JOÃO VAZ CORTE REAL.

     Martin Behaim viveu na açoriana ilha do Faial. E estava casado com Joana de Macedo, irmã do também residente açoriano Jesse von Huertere, o moço, esposo, por sua vez, dumha filha de João Vaz Corte Real, capitám donatário na Ilha Terceira, desde o ano 1474, e da ilha de São Jorge a partir de 1483 (56). João Vaz Corte Real passou a residir no Faial em 1486, onde permaneceria até a sua morte dez anos mais tarde (57). Significa isto que Behaim, mais conhecido em Portugal como Martinho de Boémia, tivo que tratá-lo.
     Deste João Vaz sabemos que fora porteiro maior do Infante dom Fernando, sobrinho, herdeiro e sucessor de Dom Henrique o Navegante. A etapa de Dom Fernando —1460 a 1470, ano em que faleceu—, caracteriza-se polo total abandono da exploraçom marítima iniciada polo seu antecessor (58).
     Porém, quatro anos depois, a sua viúva, dona Beatriz, concedeu-lhe ao fidel João Vaz a capitania de Angra, na Ilha Terceira, segundo consta em documento de data do 2 de Abril do ano 1474, inscrito no Registo do Arquivo da Câmara de Angra, fólio 70 (59).
     Quase cem anos mais tarde, o bacharel e erudito açoriano Gaspar Frutuoso (1522-1591), escrevia umha magna obra, «Saudades da Terra», em seis volumes, sobre os descobrimentos, dedicando dous deles à entom recente história do arquipélago. Trata-se de um meticuloso trabalho realizado sobre bases documentais, assim como com a recolha de testemumhos, especialmente de gente velha, e tradições familiares (60).
     Pois bem, no capítulo 9, do libro VI de SAUDADES DA TERRA, Gaspar Frutuoso, informa-nos do seguinte:

«E vindo o João Vaz Corte-Real do descobrimento da Terra nova dos Bacalhaus, que por mandado del-rei foi fazer, lhe foi dada a capitania de Angra da Ilha Terceira e da Ilha de S. Jorge»

     Semelhante afirmaçom promoveria umha das mais acendidas polémicas da historiografia dos descobrimentos, ainda nom o suficientemente esclarecida hoje, na que, desde logo, nom pretendemos entrar (61). Limitaremo-nos nada mais que a considerar os seguintes aspectos:

1º) Num atlas português de arredor de 1534, —40 anos posterior à morte de João Vaz Corte Real—, que se conserva na Biblioteca Riccardiana de Florença, aparece um ponto da costa americana denominado «Baía de João Vaz» (62).
     Assim mesmo, o atlas lisboeta de Vaz Dourado, publicado em 1571, mais mui possivelmente inspirado, ou polo menos conhecedor do anterior, situa na Terra do Lavrador, umha chamada «Terra de João Vaz», e umha «B. de João Vaz» (63).
     Mais tarde ainda, Cornelis de Jode, na sua documentadíssima carta «Americae Pars Borealis», publicada em Antuérpia no ano 1593, e conservada na Biblioteca Newberry de Chicago, situa no extremo oriental do continente, por ele denominado «Terra de Laborador», onde outros topónimos portugueses, um «Gio de Ioau Vanz» e umha «Terra de Ioau Vanz». A Carta contém também anotações sumamente precisas a respeito das datas das descobertas realizadas por «Corterealis», «Sebastiano Gabatto», e «Iohaune Verazano».
2°) Um filho de João Vaz, Gaspar Corte Real, a respeito do que contamos com avondosa, ainda que incompleta, documentaçom, fizo a sua primeira viagem exploratória polas costas americanas no verão do ano 1500. Pois bem, ainda que estas terras ficavam fora da demarcaçom que o Tratado de Tordesilhas lhe concedeu a Portugal, e de que nengum dos documentos com este descobridor relacionados contenha referências ao seu pai, Gaspar Corte Real viajou, suspeitosamente, polos mesmos lugares polos que o informe de Frutuoso leva o seu progenitor.

     Som os citados, elementos suficientes para que podamos admitir como um facto inegável a participaçom de João Vaz Corte Real numha expediçom ao noroeste, e considerá-lo ao mesmo tempo como umha das fontes utilizadas polo seu parente, Martin Behaim? Pudo ter sido Gaspar quem baptizou estes lugares sob a advocaçorn, e em lembrança, do seu pai?

Fig. 17
O Cabo Norte contemplado da parte sul do seu extremo mais ocidental. Umha rocha de 307 m de queda, coroada por um gigantesco globo terráqueo oco, confeccionado com hastes metálicas, que alcança uns 4 m de diâmetro. Ignoramos se a sua colocaçom guarda algumha relaçom com o compasso supostamente aqui deixado por Pining. O que sim é certo é que o globo se tornou já em emblema do cabo. E ainda que o seu peso supera umha tonelada, quando há vento rijo, gira sobre si mesmo a tal velocidade que parece umha superficie lisa.


     G.3.2: O RELATÓRIO DE OLAUS MAGNUS GOTHUS

     Como já referimos, este prelado sueco ocupa-se, na sua «Historia de Gentibus Septentrionalibus», das grandes galernas que têm que padecer os navegantes na costa oriental da Gronelândia, especialmente no tempo de Lua cheia (64). E pontualiza:

«Som, porém, os portugueses entre os que têm lugar, nestas singulares terras, onde buscam perpetuar a mais que fértil glória da sua estirpe».

