Os olhos da História. A Cartografia, dos seus inícios às decisivas contribuiçôes do português Planisferio Cantino (1502)

 

(Texto íntegro)

 

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     Nom se sabe de nengumha sociedade, ou cultura humana, que nom chegasse a representar de algum jeito, com maior ou menor precisom, ou sequer com um mínimo de fidelidade, o seu território, quer por meio de croquis, de planos, ou de representações topográficas, quer através de algumha classe de esboço, por rumidentares que fossem. Tais representações iconográficas referem-se, nalguns casos,apenas à zona na que se desenvolvia a sua actividade, mas noutros incluem também os territorios
imediatos, e mesmo alguns outros mais afastados. Estamos a referir-nos tanto aos povos privimitos pré,proto-históricos e actuais, como às culturas mais evoluídas (Fig. 1).
     Como nom podia ser menos, dentro de um leque tam amplo e variado como o que acabámos de indicar, os suportes utilizados para tais representações fôrom também diferentes: nervos de folhas, fibras de molusco, cabelos, côdeas, especialmente de vidoeiro, ósso, marfim, tabuinhas de barro cozido,pinturas rupestres, insculturas sobre pedras e lajes, maquetas, desenhos sobre vitela, doiro, papiro, etc.
     O conhecimento e a análise desta riqueza informativa permitenos, por outra banda, umha ajeitada avaliaçom do grau de conhecimentos de cada cultura, até o ponto de podermos dar por bom o que acerca destas representações chegou a pensar o cartógrafo flamengo Abraham Ortelius (1527-98) quando considerou que "os mapas som os olhos da história".

               
Fig.1: Entre as culturas aludidas, também as nossas neolítica e castreja fizérom este tipo de representaçoes. No gravado o que se considera o mapa da foz do Minho existente na citânia de Santa Tegra (Guarda).

 


A evoluçom do cohecimento geográfico

     Deixando à parte a progressom dos distintos caminhos que o conhecimento geográfico tivo no mundo,do que aqui nos vamos ocupar é da evoluçom das representações cartográficas da cultura ocidental,sobre as origens da qual nom nos vamos deter tampouco dado que a perda no ano 365 da famosa Biblioteca de Alexandria nom nos permite pronunciar-nos com rotundidade acerca da influência que os desparecidos conhecimentos egípcios tivérom na cultura grega, da que somos todos devedores.
     Digamos para começar que os primeiros conhecimentos científico-racionais acerca da geografia procedem dos iniciais filósofos gregos, entom mui vinculados à cosmografia, além de também às mastemáticas, a cronografia, a gramática e a poesia. Eles consideravam entom que a Terra era plana e circular, rodeada por um rio-oceano, com Delfos no seu centro, e que se mantinha imóvel no meio do Universo.
     Umha concepçom semelhante à do Mapa-múndi babilónico do ano 600 a.C., o que sugere umha cronologia mui anterior para o surto da mesma, bem como à que aparece na Bíblia: "Há um que reina sobre o círculo da Terra" (Isaías, 40: 22), frase na que "jugh", a palavra utilizada polo profeta para referir- se a "círculo",leva implícito o valor semântico de "esfericidade". Gravou o círculo sobre as águas, até a se a "círculo", leva implícito o valor semântico de "esfericidade". "Gravou o círculo sobre as águas, até a fronteira entre a luz e as sombras" (Job, 26: 10) (1).
     Com umha leve posterioridade, Tales de Mileto (640c-545 a.C.), que, o mesmo que muitos outrossábios e eruditos gregos, estivo no Egipto, bem como o seu discípulo Anaximandro (610c-547 a.C.), o home que sustinha que "o infinito -"ápeiron"- é a orgime", demonstrárom científica e matematicamente que a Terra era um corpo esférico que flutuava no espaço, se bem o segundo pareça inclinar-se mais a umha concepçom cilíndrica do mesmo. Lembremos também que o autor do bíblico Livro de Job, chegara a
afirmar: "Tendeu o norte sobre o vácuo e pendurou a Terra sobre o nada" (Job, 26:10).
     O conceito da esfericidade da Terra seria também aceite por Pitágoras de Samos (580-500 a.C.), Aristóteles de Estagira (384-322 a.C.), responsável além disso pola elaboraçom dos conceitos de pólo, equador e trópicos, e Eratóstenes de Cirene (276-194 a.C.), director no seu tempo da Biblioteca de Alexandria. Este conhecimento acerca da forma do nosso planeta foi, porém, esquecido posteriormente, nom sendo retomado senom por Alberto Magno (1200c-1280), professor de teologia e filosofia em Paris e Colónia, através precisamente do seu conhecimento de Aristóteles.
     Com base em todos estes imprecisos conhecimentos o já citado Anaximandro de Mileto elaboraria, numha data tam prematura como a de princípios do século VI antes de Cristo, o que podemos considerar como o primeiro Mapa-múndi analístico (2). Nele, e ainda com as limitações que lhe impunha a exiguidade dos conhecimentos sobre as terras entom habitadas, Anaximandro utilizou o primeiro sistema de coordenadas do que lemos notícia, constituído por meridianos e paralelos equidistantes entre si, que permitiam umha mais precisa definiçom do território, e, sobretudo, a localizaçom de qualquer lugar. A seguinte carta geográfica da que sabemos seria a de Hacateu de Mileto, (nascido em 549 a.C.), um dos primeiros autores tanto sobre histórica como de geografia, retomador da ideia de umha Terra plana e circular (Fig. 2).

 

     

                                    

Fig.2: Representaçom simplificada do mapa-múndi que Hecateu de Mileto elaborou por volta do ano 500 a. C.


     Mas havia de ser Eratóstenes de Cirene, inventor tanto do calendário que, por ter sido adoptado mais tarde por Júlio César, denominamos hoje juliano, como das palavras Filósofo e Geografia, quem havia de conduzir ao grau mais elevado a cientificidade da matéria ao conseguir calcular com assombrosa aproximaçóm a medida da circunferência terrestre (3). Por último Eratóstenes elaborou outro Mapa-múndi ao que dotaria já da precisom que lhe confere a utilizaçom dumha escala, mantendo e aperfeiçoando ao mesmo tempo o sistema dos dous eixos de círculos ideados por Anaximandro para indicar a longitude e a latitude (Fig. 3).

