Sexto Fetiche

 

Sexto fetiche

Páxina Seguinte

v2antomfortessextofetiche001.html





«I am not convinced that such activities of the mind
or body can be called unhelthy.»

                                                   [JAMES JOYCE]











IMPRESSONS

POLA vila escura nuas as ruas tecem os seus corpos de lezer.
Como umha jugada trançados estes moços marcham lenemente cara o além.
Que impudicos, e essa espúria inocência acochando-se na pele obscena, de falso tremor.
Quero-te ter, branca fracura de ossos harmonia, paus soando no coiro de um ventre tambor, torso de verao, camiseta
                                                                                                              /tendida, escroto adormecido, para mim.
Di-me peito, caluga, pelo negro; di-me dúvidas, sonhos, tamém medos; di-me boca ou cala, bicos só; di-me beiços,
                                                                            /língua, báguas... mentres vogo à tua sombra nos ocos de suor.












SABERES

ELA nom conhece os escritos de Beckett,
Joyce nem Kakfa;
nom sabe de Eliot nem Pessoa,
pero sabe do sabor da tua boca
que só eu desconheço.

Daria-o todo por gostá-lo,
para logo arrepender-me...
Acaso nom é toleima este desejo
que artelha trocos tais?
É...
Mas a raçom ignora
o gozo da tua língua,
dos dentes que me abram
à brisa dos alentos.

Troco tanta tarde de páginas morna
pola morte nos teus beiços.










OFERENDAS-ME um corpo de ame-
aças,
como todos os corpos
moços, perigo-
so.

Safas-te e
quedam-me so-
mente entre
as maos
ouriçados anacos do teu ventre.










O ANJO DO BICO


I

UM bico de riso.
O branco riso de dente preciso.
Os dentes um pico
     peteiro que bainhas cosipa.
No colo arabesco de rotas
     peniscas.
Devagar
     meu anjo do bico.



II

UM bico de medo.
Amorodo que suga e penetro.
Lava que reborda lábios
e língua que lava.
Assenta.
Purifica.
Ausente anjo do bico
os olhos nom abras
respira.










ÒS OLHOS Ó!

OS olhos [assi] tam fixos
O riso               Silêncio
Chiscar
Amizade
Devagarinho
devagaarinhoo
devagaaarinhooo
ooo
oo
o
òs olhos ó

Mais
nada










OLHOS. Boca. Falo.
Báguas. Cuspe. Sémen.
Mente. Sema. Semente.
Pranto. Verba. Força.
Mágoa. Massa. Sexo.
Ledice. Uniom. Desejo.

O amargor das tuas báguas, salgadas persianas da alma.
O sabor do teu cuspe na língua de espada.
O picante do sémen orlando-me os beiços, orlando-che a glande.










VENTO sul alouminhando o verde
arbóreo dos abanos, plumas
vegetal no gris setembro do
horizonte.                         Linha e
o nevoeiro ascende-a cara o céu
teu que busco na harmonia
da paisage.                      Setembro.
One Of Us Cannot Be Wrong de Cohen,
Leonard.                          Música
triste de guitarra fendida
pola voz.                          Um acoro,
um lamento, assobian.      Vem,
vem!










AH!, que o desejo me alume como
um faro desde o íris assombrado, o riso
que me obséquie com a fé que
já nom tenho, e as maos polo corpo como
mágicas asas que me inventem o céu: isso
quero, borboletas. E ainda que tu nom o saibas
é aí que se assenta a paixom que che tenho.










SAE à noite, foge
do refúgio,
perde-te valente nos ritos da lua,
dos luze-cus penecos com os falsos sinais
trás as silveiras.
[Acocha-te e bica-me oculto dos olhares.
Penetra em mim ainda que me rachem as unhas das
                                                /roseiras o peito lamacento.]
Volta ao abeiro e lembra que
nom és um doméstico.










SENTIR
o simple gozo
do teu
tacto.

Nom ser,
como num
voo.

Um vento dentro,
e ululo com o teu nome.










LAMBEREI-CHE o
cor-
po
até fazer-te
um ermo de minúsculos vulcáns
ouriçados como lombas,
e no
falo lustro-
so colgarei o prazer, a minha dor,
imitando posturas do outro sexo.
A tua boca de amor-
odo fará-me
tremelicar no bico.
[Ainda
com os olhos fechados
che vejo o íris satis-
feito cor de caramelo,
e na língua
pressinto o
teu riso incipiente.]
Gosta-me mentir-che
que te quero
no lóbulo
frio,
a comozom de juncal,
ver-te retirar o cabelo
com gesto ambíguo, e
mais dormir-me
no peito de botons
trementes, mentres te
a-
braço
todo.