     Resulta um tanto surpreendente esta tentativa de vinculaçom dum povo tam meridional como o português com naufrágios e dificuldades nas costas da Gronelândia, porquanto as únicas referências acerca da sua presença nelas se reduzem a:

A) Informe do embaixador de Veneza, Pietro Pasqualigo, testemunha presencial do retorno em outubro de 1501 de umha das naves de Gaspar Corte Real a Lisboa, pola que soubo que, o ano anterior, avistaram outra terra, situada ao norte, à que nom se puderam achegar a causa dos numerosos grandes blocos de gelo que havia no mar (65).
B) O Planisferio Cantino, (1502), que situa umha bandeira portuguesa no leste da Gronelândia, com a seguinte informaçom:
«Esta terra he descober (ta) per mandado do muy esçelentíssimo princepe dom manuel Rey de Portugall a quall se cree ser esta a ponta dasia. E os que a descobriram nam chegárom a terra mais viram Ia e nam
viram senam serras muyto espessas polla quall segum (do) a opinyon dos cosmof(o)ricos se cree ser a ponta dasia» (66).
C) O mapa português do Atlas Kunstmann, da possível autoria de Pedro Reinel (1519?), indica no ponto que se corresponde com a Gronelândia:
«Esta terra vírom-na os portugueses, mas, nom penetrárom nela» (67).
D) Referência de Damião de Gois na sua «Chronica do felicíssimo Rei Dom Emanuel» (1566), na que afirma que Gaspar Corte Real denominou «Terra Viridis» —«Terra Verde»—, á «Terra Nova». (Incluímo-la aqui porque o topónimo pode ser o resultado da translocaçom do nome de «Gronlandia», que tem o significado de «Terra Verde») (68).

     Nengum destes textos apresenta a menor alusom a galernas ou naufrágios. Mais parecem todos eles ter bebido nos informes procedentes da expediçom de Gaspar Corte Real do ano 1500.
     Nom se pode pensar que Olaus Magnus fosse informado acerca das penalidades portuguesas em Gronelândia polo seu amigo Damião de Gois, com quem tivo tratos em Itália (69), pois que este ignora tais circunstâncias. Nem sequer as pudo conhecer através do informe de Pietro Pasqualigo, do «Planisferio Cantino», ou do Atlas Kunstmann, que também as desconhecem.
     Descartado que a referência tenha podido ser fruto da imaginaçom do prelado sueco, e ainda que nom contemos com textos que se ocupem explícitamente do caso, parece que encontramos aqui indícios da existência de algumha, ou algumhas, viagens portuguesas à área de Gronelândia, distintas da de Gaspar Corte Real, e que devêrom ser estas hoje indocumentadas expedições as afectadas polas galernas.
     Por outro lado, e ainda que escreveu com bastante posterioridade —entre 1539 e 1555— Olaus Magnus parece desconhecer essa semifrustrada expediçom de Gaspar Corte Real a Gronelândia. Por outro lado, as suas obras fôrom publicadas num momento de marcada preocupaçom na Escandinávia acerca da situaçom das colónias Gronelandesas, com as que se perdera já todo o contacto. Lembremos os projectos do arcebispo Erik Valkendor, e as suas régulas de navegaçom. Ao deste prelado vêm-se acrescentar os documentos descobertos por Louis Bobe, dos anos 1520, 1521, 1528 e 1533, que se ocupam dos preparativos doutra expediçom de ajuda, que nunca pudo ser levada a termo (70).
     A investigaçom actual, e os achados dos túmulos do assentamento Oriental assim o parecem confirmar (71), estima que as granjas gronelandesas nom devêrom de sobreviver muito tempo à mundança de século. Se isto é assim, quanto Olaus Magnus nos refere: troncos de árvores levados a Gronelândia polas correntes marinhas, violentos remoinhos, presença portuguesa, temporais e naufrágios, ou os seus desenhos com as tendas de verão dos gronelandeses, um esquimó disparando um arco, ou um home branco a luitar com um pigmeu, nunca poderám ser factos acontecidos quando já nom havia colonos naquelas terras, nem ser posteriores ao momento da perda de contactos com elas. Por força terám que ser anteriores a esse crítico momento.
     Olaus Magnus está a oferecer-nos, com toda a probabilidade, informações relativas a tempos nom demasiado afastados do de Pining e Pothorst, sobre os que conseguiu juntar bastantes, ainda que um tanto discutíveis, testemumhos, como já tivemos ocasiom de ver.

Fig. 18
Snaefellsjökull contemplado desde o sudeste de Reykjavik, a capital da Islândia. Cento e vinte quilómetros separam a fantástica montanha do ponto de observaçom. Nom pode admirar, pois, que as naves que partiam para a Gronelândia —600 km em linha recta— pudessem contemplá-la até mais além da metade dessa distância. Mas, ao chegarem ali, podiam orientar-se já polas alturas próximas a Hvitserk, no oeste.


     G.3.3: JOHANNES SCOLVUS.

     O globo terrestre do astrónomo e geógrafo holandês, Regnier Gemma Frisius, realizado no período 1536-1537, contém também vários topónimos portugueses ao oeste de Gronelândia. Ligeiramente mais ao oeste, mas na mesma latitude, mostra, assim mesmo, o seguinte texto:

«Povos Quii aos que chegou o dinamarquês Johannes Scolvus arredor do ano 1476».

     Um terceiro e importante dado apresenta-no-lo ao longo de um corredor marítimo que, polo sul de Gronelândia e dos territórios anteriormente indicados, une no referido globo o Atlântico com o Pacífico:

«Estreito árctico ou dos Tres Irmãos, polo que os lusitanos se esforçárom em navegar para o Oriente e para os Indos e as Molucas» (72).