 

 

Fig. 3: Reconstruçom conjentural do mapa-múndi de Eratóstenes de Cirene, de arredor de 200 a. C., efectuado já à escala e dotado da oportuna rede de coordenadas.

 


     Outro significativo avanço seria a contribuiçom de Aristarco de Samos (nascido no ano de 320 a.C.),quem, se bem que mantendo a concepçom geocêntrica do universo, preconizada tanto polos seus antecessores como por quantos estudiosos houvo até um tempo tam serôdio como o de Nicolau Copérnico (1473,1543), advertiu, já daquela, que a Terra nom estava imóvel no espaço senom que rotava sobre si própria, e se deslocava à volta do Sol.
     A seguinte e decisiva contribuiçom correria a cargo de Hiparco de Rodas (190-125 a.C.), possivelmente o autor com o que mais em dívida se encontra a cartografia universal. Hiparco, além de acceder ao cohecimento da excentricidade da órbita terrestre, ao da precessom dos equinócios, aperfeiçoar os cálculos acerca dos eclipses, advertir as irregularidades do movimento da Lua, fazer o primeiro catálogo fiável das estrelas, e idear a diptria, um instrumento e cálculo astronómico, mui semelhante ao astrolábio, que também utilizou, e trascendental para a navegaçom, revolucionou também as ideaias cartográficas. Rejeitou, em primeiro lugar, a rede irregular de paralelos e meridianos proposta por Eratóstenes, para substituí-la por outra determianda por critérios mais racionais, e adoptou a projecçom cónica para os mapas. Por último seria também o primeiro geógrafo que aplicou aos círculos terrestres a velha medida babilónica dos 360 graus, subdivididos à sua vez em minutos e segundos. Cada grau seu de meriadiano resultou assim de 700 estádios gregos, que, ainda considerando os distintos comprimentos deste, nos oferece um valor mui próximo ao real: 111,7 km.
     Três séculos depois, Marino de Tiro (nascido no ano de 120 d.C.), efectuou a revisom e o aperfeiçoamento dos conhecimentos de quantos geógrafos o precederam com base em cálculos puramente matemáticos. Traçou oito paralelos entre o equador e a ilha de Tule, e aplicou aos seus mapas a chamada de projecçom ortogonal, que ainda que nom excessivamente ortodoxa para a representaçom de grandes áreas, seria retomada catorze séculos depois polo flamengo Gerhard Kremer Merctor (1512-1594) e prestigiado no século XX através da variante denominada Universal TransversalMercator, a mais utilizada nos nossos dias dado que evita toda a classe de deturpações. Marino, desenhador também, ao que parece, de algumhas cartas náuticas, pode ser considerado como o autêntico iniciador da cartografia científica. Deve-se a ele a eleiçom do ocidente das ilhas Canárias para situar o Meridiano Um, precedente do actual Meridiano 0°, ou de Greenwich, situado nas proximidades de Londres (4).
     Infelizmente a obra de Marino perdeu-se. Dela sabemos apenas através das críticas que lhe formulou o seu coetâneo o astrónomo e matemático alexandrino Cláudio Ptolomeu (circa 100-180), autêntica e gloriosa eclosom da cartografia clássica, do que agora nos vamos ocupar.
     Herdeiro directo do saber de Hiparco de Rodas, e, ainda sem sabê-lo, também do home que criticava, Ptolomeu sintetizou os seus conhecimentos geográficos em duas obras autenticamente determinantes: a "Mathematike Syntaxis", mais conhecido hoje polo seu título árabe de "Almagesto", e a "Geographike Hyphegesis", ou "Guia geográfico", também denominada "Geografia".
     Na primeira, subdivida em treze livros, além de resumir os estudos astronómicos anteriores, oferecenos os seus conhecimentos da matéria e as suas teorias cosmogónicas, e divide a Terra em vinte e nove paralelos, situando o último na ilha de Tule.
     Quanto à sua "Geografia", ainda que, tal como chegou até nós, apresente evidentes mostras de ter sido retocada e, possivelmente, interpolada (5), consta de sete livros, nos que, onde as necessárias instruções cartográficas, nas que reduz já a 21 os paralelos, um cada 5 graus, dá-nos a conhecer as diferentes projecçõies entom utilizadas, a de Hiparco e três mais. Inclina-se porém, polo cónica, enquanto rejeita a ortogonal de Marino de Tiro a causa da deturpaçom que produz nos lugares mais afastados (6), oferecendo-nos ao mesmo tempo as listas de uns oito mil lugares, que situa por meio das suas coordenadas de longitude e latitude. Entre eles, e isto é umha autêntica informaçom preferencial, perto de cem da nossa Gallaecia.

 

Fig. 4: Metade occidental de umha das reproduções medievais do Mapa Geral de Cláudio Ptolomeu.

A representaçom do algarismo "5" que aquí aparece, aplicada tanto aos meridianos como aos paralelos, assemelha-se ao nosso "4". Nele pode-se observar também como o Meridiano Um se encontra a oeste das "Fortunatae Insulae", quer dizer, das actuais das actuais ilhas Canárias.

 