[Hoje
fixemos
um amor
de quase nenos.]









VIBRAR mentres lhe apaja
o cenzo entre as coxas
se atreve com os figos à sombra
do teso tesom de aparelhar-se
e se o emborca vaso quente
que aguardou estaçons fervendo
como vinho lento até os seus
beiços saboreando-o em língua
resvaladiça papilas que na
fisga fam fenda escura
até parti-lo cunha cuspe
nom pare nom      prema
aferrado ao palpite lene
que dirige a batuta louca
do seu coraçom estarrecido
morda-o beije-o e sugue-lhe
os olhos roxeados que nom
lhe chega todo a devorá-lo.










FETICHE EM TOURO AZUL
                                    [A Marta]

TER que artelhar com os anos, já quarenta,
como Pasífae, um disfarce de madeira,
armadura de licras, jeans e plataformas,
para que che turrem, corno e lua,
que te escornem sem te mirar sequer...

O castigo será a desolaçom,
o labirinto.

[Já Pasífae sente em si o touro branco,
bestial o prazer, a traiçom mesta;
inocente esquecera os sacrifícios e o deus puxo a paixom,
luz radiante nos vermellos páramos de Creta,
à sua achega.
Fora Dédalo o artífice, como o cabalo de Troia,
do sartego de pau, e a rainha dentro
aguarda um fruto animal por entre as pernas.
O castigo foi o Minotauro.
]

Deixemos a Minos com o problema
mentres che urra na orelha o touro azul,
nas tuas costas o peito de dunas levianas, mamilos duros,
e abdome, chaira de mármore moreno,
os braços paralelos, paralelas as pernas,
as maos colhidas, nas nádegas as ínguas,
e em ti, na tua negrura, esse fruto, esse fruto brutal
que me esnaquiza.

—Turra, turra, touro azul, até à fim matar-me,
dessangrado.












COMO um tornado
de cabelos e de-
dos
trança-
dos
os teus
alouminhos
entre-
laçam-
-me
de a-
braços
e atam-
me.












QUE quero o que? O falo nas bocas silentes ou no censo
azeitado, ou no olhal o botom dos teus beiços?          Ser
seringa ou esteio, bulbo [em tulipa] ou zabumba? Por que
nom tiara que cinja badalos?       Por que nom tépala que
envolva tentáculos?    Quero um sicómoro acochando um
anjo rampante que tocando o rabel me seduza,  e no graal
ser sépala que o teu sangue humedece mentres perdes o
riso. Entendes?!












SÓ queria apropriar-me da Beleza.

O amor é um envoltório, um alouminho intenso
que ao tocá-la derrete-se, derrete-me.

Às vezes som mulher porque ao querê-la em mim
empurro-te para dentro, imóbil,
sem saber em que te metes,
e busco trémulo a tua língua retráctil,
afundo-me nos olhos estancos
e sugo-te, Beleza, em corpo inteiro
para que me enchas.

É sexo?

É o único que tenho.










IN MENTE
                     [A Mário]

A lua cheia.
Os jardins de açucenas. Beijos.
Os choupos, o rio, a erva. Desejo.
Aquela pele orvalhada de almíscar... Tinha
adolescentes olhos verde-grises e os beijos tingidos de inocência.
E foi-se para sempre, além dos mares, quizá a Apuania,
e em noites de lua como hoje umha labareda acende-se-me dentro
e lembro o corpo nu de Mário lambido polo vento.










MEMÓRIA FOTOGRÁFICA

PERCORRER-TE. Memória visual do corpo pres-
sentido. Cortar os poros detendo-me
nas veias, promontórios que morde
a luz —como um cutelo— e que
fito em silêncio até i-los
deixando luídos de íris
no bronze do teu torso.
Ai, os braços! Na dança do gesto,
ballet de alfinetes, gacha a
cabeça, perdida...
Foge, subordinada, a carne ao berço das idades;
e no murmúreo, já longe, do tempo
em que estavas presente,
percorrer-te.










DEUSES dos corpos,
fracos anjos lampos
de pelve discreta,
lembrade!











 

Ir ao índice de Páxinas

Páxina Seguinte


logoDeputación logoBVG © 2006 Biblioteca Virtual Galega