     Lembremos que este globo é também cronologicamente anterior tanto às obras de Olaus, como à carta de Carstem Grypp. O seu conteúdo resulta, porém, absolutamente desconhecido para ambos.
     O lugar em que Gemma Frisius situa a referida nomenclatura portuguesa é a área do que parecem ser os actuais Estreito de Davis, Baía de Baffin, e Estreito de Lancaster, ou, se mais que o seu impreciso desenho, preferimos a latitude que lhe aplica, o sul da ilha de Baffin. E, além da velada admiraçom com a que parece falar das tentativas portuguesas por atingir o caminho do oriente através destas paragens, é o primeiro em nos informar de que um dinamarquês, por nome Johannes Scolvus, chegou a travar contacto, arredor de 1476, com umha etnia, denominada «Quii», que habitava a margem setentrional desse entom nada mais que suposto passo.
     Nom especifica, porém, se a presença lusitana pode ser coetánea com esta viagem de Scolvus.
     No que si devemos de incidir e no facto de que, a julgar polo material que estamos a encontrar, segue a parecer que a primeira metade do século XVI chegou a dispor de mais informaçom do que pudesse parecer em relaçom com a presença portuguesa tanto na Gronelândia como mais alá dela.
     A partir de Gemma Frigius, as referências sobre Scolvus multiplicam-se, sem que todas pareçam proceder da mesma fonte, o que incrementa as suas possibilidades de verossimilhança.
     Assim, o castelhano Francisco López de Gómara, que tivo contactos pessoais com Olaus Magnus e leu a Saxo Gramáticus durante a sua estadia em Italia, diz-nos a este respeito na sua «La Istoria de Ias Indias y conquista de Mexico» (Zaragoza 1552):

«Tambien an ido alla ombres de Noruega com el piloto Joan Scolvo. E ingleses com Sebastian Caboto» (73).
«Bretones y daneses am ido tambien a los bacallaos. Y Jaques Cortier frances fue dos vezes con tres galeones. Una el anho de treinta y quatro. Y otra el de treinta y cinco» (74).
«Agora ay mucha noticia, y experiencia, como se navega de Noruega hasta passar por debaxo el mismo norte y continuar la costa hazia el Sur: Ia vuelta de Ia China. Olao Godo me contava muchas cosas de aquella terra, y navegación» (75).

     Evidentemente, Gómara conheceu tanto as «Décadas del Nuevo Mundo» de Pedro Mártir de Anglería, como as cartas de Pietro Pasqualigo. Mas os dados que da sua obra acabamos de reproduzir nom se encontram nestes autores (76), nem tampouco em Gemma Frisius. Utilizou, portanto, outras fontes hoje para nós desconhecidas.

1575: Documento inglês, possivelmente preparatório para a expediçom de Martin Frobisher do ano seguinte:
«Mas para encontrar o caminho do Atlântico ao Pacífico há que navegar até 60 graus, quer dizer, do 66 ao 68. Esta passagem chama-se o Mar Estreito, ou Estreito dos Tres Irmãos, que quase nunca se gela em todo o ano a causa da rápida corrente que existe de mar a mar. Na banda norte desta passagem estivo o piloto dinamarquês John Scolus no ano 1476» (77).
1597: «Continens Indica», do cartógrafo holandês Cornelis Wytfliet:
«A glória deste segundo descobrimento levou-na o polaco Johannes Scolvus, que renovou a presença ali no ano 1476, oitenta e seis depois desta primeira inspecçom. Logo de ter navegado mais alá de Noruega, Gronelândia, e Frislândia, adentrou-se neste estreito Boreal sob o Círculo Árctico, e chegou ao Lavrador e a esta terra de Estotilândia» (78).
1671: Georg Horn:
«O polaco John Scolnus descobriu, sob o auspício de Christian I, rei de Dinamarca, o estreito de Anian e a terra do Lavrador no ano 1476» (79).

     É muito possível que o «piloto» de López de Gomara, «pilotus» nos documentos latinos, fosse lido «polonus» —polaco—, na fonte utilizada por Wytfliet e Horn, enquanto que a consideraçom de dinamarquês que lhe concedem Gemma Frisius e o documento inglês de 1575, poda que nada mais que oculte a condiçom mais restritiva de norueguês por parte deste navegante. E ainda que a sua nacionalidade represente um aspecto secundário, convém nom esquecer que «skolp» quiçá seja umha alcunha alusiva a um habitante da ribeira norueguesa. Em tal caso, o seu nome poderia ter sido, Jon Skolp (80).
     Há, de todas as maneiras, outras interpretações. Assim, para os investigadores polacos trata-se de Jan di Kolno (81), enquanto que Jon Duason e Tryggvi Oleson pensam que poderia ser o islandês Jon Skulason (82).
     Ignoramos a que pode dever-se o silêncio que até 1537 parece ter existido acerca da figura deste explorador, o mesmo que a quê pode obedecer o facto de que a imprecisa data que acerca da sua viagem nos oferece Gemma Frisius, se convirta noutra já consolidada nos informantes posteriores. Desconhece-se assim mesmo se o auspício de Christian I e os descobrimentos do estreito de Anian e da terra do Lavrador, que lhe atribui a Skolvus som interpretações gratuitas de Georg Horn, ou baseiam-se em informes documentais precisos, já que este escreve quase douscentos anos depois dos acontecimentos.