     Mas seria o oitavo livro desta "Geografia" o que maior impacto havia de causar, já que continha nada menos que vinte e sete mapas à escala, um deles geral, (Fig. 4), elaborados segundo os dados e as instruções que aparecem nos sete anteriores. Contribuiçom, pois, autenticamente grandiosa, cheia do máximo rigor científico possível, cobiçosa e sem precedentes na história, tanto polo número, concreçom e pormenorizaçom dos topónimos que recolhe, como pola extensom da superfície representada, que abrange do Meridiano Um, nas Canárias, ao 180, situado além da actual península de Malaca, e do paralelo 15, a sul da linha equinocial, ao 63 norte, onde se encontra a ilha de Tule, a última das terras conhecidas.
     Apesar das críticas que lhe formula a Marino, temos de dizer que tampouco ele se livrou de importantes erros, ainda que umha boa parte se devam à inconsistência das distâncias que lhe subministravam os itinerários entom existentes, ou à inexactidom das informações com as que contou, bem como à ausência de observações astronómicas rigorosas. Mas tampouco deixa de ser menos certo que passou por alto algumhas informações e que tampouco efectuou a necessária análise crítica, território por território, dos dados com os que contava.
     Ptolomeu comete também a grave equivocaçom de utilizar a medida da circunferência terrestre calculada por Posidóniode Apameia (135-50 a.C.), que considerava o grau apenas de 500 estádios, o que, na prática, supunha a reduçom do tamanho da circunferência terrestre, a respeito do real, em nada menos que 40%. Isto, junto com o sobredimensionamento ptolemaico tanto do comprimento do Mediterrâneo como da Asia, conduziria, séculos depois, aos conhecidos erros de Paolo dal Pozzo
Toscanelli, Martin Behaim, e o próprio Cristóvão Colom que, curiosamente, haveriam de conduzir este a descobrir a América.
     Quanto aos vinte e sete mapas que acabámos de mencionar, existem certas dúvidas acerca tanto dese som da autoria de Ptolomeu, como da cronologia dos mesmos. Nalguns códices gregos a Carta Geral tem a indicaçom de que foi elaborada por um tal Agathodemon Alexandrinus (7), um desconhecido, do que nom se sabe se se limitou a elaborar tam só esta Carta, num momento indeterminado, ou pudo mesmo ser o executor também das restantes, com base nas instruções do Livro VIII da Geografia, que
em vida de Ptolomeu, quer com posterioridade. Mas, ainda que haja quem pense que tais mapas mui bem pudérom ter sido elaborados a começós da Baixa Idade Média, por eruditos bizantinos, os argumentos a favor ou contra esta eventualidade nom som concludentes, enquanto parece mui pouco convincente a possibilidade de que existisse em cartógrafo grego de tanta entidade como este Agathodemon, na Alexandria pós-romana.


Idade Média: ermo e ressurreiçom

     Infelizmente, Ptolomeu nom tivo continuadores. Sendo o zénite da cartografia, depois dele, nom houvo nada mais que nadir, a maior das carências. Os romanos limitárom-se a representar apenas itinerários, e os povos germânicos nada contribuirom nesta disciplina, enquanto os árabes nom passariam nunca do relato, se bem que excepcionais muitos deles. Mas nom se molestárom em representar os lugares que descreviam, e, ainda que conhecessem Ptolomeu, polo menos a partir de princípios de século IX, interessárom-se preferentemente polos seus conhecimentos astrológicos e astronómicos.
     Seria com Isidoro de Sevilha (560-636), quando aparece o primeiro e burdo intento de cartografia monástica. Referimo-nos aos mapas tripartidos circulares, também denominados em "T" ou em "O", que enchem os horizontes de umha grande parte da Idade Média. Neles, tanto os denominados "beatos" como outros eclesiásticos, tratárom de representar as três partes do mundo entom conhecidas. Em todos a Terra Santa figura na sua parte central, sendo os braços do "T", que separava a Ásia da Líbia (África), e da Europa, o mar Mediterrâneo, e os rios Tanais (Don) e Nilo. Os nomes das terras aparecem complementados polos dos três filhos de Noé que supostamente as povoaram: Sem, Cham e lafeth. Quanto ao "O", era o Oceano que reodeava a Terra (Fig. 5).
     Trata-se de umha elaboraçom mais cultual e alegórica do que geográfica, de umha mais que duvidosa utilidade prática. Assim o "T" simbolizava a Cruz, enquanto a tripartiçom do mundo aludia à Trindade de Deus. Em muitos destes mapas indicava-se também a situaçom do Paraíso Terreal.
     Como gloriosa excepçom deste obscuro panorama temos de mencionar a "Tábula Rogeriana", elaborada em Palermo no ano 1154 polo geógrafo e matemático ceuti AI-Idrissi, ao serviço do rei Roger II da Sicília (1101 -1130). Este Mapa-múndi circular, acompanhado por setenta mapas locais, aparece claramente influído pola obra de Ptolomeu, e mantém o Meridiano Um no mesmo lugar que este.

 

Fig. 5: Tipo de mapa circular em "T" e "O" do século X.


