Joel R. G�mez


 

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APRESENTAÇOM

     Muito me sensibiliza e honra que a Universidade da Corunha reparasse na minha produçom para figurar neste ambicioso empreendimento de ediçom digital, que espero ajude para um melhor conhecimento das Letras Galegas no mundo e, muito em especial, na Galiza. Porque eu considero-me, antes de mais, um jornalista, para quem a literatura representa hoje, sobretodo, umha via de desintoxicaçom e desalienaçom privilegiada do exercício profissional, tam difícil nestes tempos. Mas nom sempre foi assim.
     Nascim em Ourense no ano 1959, e só na primeira metade da década de 70, quando estudava o último curso do Bacharelato, conhecim a existência da Literatura na minha Língua Galega, que até aquela altura me permanecera oculta. A primeira leitura e surpreendente descoberta foi Um ollo de vidro, de Castelao. Em Ourense tivem relacionamento com muito diversas personagens, em especial com Eduardo Blanco Amor (seguramente fum umha das pessoas que mais estreitamente o tratou na última etapa da sua vida, e correspondeu-me a inesperada honra de lhe realizar a derradeira entrevista, publicada ao dia seguinte da sua morte num jornal de Barcelona, de que eu era correspondente na Galiza), ou o poeta José Conde. Ainda naqueles venturosos anos, deu-se um acontecimento marcante: na sequência dos estudos universitários, encomendárom-me de pesquisar sobre Paulo Freire; isso fizo-me defrontar com os textos originais do celebrado pedagogo brasileiro, o que me levou ao Reintegracionismo, umha doutrina que assumim sem sombra de dúvida a raiz do meu encontro, pouco depois, com os professores Ricardo Carvalho Calero e, em especial, José Luís Rodríguez, de Filologia Galego-Portuguesa, por causa de novos trabalhos jornalísticos. Isso favoreceu que, quase desde o início, aderisse à Associaçom Galega da Língua. Também àqueles anos corresponde a minha participaçom na fundaçom da Associaçom de Escritores em Língua Galega, e a divulgaçom dos primeiros trabalhos literários.
     Houvo umha época em que me colocava a questom de poder dedicar-me profissionalmente à Literatura. Era no princípio da década de 80, quando pensava que a Galiza evoluiria de maneira bem diferente. Dessistim dessa ideia, e o meu contacto com o mundo literário passou a ser mais bem esporádico. Só em 1990, já com perspectiva diferente, voltei de novo, ao oferecer-me a Associaçom Galega da Língua a ocasiom de publicar, na sua colecçom "Criaçom", a narrativa Quando o sol arde na noite. Depois a fortuna favoreceu a ediçom de textos teatrais, mesmo a estreia de A Desforra, possível graças à generosa iniciativa do chorado Manolo Vidal, de saudosa lembrança, director da companhia ourensana Rua Viva.
     Ainda na década de 90 deu-se outro episódio biográfico principal: ao iniciar-se, na Universidade de Compostela, os estudos de Filologia Portuguesa, decidim cursá-los, o que resultou de imenso proveito. Pertenço à primeira promoçom dessa carreira que, para além de maiores conhecimentos lingüísticos, me ofereceu a oportunidade de aproximar-me de um modo bem diferente à Literatura. Devo especial reconhecimento ao Professor Elias Torres, que me enveredou por caminhos como a Teoria dos Polissistemas de Itamar Even-Zonhar, e a do Campo Literário de Pierre Bourdieu, e as suas respectivas escolas. Com ele trabalho no Grupo de Investigaçom nos Sistemas Literários Galego-Luso-Afro-Brasileiro (Galabra) da Universidade de Santiago de Compostela, num estudo sobre Ernesto Guerra da Cal, que já deu os primeiros frutos e que me ensinou umha mais alargada visom sobre o significado da Literatura como umha instituiçom de relevo e um referente principal de identificaçom das sociedades, e o seu funcionamento.
     Muito desejo, enfim, que esta empresa de ediçom digital da Universidade da Corunha renda os maiores frutos para a Galiza e para a sua Literatura. E nom só. E que assim o podamos celebrar.
     Isso é o que, com certeza, almejo.

[Novembro, 2002]

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