     G.3.4: A VIAGEM DE COLOM «ULTRA TILE»

«Yo navegué el año de cuatrocientos setenta y siete, em el mes de Hebrero, ultra Tile, isla, cient leguas, cuya parte austral dista del equinocial setenta y tres grados, y no sesenta y tres, como algunos dizen, y no está dentro de Ia línea que incluye el Ocçidente, como dize Ptolomeo, sino mucho más ocçidental. Y a esta isla, que es tan grande como Inglaterra, van los ingleses con mercaderia, espeçcialmente los de Bristol, y al tiempo que yo a elha fue no estaba congelado el mar, aunque avia grandísimas mareas, tanto que en algunas partes dos vezes al día subía veinte y cinco braças y desçendía otras tantas en altura» (83).

     A cita pertence a unha carta que, em Janeiro do ano 1495, no decurso da sua segunda viagem, escreveu Cristovo Colom aos reis, Fernando e Isabel. O seu conteúdo, como pode ver-se, nom tem desperdício algum, e foi examinado com lupa por todos os historiadores e todos os biógrafos do Descobridor, ainda que as suas conclusões difiram abertamente. No ánimo de nom dilatar este trabalho entrando em matéria acerca de se o «Almirante de Ia Mar Océana» pudo ou nom ter realizado semelhante viagem, remetemos os interessados no tema ao nosso artigo sobre a mesma publicado no número 31 de Agália (84).
     Agora vamo-nos centrar nada mais que numha das suas afirmações. A de que navegou mais alá da ilha de Tile, (Islândia), cem léguas, no mês de Fevereiro do ano 1477.
     Podemos complementar o dado dizendo que, se a expressom «ultra» foi utilizada por Colom no seu correcto sentido de «além de», ou «mais alá de», e o que diz a continuaçom nom é fruto de algum dos seus muitos erros de cálculo e mediçom, nem alterou tampouco deliberadamente, por qualquer especial motivo, a distância, com essas cem léguas —590 quilómetros— com as que assegura ter ultrapassado Islândia, pudo chegar à ilha Jan Mayen, situada ao nordeste da mesma. Um lugar tam inóspito que resulta bastante difícil imaginar que se lhe poderia ter perdido nele. Pudo ter atingido também qualquer ponto da costa de Gronelândia entre a Baía de Scoresby, situada no paralelo 70° 20', e a área Kulusuk-Angmagsaliq, no 65° 35', que tam bem conhecemos já.
     Mas o futuro Almirante, tanto no caso de que tivesse realizado esta viagem, como no de se estar a apropriar de feitos protagonizados por outro, nom cabe a menor dúvida de que pudo ser também o responsável pola difusom dos assombrosos informes sobre estes lugares e a presença portuguesa neles que, segundo acabamos de ver, conheceu a cartografia do século XVI.

Fig. 19a e 19b
Jan Mayer, a 550 km de distância do nordeste da Islândia, contemplada pola sua beira sudoriental. A imagem foi tomada do promontório situado a sul do assentamento. Ao fundo, Beerenberg, o principal dos seus vulcães, ainda activos, que atingem umha altura de 2.277 m. O mar que rodeia este território, com um comprimento de 54 km e umha largura média que quase 6 km, está gelado durante umha boa parte do ano. A riqueza desta solitária ilha consiste em nada mais que aves estacionais e alguns raposos árticos. Muito difícil é que Colom pudesse ter-se referido a ela na sua discutida carta.




     H. CONCLUSÕES

     Do até aqui considerado, cremos poder tirar a certeza de:

Que quanto o burgomestre Carsten Gryp lhe comunica ao rei Christian III na sua carta de 3 de Março de 1551, tomado ao parecer integramente das referências que acompanhavam os mapas editados aquele mesmo ano em Paris, aos que, de algum jeito tivo aquele acesso, é autêntico e comprovável.
Que a possibilidade da viagem de Pining e Pothorst, da que nos dá conta, descansa na credibilidade que se lhes poda conceder a Carsten Grypp e aos mapas por ele mencionados, fidedignos em todo o demais, mas também na existência de toda umha data de indícios, que, tomados em conjunto resultam dificilmente rejeitáveis.

     Em semelhante contingência pensávamos quando nos referíamos à presença do Mar dos Sargaços num atlas do ano 1436, autenticamente inexplicável se nom se aceita que, de jeito fortuíto ou deliberado, chegou antes alguém a ele, ainda que nom contemos com documentaçom que assim o demonstre.
     Como consequência, ainda com toda a classe de reservas, formulamos como remate as seguintes conclusões:

1ª) A colaboraçom entre Dinamarca e Portugal muito bem pudo representar a contribuiçom por parte dos escandinavos de barcos e marinhagem experimentada, e pola dos portugueses o financiamento económico da empresa, além da presença de observadores. Christian I passou à historia como modelo de jerarca incapaz de administrar os seus recursos.
2ª) A expediçom de João Vaz Corte Real, se realmente foi levada a termo, deve ser situada nom muito antes do ano 1474, data em que foi recompensado por ela, quiçá em 1473, ou 1472. As possibilidades de que se trate da mesma que a de Pining e Pothors som muito escassas, já que o período indicado coincide com o imediatamente posterior à decisiva derrota de Chistian I frente aos Suecos, nas aforas de Estocolmo, na que resultou malferido (85), assim como com os protestos nas cortes portuguesas pola política de arrendar os benefícios das explorações marítimas ao melhor postor (86).
3ª) O melhor momento para que ambos os países pudessem programar a sua colaboraçom parece ser o ano 1474, em que Christian I fizo unha fastuosa peregrinagem a Roma (87), e o príncipe João —mais tarde João II— tomou definitivamente o controlo das empresas ultramarinas. No mês de Agosto cancela-lhe o contrato das mesmas a Fernão Gomes e promulga simultaneamente a Lei Reguladora do Comércio Africano (88). Acontecia isto imediatamente depois de chegar a Lisboa umha carta de Paolo dal Pozo Toscanelli sugerindo a possibilidade de atingir a Índia polo Oeste (89).
4ª) A expediçom, porém, deveu de se demorar devido ao enfrentamento entre Castela e Portugal a causa dos direitos de D. Juana «La Beltraneja», começado a finais do mesmo ano, que terminou com o retorno do exército português em Junho de 1476, e a imediata viagem de Afonso V à França. Os ataques das naves castelhanas ao comércio africano português, que se alongárom até 1480 (90), pudérom ser outro determinante para a procura desta rota do noroeste.
5ª) Em consequência, parece um tanto fácil considerar como possível data para a expediçom que nos ocupa o ano 1477, quando o príncipe João, além das descobertas, se e1).
6ª) Esta data coincide com a da controversa viagem de Cristóvao Colom e, por aproximaçom, também com a que em 1536-7 lhe outorga o globo de Gemma Frisius à do piloto Joannes Scolvus: «Quij populi, ad quos Joannes Scoluus peruenit CIRCA ANNUM 1476» (92).
7ª) Cabe também que esse CIRCA ANNUM, «arredor do ano», o convertessem os autores posteriores em nada mais que ANNUN, já que todos eles situam no 1476. A existência de duas expedições tam próximas parece um tanto improvável, já que, dada a pouco favorável situaçom pós-bélica de Portugal na segunda metade desse ano, a de 1476 teria que ter corrido a cargo nada mais que de Christian I.
8ª) Quanto ao que Cristóvao Colom lhe comunicou aos Reis, pudo ter sido tomado de ouvidas. Ninguém que tenha estado realmente em Islândia pode assegurar a existência ali de marés de vinte e cinco braças —uns 14,5 metros, segundo a medida genovesa—, já que a sua oscilaçom média é na actualidade duns 3,8 metros, com umha máxima de 4,63 metros (93), sem que se tenha conhecimento que sofresse umha variaçom mensurável nos últimos séculos.
Marés da entidade que refere dam-se nada mais que nalguns pontos do Canadá situados entre Nova Escócia —ao sudeste de Terra Nova— e o Estreito de Hudson (94), imediato à ilha de Baffin. Quiçá nom se trate dumha casualidade que este seja o lugar a que o globo de Gemma Frisius fai chegar o piloto Johannes Scolvus e às naves portuguesas (Vide apartado G.3.3).
9ª) Gemma Frisius pudo conceder-lhe o protagonismo da expediçom ao piloto Johannes Scolvus, silenciando Pining e Pothorst, os seus comandantes, a causa de certo folheto hanseático que, pouco antes e com intenções exemplarizantes, se ocupou do terrível fim sofrido por diversos piratas, entre os que incluía Pining e Pothorst. Tal informaçom parece ter sido utilizada imediatamente tanto polo erudito dinamarquês Povl Helgesen na sua «Den Skibyske Kronike» (95), como polo próprio Olaus Magnus.

     Assim, pois, parece que a carta Carsten Grypp documenta a existência real de umha expediçom dano-portuguesa, comandada por Didrik Pining e Hans Pothorst, da que Johannes Scolvus foi piloto, que, à procura dum passo para a Índia, ultrapassou Gronelândia, e quiçá também a ilha de Baffin. Assim mesmo parece que Cristóvao Colom tivo conhecimento dela, ainda que seja difícil admitir a sua participaçom na mesma.