     Felizmente, a partir do século XII observa-se umha substancial evoluçom ao aparecer o já mui detalhado mapa-múndi de Henry de Mainz, melhorado na seguinte centúria com outros da entidade do da catedral de Hereford, Inglaterra, de 1290c, e o do mosteiro de Ebstorf, Alemanha (1339), que acrescentam as possibilidades destas representações ao incluir já copiosa toponímia, umha iconografia complementar, e claros indícios de aproximaçom à realidade física. Com eles aparecem também listas de vilas, com a indicaçom das suas coordenadas, as mais das vezes correctas, e começa-se a medir a latitude das mesmas com base nas horas nas que eram observáveis em cada um dos eclipses (8).
     Mas um mundo em expansom geográfica e comercial como foi o da Baixa Idade Média necessitava de superar tamanhas carências, e acabou por consegui-lo ao se inventarem os Portulanos e as Cartas Marinhas.
     Um Portulano era umha descriçóm escrita das costas e os portos, à que se juntava um corpo de instruções, guia, ou "livro-portulano", com a indicaçom das diversas travessias possíveis. Apenas de jeito ocasional eram ilustrados.
     As Cartas Marinhas, denominadas também Cartas-Portulano, cuja primeira mençom é do ano 1270, parecem ter surgido umhas décadas antes (9). E som já autênticos documentos cartográficos, dotados além disso de umha eficaz técnica de representaçom tomada das experiências tanto de viageiros como de navegadores, acompanhadas de explicações complementares a respeito dos portos, conhecimentos práticos, ventos e acidentes, tanto por meio de textos incluídos na própria Carta, como no livro-portulano. Baseiam-se na prática da chamada navegaçom "à estima", um recurso com o que os marinhos de todos os tempos soubérom atingir sempre surpreendentes exactidões. Como novidade oferecem-nos as rosas-dos-ventos, bem como diversas linhas, feixes de rumos e escalas gráficas, com divisões e subdivisões, capazes de facilitar a sua interpretaçom e manejo. Muitas delas contêm, assim mesmo, representações iconográficas, algumhas autenticamente espectaculares, ainda que de discutível idoneidade. Estas Cartas-Portulano estám, evidentemente, inspiradas nos velhos Périplos da Antiguidade, e permitiam que qualquer patrom da Baixa Idade Média atingisse um destino simplesmente com seguir as suas indicações.
     As Cartas-Portulano, que parecem de origem itálica, supugérom umha autêntica revoluçom. Na sua confecçom utilizava-se já o compasso, ou "agulha de marear", chegada da China através do mundo árabe, pouco antes do ano de 1200 (10). A sua cartografia é nitidamente empírica mas também mui perfeita, ainda que útil apenas para o Mediterrâneo, por carecer de dados autenticamente astronómicos. No século XV acabariam por ampliar o seu conhecimento ao complexo mundo das ilhas Atlânticas, incluindo tanto as autênticas como as que hoje sabemos que procediam da fábula e do mito: Brasil, Antilha, Salvaga, Frisland, S. Brendan, etc.
     Em todos eles, a rede de rumos partia de umha rosa-dos-ventos principal, e cruzava-ase com outras redes que partiam por sua vez doutras rosas situadas à volta dela, possivelmente nos pontos onde se faziam as mudanças de rumo mais frequentes (11). A melhor destas Cartas-Portulano foi, sem dúvida nengumha, o chamado de Atlas Catalám, elaborado sobre o ano de 1375 polo maiorquino Abrahm Cresques, hoje na Bibliotèque Nationale, Paris.
     Mas, por surpreendente que pareça, a autêntica ressurreiçom da cartografia deveu-se a um home desaparecido havia XII séculos. Estamos a referir-nos, claro está, de novo a Cláudio Ptolomeu.
     O conhecimento da sua obra em Ocidente produziria-se a finais do século XIV graças aos códices gregos que entom começárom a chegar a Florença. Os que mais iam influir fõrom os portados polo erutido Emmanuel Crisoloras, por terem sido traduzidos para latim polo seu discípulo, Jacopo Angelo, entre os anos 1401 a 1406. Desta versom fariam-se numerosas edições manuscritas, até o ponto de que ainda se conservam hoje nada menos que 38 exemplares das mesmas. Através da obra de Ptolomeu seria definitivamente retomada no Ocidente a ideia da esfericidade da Terra.



Claudius Clausson Swart: a inovaçom da cartografia

     Antes sequer do maciço espalhamento da obra manuscrita de Ptolomeu, um dinamarquês que possivelmente estivo na Itália, claudius Clausson Swart, tivo a premonitória clarividência de adaptar os conhecimentos e os dados do mesmo à realidade do seu tempo, incorporando-lhes relatórios tanto do norte da Europa como da Islândia e Gronelândia, territórios sobre os que o geógrafo alexandrino non sabia absolutamente nada.
     Deste autor dinamarquês, mais conhecido polo seu apelativo latino de Clauius Clavus, com o que a partir de agora o vamos citar, sabemos apenas que nasceu no s14 de setembro do ano 1388 em Sallingue, a sul de Odense, na ilha de Fyn, ou Fiónia, ignorando-se onde e quando morreu. Mas um mapa seu chegaria às mãos do cardeal Guillaume de Fillastre (1348-1428), talvez entre os anos 1418 e 1425, que o incorporou ao seu trabalho cartográfico iniciado com posterioridade ao concílio de Constança do ano 1414. Esta primeira carta de Clavus, complemento e actualizaçom dos conhecimentos ptolemaicos a respeito do Atlântico Norte, conservase actualmente na cidade francesa de Nancy, sob a denominaçom de Tábua de Nancy (12).

     Mas existe ainda outro mapa seu, chegado a nós através da chamada de Cópia de Viena (Fig. 6), elaborada por um grupo de eruditos entre os anos 1420 e 1430, segundo P. D. a. Harvey, com base nos trabalhos do dinamarquês bem como nos comentários dele contidos no Códice Vindobonense (13). Nele confirma-se a forma triangular do sul da Gronelândia, território que Clavus afirma ter visitado, e que esboára já na Tábua de Nancy. Semelhante perfil da ilha americana nom seria sumido senom até 1482
nos mapas editados em Ulm por Johannes Schinitzer e Donnus Nicolaus Germanus, no famoso globo construído em 1492 em Nuremberg por martin Behaim, e na anónima "Carta de Paris" de 1493c.

 

 

                                                    Fig. 6: Reconstruçom simplificada da chamada de "Cópia de Viena" do segundo mapa de Claudius Clavus.

                                                    Observe-se o perfil do cone meridional da Groenlândia, e a imprecisom acerca das zonas congeladas do mar

                                                    de Barents e o Atlântico Norte.

 


     Consequência desta decisiva actuaçom de Claudius Clavus foi que, bem logo, as 27 Cartas de Ptolomeu, ainda que integramente respeitadas, começárom a ser acrescentadas por outras, denominadas "tabulae novae", que actualizavam a antiga e incompleta visom que o geógrafo alexandrino tinha de determinados espaços (14).
     De 1475, em Vicenza, é a primeira ediçom impressa da obra de Ptolomeu, ainda que a das cartas se demoraria dous anos mais, em Bolonha. Esta foi seguida polas de Roma, 1478; Florença e Ulm, 1482; Ulm, 1486; e Roma e Nápoles, 1490. Tratava-se de reproduções efectuadas por meio de pranchas de madeira e cobre.
     Bem logo, também, como nom podia ser menos num momento no que se estavam a produzir salientáveis descobrimentos geográficos e científicos, fôrom advertidas as muitas inexactidões ptolemaicas, o que fizo com que a ediçom das suas cartas se detivesse em 1490, ainda que se reanudaria a partir de 1507, complementadas já com as representações dos novos territórios que se foram descobrindo.