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NOTAS

(1) LAGERQVIST, Lars: KINGS AND RULERS OF SWEDEN. Vincent Publications. Stockholm, 1995, pág. 30. 
(2) SERRAO, Joel: obra citada, Tomo l, página 42.
(3) LARSEN, Sofus: obra citada, págs. 17-21.
(4) ANNA, Luigi de: LE ISOLE PERDUTE E LE ISOLE RITROVATE. Universita di Turku (Finland). Turku 1993, págs. 122-3.
— HERRMANN, Paul: LA AVENTURA DE LOS PRIMEROS DESCUBRIMIENTOS. Ed. Labor. Barcelona 1957, pág. 350.
(5) GAD, Finn: HANS POTHORST, em DANSK BIOGRAFISK LEKSICON. 3ª ediçom. Tomo XI. Gyldendal, s/ano, pág. 459. Este autor analisa bibliografia até 1978.
(6) GAD, Finn: HANS POTHORST, em DANSK BIOGRAFISK LEKSICON. 3ª ediçom. Tomo XI. Gyldendal, s/ano, pág. 459. Este autor analisa bibliografia até 1978.
(7) ANNA, Luigi de: LE ISOLE PERDUTE E LE ISOLE RITROVATE. Universita di Turku (Finland). Turku 1993, págs. 122-3.
— HERRMANN, Paul: LA AVENTURA DE LOS PRIMEROS DESCUBRIMIENTOS. Ed. Labor. Barcelona 1957, pág. 350.
(8) GAD, Finn: HANS POTHORST, em DANSK BIOGRAFISK LEKSICON. 3ª ediçom. Tomo XI. Gyldendal, s/ano, pág. 459. Este autor analisa bibliografia até 1978.
(9) BIRKET-SMITH, Kaj: DIDERIK PINING, em DANSK BIOGRAFISK LEKSION. 3ª ediçom. Tomo XI. Gyldendal, s/ ano, pág. 381. A bibliografia por ele consultada chega até 1971. Assim mesmo, em carta de 12 de Março de 1993, Sigurdur Hjaftarson, professor da Universidade de Rejkiavik, confirma-me que Pining fora «governador em Islândia entre 1478 e 1490». Jan M. Solstad, do Departamento de Fomento (Naeringsetaten) da vila de Vardö, confirma-me assim mesmo no 4/12/1996 esta data, pontualizando além disso que Pining fora «Lensherre», chefe da área Vardö e Finmark, ou seja, governador do condado, e que nom existe informaçom referente a que o fosse durante nengum ano mais. O «Lensherre» passou a denominar-se «Amtmann», a partir do século XVII. GISLASON, Vilhjálmur: BESSASTADIR. Bókaútgáfan Nordri. Akureyri, 1947, págs. 33 a 36.
(10) BOBE, Lois, obra citada, página 306.
(11) THORSTEINSSON, Bjönr, obra citada, passim. Id. id. «Henry VIl and Iceland», em «Saga-Book», XV, 1957-9, páginas 67 a 101.
(12) Informaçom facilitada também por Sigurdur Hjartarson, tomada do «Diplomatyarium Islandicum» XVI, nr. 220).
(13) MAGNUS, Sofus: HISTORIA, VII, 23, em LARSEN, Sofus, obra citada, páginas 81 e 82.
(14) LARSEN, Sofus, obra citada, página 80. Sobre a existência de ambos os decretos, veja-se: BOBE, Luís, obra citada, página 306, nota (1).
(15) PURCHAS, Samuel: HAKLUTUS POSTUMUS, OR PURCHAS, HIS PILGRIMES, CONTAINING A HISTORY OF THE WORLD IN SEA VOYAGES AND LAND TRAVELLS BY ENGLIMSHMEN AND OTHERS. Glasgow 1906, tomo XIII, em THORSTEINSSON, Bjönr, obra citada, páginas 294 a 299. A obra tinha 4 volumes na ediçom original, e 20 volumes na reediçom de Glasgow em 1905-7. Com anterioridade, em 1613, escrevera «PURCHAS, HIS PILGRIMAGE, OR RELATION OF THE WORLD, AND THE RELIGIONS OBSERVED IN ALLAGES», editada pola primeira vez quase douscentos anos depois, umha obra que se converteu na leitura favorita do escritor e erudito inglês Samuel Taylor Coleridge. LARSEN, Sofus, obra citada, página 59. STEOFF, Rebeca, obra citada, página 144.
(16) LARSEN, Sofus, obra citada, pág. 28. Tomado da segunda ediçom da sua obra sobre as gentes do norte: BJORNBO, A.A. e PETERSEN, C.S.: «Der Däne Claudius Claussön Swart", Innsbruk 1909. PETERSEN, Carl S.: CLAUDIUS CLAVUS, em «Dansk Biografisk Leksikon». Gyldendal. Tomo III, págs. 437-8. Utiliza bibliografia até 1971.
(17) JONES, Gwyn: EL PRIMER DESCUBRIMIENTO DE AMERICA, Libros Tau. Barcelona, 1965, páginas 107-111. THORSTEINSSON, Björn, obra citada, pág. 275.
(18) Vid. nota 10.
(19) THORSTEINSSON, Björn: ISLANDS OG GROENLANDSSIGLINGAR ENGLEDINGA A 15 OLD OG FUNDUR NORDUR-AMERIKU. Bókasain. Menntaskólans vid Hamrahlid. 1965, pág. 70. O autor nom indica, porém, a fonte desta infmmaçom.
(20) Vid. nota 9.
(21) MAGNUS, Sofus: Historia II, 10, em LARSEN. Sofus, obra citada, página 57. THORSTEINSSON, Björn: HELZTU HEIMILDIR UM LANDKONNUDINN DIDRIK PINING, pág. 295.
(22) BOBE, Louis: AKTSTYKKER TIL OPLUSNING OM GRONLANDS BESEJLIN, em «Danske Magazin», Quinta Parte, Tomo Sexto, 1909, pág. 306.
(23) LANDSTRÖM, Bjönr, na página 207 da sua EN BUSCA DE LAS INDIAS, editorial Juventud, Barcelona 1971, sustenta que esta rocha aparece já no mapa de Claudius Clavus de 1427.
(24) LARSEN, Sofus: obra citada, páginas 64 a 66.
(25) LARSEN, Sofus: obra citada, páginas 64 a 66.
(26) LARSEN, Sofus: obra citada, páginas 60.
(27) THORSTEINSSON, Bjönr: HELZTU HEIMILDIR..., pág. 295. MAGNUS, Olaus: HISTORIA, II, 11, em LARSEN, Sofus, obra citada, página 56.
(28) LARSEN, Sofus, obra citada, páginas 34 e 56-60. KARROW, Robert W: MAPMAKERS OF THE SIXTEENTH CENTURY AND THEIR MAPS. Speculum Orbis Press. Chicago, 1993, páginas 363-64. MAGNUS, Olaus: HISTORIA, II, 9, em LARSEN, Sofus, obra citada, página 60.
(29) MAGNUS, Olaus: HISTORIA, lI, 11, em LARSEN, Sofus, pág. 40.
(30) MAGNUS, Olaus: HISTORIA, II, 9, em LARSEN, Sofus, pág. 54.
(31) THORSTEINSSON, Björn: HELZTU HEIMILDIR..., pág. 297.
(32) LARSEN, Sofus, obra citada, páginas, 34, 54-57, e 60.
(33) ZIEGLER, Jacob: SCHONDIA, fol XCII, em LARSEN, Sofus, obra citada, pág. 69.
(34) BOBE, Louis: AKTSTYKKER..., página 305. LARSEN, Sofus, obra citada, página, 65. KARROW, Robert W, obra citada, página 609.
(35) O «Jökll» —glaciar— que figura na «Carta Marina» poderia, porém, referir-se ao Snaefelssjökull, o mesmo que o «Hekelfol promontorium» do mapa de Ziegler: LARSEN, Sofus, obra citada, páginas 36-55 e 71.
(36) LARSEN, Sofus, obra citada, páginas, 64, 67-70.
(37) LARSEN, Sofus, obra citada, páginas, 50-53-55.
(38) HOL, G, & GARDE V: «Den Danske Konebaads-Expedition», 1887, pág. 226, e, AHLENIUS, K: «Olaus Magnus», Uppsala, 1865, p. 152, em LARSEN, Sofus, obra citada, páginas 49-56. GRONDLANDS OSTKYST. CAP TYCHO BRAHE-CAP DAN. Kort & Matrikelstryrelsen. Danmark 1996. 2310. Escala 1:80.000.
(39) Vid, a nota anterior.
(40) WAHLGREN, Erik: LOS VIKINGOS EN AMERICA. Ed. Destino. Barcelona 1990, página, 25. STRAHLER, Arthur, obra citada, página 384, figura 21.36. BUCKLAND, P.C. e outros: BIOARCHAEOLOGICAL  AND CLIMATOLOGICAL EVIDENCE FOR THE FATE OF NORSE FARMERS IN MEDIEVAL GREENLAND, em «Antiquity 70», 1996, páginas 88 a 96. ANNA, Luigi, obra citada, página, 12. JONES, Gwyn, obra citada, páginas 87, 89 e 90. PETTERSEN, Franck, em EARTH SCIENCE, publicaçom do Tromsö Museum (Noruega), 1994, página 14 oferece umha tabela das variações climáticas dos últimos 2000 anos, comparada com a variaçom da actividade solar no mesmo período. HALD, Morten, em EARTH SCIENCE, citada, páginas 26 a 34.
(41) Segundo investigações do explorador dinamarquês Thorkel Mathiassen. HERRMANN, Paul, obra citada página 298.
(42) JONES, Gwyn, obra citada, páginas 93 e 302. HERRMANN, Paul, obra citada, mapa página 273. HAYWOOD, John: HISTORICAL ATLAS OF THE VIKINGS. Penguin Books. Bath, 1995, pág. 97. WAHLGREN, Erik: LOS VIKINGOS EN AMERICA. Ed. Destino. Barcelona 1990. página, 16.
(43) LARSEN, Sofus, obra citada, páginas 55-57. SKAVHAUG, Kjersti: AU CAP NORD. Nordkapplitteratur. Honningsvag 1990, página 29.
(44) MAGNUS, Olaus: HISTORIA, II, 10, em LARSEN, Sofus, pág. 57.
(45) LARSEN, Sofus, obra citada, página 58.
(46) LARSEN, Sofus, obra citada, págs. 41-42.
(47) CORTESAO, Jaime: obra citada, pág. 303. PEREZ, Damiao: obra citada, pág. 39. SERRAO, Joel: obra citada, vol III, páginas 126-27: Conserva-se vertido ao latim por Martin Behaim, a partir do relato oral do próprio Diogo Gomes, no «Manuscrito Valentim Fernandes» da Bayerische Staats-Bibliothek de Munich.
(48) THORSTEINSSON, Björn: ENSKA OLDIN..., pág. 270. O testemunho de ter sido induzido por Erik, está recolhido por Sofus Larsen, na página 27 da sua obra.
(49) A obra corresponde-se com os muitos «Livros de Maravilhas» que entom aparecêrom, e aparece reflectida com diferentes nomes nas bibliotecas portuguesas do século XV. Veja-se ALBURQUERQUE, Luís de: INTRODUÇÃO À HISTÓRIA DOS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES. Pub. Europa-América. Mira-Sintra 1989. 4ª edição, págs. 133 a 143.
(50) LARSEN, Sofus, obra citada, página 25.
(51) LARSEN, Sofus: Obra citada, página 41. THORSTEINSSON, Bjorn: ENSKA OLDIN I SOGU ISLEDINGA. Reikjavic 1970, pág. 294.
(52) BOBE, Louis: AKTSTYKKER TIL OPLUSNING OM GRONLANDS BESEJLIN, em «Danske Magazin», Quinta Parte, Tomo Sexto, 1909, pág. 306.
(53) CORTESÃO, Jaime: obra citada, Tomos II-III, págs. 300 e 663-4.
(54) SOFUS LARSEN, obra citada, pág. 98. Martin Behaim refere-se aqui, evidentemente, à Alemanha donde era oriundo.
(55) LARSEN, Sofus: obra citada, página 97.
(56) PERES, Damiao: obra citada, pág. 172.
(57) LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 97.
(58) SERRAO, Joel: obra citada, vol. II, pág. 556-7
(59) LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 88. PEREZ, Damiao: obra citada, pág. 171.
(60) PEREZ, Damiao: obra citada, pág. 173. LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 89. SERRAO, Joel: obra citada, vol. III, pág. 83.
(61) Esta controvérsia pode-se seguir em: PEREZ, Damiao: obra citada, páginas 171 a 176. LARSEN, Sofus: obra citada, págs. 87 a 112.