     Ainda assim, a obra de Ptolomeu influiu decisivamente, nom só nas expedições de Cristovão Colom (1492) e Vasco da Gama (1497), como também no mapa-múndi de Henricus Martellus, editado em Florença por volta do ano 1489, que actualizava os conhecimentos e as explorações portuguesas tanto na África como no oriente. Desta prestigiosa carta conservam-se duas versões distintas: a da Universidade de Yale, complementada com a indicaçom em graus das longitudes e latitudes assim como a sinalizaçom do Equador, os Trópicos e o Círculo Árctico; e a que permanece na British Library de Londres, carente destes datos auxiliares (15).
     O seguinte passo autenticamente quantitativo no que ao avanço da cartografia diz respeito, encontrase no cântabro Juan de la Cosa (1460c-1510), conhecedor das costas africanas e proprietário da nau "Santa Maria", La Cosa acompanhou Colom nas suas duas primeiras expedições, as dos anos 1492-93 e 1493-94, para perecer mais tarde nas proximidades da actual Cartagena de Indicas, alcançado por umha flecha indígena envenenada.
     Mas, por volta do ano 1500 La cosa dera remate a um mapa de África, bem como à sua famosa "Carte de Marear", ou "Mapamundi", do que, no Museu Naval de Madrid se conserva o que parece ser umha cópia, datada por muitos expertos como de entre os anos 1502 e 1510 (16). 0 excepcional trabalho, que parece inspirado no desaparecido mapa de Giovanni Caboto, e mesmo em notas do próprio Colom, conserva ainda as rosas-dos-ventos e as linhas habituais dos Portulanos medievais. Sinala, assim mesmo, a situaçom do Equador e do Trópico de Câncer. Nom utiliza, porém, meridianos graduados, e ao fazer uso de escalas diferentes para os distintos territórios que representa acaba por sobredimensionar o território americano, levando, além disso, as Antilhas bastante mais ao norte do lugar em que realmente se encontram.
     A estas alturas ignora-se se a Linha de Demarcaçom de Tordesilhas que nesta Carta aparece figurava já no mapa original, ou foi acrescentada ao fazer a cópia. De todas as maneiras nom se corresponde com a real (17). A Linha de Demarcaçom de Tordesilhas foi acordada a 7 de junho de 1497 como jeito de delimitar as zonas de expansom de Castela e Portugal. A respeito dela, digamos que além das enormes dificuldades técnicas existentes naquele momento para determinar a sua autêntica situaçom, houvo muitas e tendenciosas reticências entre quantos a tratárom, até o ponto de ser levada para leste ou oeste, segundo o interesse da parte implicada. E se bem que vaiamos retomar o tema mais para a frente, nom podemos menos que dizer agora que a opiniom mais séria e fundamentada que, para salvar tamanha complicaçom se tem formulado, parece-nos a dos trabalhos do astrónomo catalám, o padre Jaume Ferrer de Blanes, efectuados já no mesmo ano de 1494 (18).



O Planisfério Cantino e a revoluçom cartográfica

     No ano 1502, Alberto Cantino, agente diplomático dos Duques de Ferrara em Lisboa, conseguiu tirar em segredo do país, logo de pagar por ele a soma de doze ducados de ouro, um mapa de especial relevância. Tratava-se nada menos que do que se vem considerando como a cópia do padrom oficial das descobertas portuguesas. Na actualidade recebe o nome de "Planisfério Cantino", e encontra-se na Biblioteca Estense, em Modena (Itália) (Fig. 7). 0 Duque de Ferrara, Ercole de Este, tivo-o nas suas mãos já no mês de novembro desse mesmo ano (19).

 

Fig. 7: Visom de conjunto do Planisfério Cantino, no que se mantêm as rosas-dos-ventos e as linhas que delas partem, aparecendo perfeitamente situadas a equinocial, os trópicos e o círculo polar árctico.

 


     A data da confecçom da carta podemo-la deduzir dos seus próprios conteúdos. Assim, por exemplo, sabe da desapariçom de Gaspar Corte-Real. Este facto nom se soubo em Portugal até depois de 12 de outubro do ano 1501, momento no que a segunda das embarcações que o acompanharam chegou a Lisboa traendo a infausta nova. O remate do documento tem de ser, pois, posterior a este momento, bem como a alguns outros dados que nele figuram, como o do conhecimento das costas meridionais da América do Sul, que nom pode proceder senom das viagens de Amerigo Vespucci, ou o da ilha de Madagáscar, descoberta em 1500 por Diogo Dias.
     O Planisfério mostra bandeiras castelhano-leonesas na costa das actuais Guianas-Venezuela (Fig. 8), em parte exploradas por Vespucci às ordens de Alonso de Ojeda, no período de maio de 1499 a junho de 1500, no que percorreu a ribeira entre aproximadamente o Suriname de hoje e o golfo de Pária (20), ainda que também visitada, coetaneamente, ao que parece no tramo que medeia entre o cabo Sam Roque e o golfo de Pária-Ilha Trindade, por Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe, e na sua parte final, polo próprio Cristóvão Colom (período julho-agosto de 1498), enquanto mantém em branco as ribeiras do golfo de Panamá, desconhecidas até o momento em que este mesmo as explorou na sua derradeira viagem dos anos 1502-04.

 

Fig. 8: A Linha de Tordesilhas no Planisfério Cantino, com bandeiras portuguesas e de Castela-Leom a umha e outra banda. Está situado no meridiano 55º, que passa polo actual Suriname na América do Sul, e por Terranova. Observe-se como tanto onde está como nas proximidades do Panamá nom figuram as terras ainda nom conhecidas. As Antillas encontran-se deslocadas ao norte do Trópico de Câncer, sem dúvida por causa dos erros de mediçom padecidos por Cristóvão Colom.

 


     Para os arredores do cabo Sam Roque, o autor do Planisfério, ou a fonte na que este bebeu, deveu manejar informações procedentes da expediçom de Pedro Álvares Cabral e Gaspar de Lemos, pois cita a chegada a ele do primeiro em abril do ano 1500. Parece conhecer aliás a viagem de Alonso Vélez de Mendoza, do mesmo ano, que talvez atingiu o actual rio São Francisco no sul do Brasil. Mas o desenho, se nom exacto, surpreendentemente aproximado na parte meridional do continente que o Planisfério nos oferece nom se poderia explicar se o seu autor nom tivesse contado para esta parte com os relatórios de Vespucci, ou de Gonçalo Coelho, possível responsável pola expediçom de 1501-2, na que o florentino visitou estas latitudes ao serviço de Portugal.
     Esta partira de Lisboa en maio de 1501 com a intençom de chegar, navegando para oeste, à chamada de Quarta Península da Ásia, que nas distintas edições dos mapas de Claudio Ptolomeu aparecia situada a oriente da de Malaca, passando o Sinus Maximus. Um acidente este que se corresponde com os actuais golfo de Siám e Mar da China Meridional. Assim a anunciara Vespucci em carta de 18 de julho de 1500: "Percha mia intenzione era di vedere si potevo volgere uno cavi di terra, che Ptolomeo nomina il Cavo di Cattegara, che e giunto con el Sino Magno". "Porque a minha intençom era ver se podia dobrar um cabo que Ptolomeu chama de Cabo de Cattegara, que está ao pé do Sinus Maximus" (21). A península em questom, convém que o digamos, está considerada por alguns como ummui discutível protoconhecimento da existência da América do Sul. Nesta exploraçom Amerigo Vespucci costeou este território, segundo afirma, até os 50º de latitude sul, e convenceu-se de que as terras que estava a abeirar nom eram a China, como Colombro continuava a suster, mas um mundo distinto. Ele seria pois o primeiro que o adveritu (22). E assim lho comunicaria mais tarde por carta a Lorenzo dei Medici. O Planifério, ainda que iconograficamente pareça representar o extremo meridional da América do Sul, situa este limite presumivelmente atingido polo navegante nesta viagem nos arredores do paralelo 35º sul. Quer dizer, aproximadamente à altura da localidade uruguaia de Punta del Este, onde começa a imensa abra do rio da Prata, polo que é mui possível que nom passasse dela.
     Por outra banda, o retorno a Lisboa desta expediçom produziu-se em setembro do ano seguinte, quer dizer, de 1502, no que como sabemos, no mês de novembro chegou o Planisfério às mãos do seu destinatário o Duque de Ferrara. Com base, pois, em todos estes dados nom parece arriscado situar o remate do mapa por volta dos finais do mês de setembro, ou talvez melhor, a princípios de outubro desse ano de 1502.
     Sabida esta cronologia nom pode surpreender já que nele se recolham relatórios procedentes das explorações de Gaspar Corte-Real (1500-1), das três primeiras viagens de Cristóvão Colom (1492-1500) (23), da de Vasco da Gama (1497-99), e mui possivelmente também da de Fernão de Noronha (1501 c.), se bem que os procedentes desta pareçam acrescentados a última hora mediante a utilizaçom de letra cursiva, distinta da gótica com a que aparecem os demais. Quer dizer, que nos encontramos diante de umha carta que nos oferece umha autêntica e imediata actualizaçom das explorações do seu tempo.
     Assim mesmo, se bem que rematado apenas três anos depois do retorno a Lisboa de Vasco da Gama procedente da India (agosto de 1499), o Planisfério é já conhecedor do perfil triangular da mesma e situa com bastante aproximaçom os contornos de Malaca, Indonésia e a China, territórios entom ainda nom explorados. No Novo Continente insinua, aliás, a península da Flórida, ou talvez a do lucatám, tampouco ainda oficialmente descobertas nem exploradas.
     Mas o Planisfério representa além disso e com excepcional precisom, a latitude tanto da Islândia como da Gronelândia, bem como os contornos meridionais desta, ainda que se advirta um ligeiro deslocamento seu para leste, exactidões mui pouco habituais na cartografia quinhentista. E na costa sul-oriental da Gronelândia exibe um dado de enorme importância ao incluir entre duas bandeiras portuguesas o seguinte texto (Fig. 8):
 

"Esta terra he descober (ta) per mandado do muy excelentissimo princepe dom manuel Rey de Portugal) a qual se cree ser esta a ponta dasia. E os que a doscobriram nam chegarom a terra mais viram Ia e nam viran senam serras muyto espessas polla quail segum(do) a opinyon dos cosmof(ó)ricos se cree ser a ponta dasia"

                                                       
     Dado que dom Manuel reinou desde 27 de outubro de 1495 até à sua morte no ano 1521, esta referência deve ser datada entre o começo do seu reinado e a confecçom do Planisfério, setembro- -outubro de 1502. Apreciaçom que parece confirmar o relatório do embaixador de Veneza, Pietro Pasqualigo, testemunha presencial em outubro de 1501 do retorno dumha das naves de Gaspar Corte- Real a Lisboa procedente do que hoje chamamos de Terranova. Os tripulantes da mesma descrevérom- lhe o território atingido como coberto de arvoredos, rico em pesca e mui povoado. E precisárom-lhe, ainda que com umha certa vaguidade, que se encontrava a umhas 2000 milhas de distância para noroeste, talvez unido, pensavam, a outra terra situada mais a norte, divisada no ano anterior, à que nom se pudérom achegar por causa dos numerosos grandes blocos de gelo que havia no mar. 2000 milhas náuticas é, efectivamente, a distância que separa Lisboa da Terranova. "Credeno queste di la caravella la soprascrita terra esser terra ferma et conjugersi con altra terra, Ia qual l'anno passato sotto Ia tramontana fu descoberta" (24). "Crêem estes da caravela que a anteriormente citada terra (Terranova) é terra firme e unida com outra terra que, no ano passado, fora descoberta a norte".
     Com o que parece que podemos considerar que o avistamento português da Gronelândia recolhidono Planisfério pode corresponder-se com o da primeira expediçom de Gaspar Corte-Real, a do ano 1500. E se bem que tampouco nos explique o autor a que "cosmofóricos" está a ludir, parece claro que é proclive com a opiniom destes a respeito de que o extremo meridional da Gronelândia pudesse ser "a ponta dasia". Um convencimento mui próximo ao que umhas décadas mais tarde, tirárom tanto Hernando
Colom como o padre Las Casas, de documentos do pai do primeiro, segundo o qual certo galego chamado Pero de Velasco contemplara, por volta do ano 1452, e por aquelas mesmas paragens, umha terra que outros considerárom podia ser umha parte de Tartária (25).
     A respeito da Terranova, o autor do Planisfério reproduz o perfil da parte da mesma situada a leste do meridiano 55º, oferecendo-nos ao mesmo tempo um autêntico exemplo do coerência informativa ao nom debuxar, o mesmo que no caso do Panamá, as terras situadas a norte e a sul dela, ainda nom exploradas. Quer dizer que, ao contrário que o "Mapamundi" de La Cosa, o Planisfério Cantino limita-se a representar apenas aquilo acerca do que tem a devida informaçom. Ora bem, tanto a situaçom como o perfil com os que representa este território assemelham-se enormemente aos que a chamada de "Carta de Paris" lhe conferira por volta do ano 1493, ao que denomina, se a nossa leitura da sua defeituosa rotulaçom é correcta: "Hectens civitatum intula vocatur, portutallentium colonia...", "Ilha chamada das Sete Cidades, colónia dos portugalenses...". Ou seja que, além de conhecer a "Carta de Paris" ou ter acedido a algumha fonte comum, o autor do Planisfério parece que tentava identificar a Terranova por Gaspar Corte-Real explorada, com a legendária e medieval ilha das Sete Cidades.
     Assim, neste lugar, além doutras duas bandeiras portuguesas e um bosque de enormes árvores, situa o seguinte texto:                                                                                                  