(62) LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 96. Atlas publicado por Kretschmer.
(63) LARSEN, Sofus: ibidem. PEREZ, Damiao: obra citada, página 177.
(64) STEOFF, Rebeca, obra citada, página 74. PINHEIRO MARQUES, Alfredo: A CARTOGRAFIA DOS DESCOBRIMENTOS. Edição, Elo, 1994, pág. 49.
(65) PEREZ, Damiao: obra citada, pág. 351.
(66) Cópia Facsimilar do Planisfério Cantino facilitada polo Museu da Marinha, Lisboa. SERRAO, Joel: obra citada. Vol Ill, pág. 163. O rei Dom Manuel I sucedeu a João II o 27 de Outubro de 1495, permanecendo no trono até a sua morte, em 1521.
(67) LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 47.
(68) LARSEN, Sofus: obra citada, páginas 41-44.
(69) LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 44. SERRAO, Joel: obra citada, Vol III, págs. 123-5.
(70) Danske Magazin. Quinta Parte. Tomo Sexto. Dei Kongelige Danske Selskab. Copenhague 1909, págs. 303-309.
(71) JONES, Gwyn: EL PRIMER DESCUBRIMIENTO DE AMERICA, Libros Tau. Barcelona, 1965, páginas 107-111. THORSTEINSSON, Björn, obra citada, pág. 275.
(72) LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 111.
(73) FI. XX, e, FI. VII, em LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 103. Veja-se: MARTIR DE ANGLERIA, Pedro: «Décadas del Nuevo Mundo». Ediciones Polifemo. Madrid 1989.
(74) Vid. nota anterior.
(75) Vid. nota anterior.
(76) Vid. nota anterior.
(77) Informe localizado por Fridtjof Nansen: LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 106.
(78) A primeira descoberta atribuía-Iha Wyfliet à nunca demonstrada navegaçom dos irmãos Zeno do ano 1388, um relatório construído sobre factos reais, ainda que traslocados. Frobisher, seguindo os seus informes conseguiu chegar à baía do seu nome, na actual ilha de Baffin. PARIAS, L.H.: HISTORIA UNIVERSAL DE LAS EXPLORACIONES. Espasa Calpe. Madrid 1968, II tomo, páginas 374 e segs.
(79) «Ulyssea vise studiosus peregrinans», publicada em Lugduni Batavorum, 1671 pág. 335: LARSEN, Sofus, obra citada, páginas 106-108.
(80) LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 105.
(81) ANNA, Luigi de: obra citada, pág. 30, tomado de S.E. Morison: STORIA DELLA SCOPERTA DELL' AMERICA. Milano 1976.
(82) THORSTEISSON, Bjorn: ISLANDS OG..., obra citada, pág. 51.
(83) VARELA, Consuelo: CRISTOBAL COLON. TEXTOS Y DOCUMENTOS COMPLETOS. Alianza Editorial. Madrid 1989, 2ª reimpressom, págs. 166-7, COLON, Hernando: HISTORIA DEL ALMIRANTE. Historia-16. Edic. Luís Arranz. Madrid 1985. 3ª edic. pág. 56-57. PHILIPPOT ABELEDO, Alfonso: LA IDENTIDAD DE CRISTOBAL COLON. Ponte Vedra, 1992, 2ª ed. págs. 17 e 22.
(84) O DESCOBRIDOR QUE CHEGOU DO FRIO. A VIAGEM DE CRISTÓVAO COLOMBO A THULE. Págs. 323 a 350, Agália núm. 31, Outono 1992.
(85) LAURING, Palle: obra citada, pág. 115.
(86) MATTOSO, José: HISTÓRIA DE PORTUGAL. Ed. Estampa 1993. Vol. 2, pág. 506.
(87) VÁRIOS: HISTORIA DE LA IGLESIA CATOLICA. BAC. Madrid 1967. Vol. III, 2ª Ed. pág. 411. LAGERQVIST, Lars: obra citada, pág. 31.
(88) CORTESAO, Jaime: obra citada, págs. 485, 493-3.
(89) SERRAO, Joel: obra citada, tomo VI, págs. 182-3.
(90) CORTESAO, Jaime: obra citada, págs. 549-59. PERES, Damiao: obra citada, págs. 194-5.
(91) SERRAO, Joel: obra citada, Tomo I, págs. 42-44. Tomo III, pág. 387.
(92) LARSEN, Sofus: obra citada, pág. 105.
(93) ALMANAQUE PARA ISLANDIA, 1991 e 1992. Universidade de Islândia. Dados facilitados com a data de 12/03/1993 polo professor Sigurdur Hjartarson. THORSTEINSSON, Bjorn: ISLAND OG NYI HERMURINN, em SAGA ISLANDS. Hid Islenzka Bokmenntafelag. Reikjavic 1990, págs. 7-8.
(94) VARIOS: PLANETA TIERRA. Círculo Lectores. Barcelona 1978, Vol. VIII, pág. 26. VARIOS: LIBRO GUINNESS DE LOS RECORDS. Maeva. Estella 1987, pág. 59. Referimo-nos, claro é, nada mais que às existentes na área de que o Almirante se está a ocupar. Marés de parecida magnitude atingem-se também em lugares como a ria de Bristol, monte Saint Michel, golfos de Omám e Bengala, Panamá, ou o estreito de Magalhães.
(95) MONUMENTA HISTORIAE DANICA, I, 1873, pág. 28, em LARSEN, Sofus, obra citada, págs. 41-42. THORSTEINSSON, Bjorn: HELZTU HEIMILDIR..., citada, pág. 294: A crónica de Povl Helguesen, realizada em 1530-34, recolhe informes do período 1046 a 1534. Segundo ela Pining, Pothorst, e outros sete piratas fôrom «mortos polos seus marinheiros, pendurados do patíbulo, ou afogados nas ondas do mar». Vinte e oito anos mais tarde, Hans Henriksen, repetia o mesmo na sua crónica «Udtog og Fortsaettelser».

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