"Esta terra ix descoberta per mandado do muy alto exçcelentissimo Pprincipe Rey don Manuell Rey de Portugal) aqual descobrió Gaspar de Corte Real cavalleiro da cassa do dito Rey, o quail quando a descobrío mandou hum navío com çcertos ornes e molhares que achou na dita terra e elle ficou con outro navio e nunca máis beo e crese que he perdido e aquí ha muios mastos"


     Comentário historicamente correcto a nom ser no que ao número de barcos da expediçom de Gaspar Corte-Real diz respeito, já que nestes parecem ser um mais dos que indica. Pietro Pasqualigo, o já mencionado embaixador de Veneza presente no retorno da primeira embarcaçom, sabe que além desta e da que, tal como indica o texto que acabámos de reproduzir, estava em caminho portando produtos e indígenas de ambos os sexos dos territórios achados, ficava atrás um terceiro navio, o de Gaspar. As
cartas nas que Pasqualigo informa do caso som duas, umha de 18 e outra de 19 de outubro de 1501. Em ambas refere que a primeira das naves chegara ao Tejo uns dez dias antes, quer dizer, no dia oito ou nove. enquanto a que entom estava em caminho o fizo no dia doze (26).
     Ora bem, seja ou nom certo que poda representar o ao que parece secretissimo Padrom portugués, a realidade comprovável é que este agora denominado Planisfério Cantino tem sobrados motivos para ser considerado como umha das jóias da Cartografia mundial. Porque, embora a aparente resticidade do seu aspecto e continuar ainda com as rosas-dos-ventos dos Portulanos ou persistir em certas denominações ptolemaicas, nom só situa com a mais assombrosa das rigorosidades a maioria das terras entom  conhecidas, como também o tai no que diz respeito ás linhas equinocial dos trópicos e do círculo ártico. Móstra-nos, aliás, as rotas comerciais e as suas principais mercadorias, as que ilustra com excepcionaisdesenhos. O Planisfério Cantino denota também influências árabes e clars evidências do conhecimento da navegaçom astronómica. A falta ainda da utilizaçom do meridiano graduado, a sua conceptualizaçom representa nada menos que a definitiva transiçom entre os Portulanos, Claudio Ptolomeu incluído, e a moderna cartografia. E a revoluçom que inaugura urnha nova fase da História e da Ciência e a Arte cartográficas.
     Por outra banda o Planisfério Cantino oferece-nos também a primeira e mais exacta representaçom cartográfica da Linha de Demarcaçom de Tordesilhas (27), que situa nas proximidades do meridiano 55° (Fig. 8), já que o fai passar pola banda oriental da foz do rio Suriname, nas inmediações da actual cidade de Paranaribo, capital da ex colónia holandesa do Suriname, na América do Sul.
     Nem todos os autores estam, porém, conformes con esta afirmaçom. A Linha de Demarcaçom foi e será sempre discutida, por causa da sua importância. À margem de toda polémica, queremos indicar aquí a opiniom do cronista Antonio Pigafetta, que no mês de fevereiro do ano 1520, no decurso da viagem de Magalhães e Elcano, na que tomava parte, afirmou o seguinte:

 

"la linea de demarcación, que está a treinta grados al oeste del primer meridiano, y éste a tres grados al oeste de Cabo Verde".

                                      
     O Cabo Verde sobre o que se tratou em Tordesilhas como ponto de referência para determinar a Linha, som as ilhas assim denominadas, nom o cabo do mesmo nome, que se encontra no meridiano 17° 33 '. E ainda que se tenha discutido também muito acerca do ponto no que devia ser situado esse Primeiro Meridiano a partir do qual deviam de se medir as 370 léguas ao remate das quais fora finalmente colocada a Linha de Demarcaçom, o comentário de Pigafetta e outros documentos inclinam a pensar que tal Primeiro Meridiano devia de localizar-se a partir da parte mais oriental do arquipélago.
     Neste ponto, a ilha da Boa Vista encontra-se no meridiano 22° 30'. 0 que Pigafetta denomina de Primeiro Meridiano, lembremos que Ptolomeu, que ignorava a existência de Cabo Verde, situava-o daquela nas Canárias, teremos que procurá-lo no 25° 30', pois segundo os dados que Pigafetta nos transmite e eram entom vigentes e admitidos, tal Meridiano está a 3 graus oeste da Boa Vista. Quer dizer, ligeiramente a poente do linde ocidental deste arquipélago, que é a ilha de Santo Antão, que tem a sua ordenada no meridiano 25° 10'.
     Assim pois, baseando-nos neste comentário, a Linha de Demarcaçom deverá de encontrar-se trinta graus a oeste desde Primeiro Meridiano, ou seja, no meridiano 55° 30'. Pois bem, o Planifesfério Cantino situa esta controvertida Linha no meridiano 55° com a indicaçom clara de "este he omarco dantre Castella e Portugall". Advirta-se pos, umha deturpaçom de meio grau com respeito ao cálculo que acabamos de efectuar, 'erro' que, dada a precariedade dos elementos de mediçom entom existentes, nom pode produzir senom assombro e admiraçom. Comprove-se tudo isto através da figura 8, na que se pode apreciar o sobredimensionamento da abra do rio Suriname. Mas também se observa claramente a margem sul-ocidental da mesma, que é o lugar no que se encontra a actual vila de Paramaribo, nom sinalada no Planisfério já que ainda nom fora fundada. Pois bem, a ordenada desta é a de 55° 13' (28).




O segredo do Planisfério Cantino

     Por último, os conteúdos deste singular planisfério obrigam-nos a certas reflexões. Em primeiro lugar acerca do facto de que, apesar de toda a sua meticulosidade informativa que o leva a recolher os dados geográficos mais recentes, nada aparece nele que demonstre que saiba da longa viagem polo Atlântico norte efectuada por Pêro de Barcelos e João Fernandes Lavrador, no período 1492-95, ou bem como sugerem outros, no de 1495-98, nem das de Diovanni Caboto às mesmas paragens partindo do porto inglês de Bristol nos anos 1497 e 1498, ou da segunda de João Fernandes Lavrador em 1501 na que saindo também de Bristol perecera na empresa, facto polo que mereceu que o seu nome se perpetuasse numha das penínsulas canadianas.
     Por outra banda o Planisfério, ainda que conheça duas expedições, apenas menciona umha das que Gaspar Corte-Real afectuou, deixando-nos além disso com a incógnita de como é possível que se a tripulaçom da primeira se limitara a olhar de longe a Gronelândia, nos poda apresentar um perfir da mesma com umha exactidom muito maior que a dos mapas elaborados por Claudius Clavus.
     Ignora igualmente o Planisfério, ou silencia deliberadamente, a controvertida expediçom luso-dinamarquesa de arredor do ano 1477 "para procuraren novas terras e ilhas nos mares do norte", pola que o entom príncipe dom João, rei mais tarde no período 1481-1495, atingira no seu momento imortal sona (29), na que as naves entom enviadas chegaram nada menos que ao actual estreito de Hudson, no nordeste do Canadá.
     Acerca disto precisamente escreveria-lhe ao próprio monarca em 14 de julho de 1493, quer dizer, com bastante anterioridade à elaboraçom do Planisfério, de jeito encomiástico, o documentado doutor Hieronymus Monetarius Münzer:
 

"Já te louvam por grande príncipe os alemães e os rutanos, apolónios, citos, e os que moram debaixo da seca estrela do pólo árctico, com o grande duque de Moscávia, que não há muitos anos que debaixo da sequedade da dita estrela foi novamente sabida a grande ilha de Grulanda -Gronelândia- que corre por costa CCC léguas... (30).


     Complemento e epítome de quantas informações ao respeito levamos aqui comentado podemos considerar os dados recolhidos polo castelhano Francisco López de Gómara (1512-729, capelám de Hernán Cortés, na sua "La Istoria de Ias Indias y conquista de México", publicada em Saragoça no ano 1552:

 

"Muchos han ido a costear la tierra del Labrador por ver adónde Ilegba y por saber si había paso de mar por allí paró ir a las Malucas y Especiería, que caen, como en otro lugar diremos, sobre la línea Equinoccial, creyendo acortar mucho el camino, habiéndole... y así fué allá Gaspar Cortes Reales, el año de 1500, con dos carabelas. No halló el estrecho que buscaba. Dejó su nombre a las islas que están en el golfo Cuadrado y en más de cincuenta grados. Tomó por esclavos hasta sesenta hombres de aquella tierra y vino muy espantado de las muchas nieves y heladas, ca se hiela el mar por allá reciamente... También han ido allá hombres de Noruega con el piloto Joan Scolvo, e ingleses con Sebastián Caboto... Bretones y daneses han ido también a los Bacallaos, y Jacques Cartier, francés, fue dos veces con tres galeones..."


     Do que vem resultar que Gómara, ainda que nom com a exactidom que devera, já que resume numha as duas expedições de Gaspar Corte-Real, sabe do autêntica objectivo da primeira delas, a que o conduziu tam ao norte que lhe permitiu divisar em difíceis condições atmosféricas as ribeiras da Gronelândia: à procura da célebre Passagem do Noroeste que permitisse chegr mais facilmente às riquíssimas ilhas Malucas ou da Especiaria. E conhece também Johannes Scolvos, Joan Scolvo, um dos
participantes da expediçom de arredor de 1477 à que antes nos referimos, que costeou o cone sul da Gronelândia e permitiu, possivelmente, que o autor do Planisfério pudesse representar tam pontualmente o seu perfil.
     Assim pois, sejam ou nom acertados tanto esta particular identificaçom da Terranova com a legendária ilha das Sete Cidades, como que o autor do Planisfério tivesse acedido ao Padrom oficial das Descobertas portuguesas, conhecera polo menos em parte os conteúdos da "Carta de Paris", ou se acaso a fonte da que pudo ter sido tomada esta, nom nos cabe tampouco a menor dúvida de que o Planisfério oferece certos sintomas de que o seu autor devia saber algo mais do que nele representou. O venal funcionário que em troca de doze ducados de ouro lhe facilitou a carta ao de Ferrara deveu de limitar-se nada mais que a fazer-lhe a este um mapa à medida do que procurava, incluinda nele talvez
tam só aquiloque considerou menos lesivo para os interesses de Portugal. É possível que nom se quigesse arriscar mais ala do conveniente revelando o auténtico objectivo da presença portuguesa no noroeste Atlántico.

 





—————————— NOTAS ——————————



(1) Se bem tanto Job como Isaías vivérom respectivamente nos séculos XV e VIII antes de Cristo, os analistas bíblicos consideram que os escritos a eles atribuídos fôrom redigidos com muita posterioridade, por volta dos séculos VI e V (H. Haag et alii: "Diccionario de Ia Biblia", Herder.Barcelona, 1963, págs. 916-20 e 998). Quer dizer, que a informaçom neles recolhida a respeito da forma da Terra pode proceder dos tempos do exílio na Babilónia, posterior portanto a esse mapa do ano 600 a.C.Francisco Marco Simón (1999), páx. 13.
(2) STEFOFF, Rebecca, págs. 26-27.
(3) 0 resultado do seu cálculo foi o de 250000 estádios, ainda que muitos autores antigos citem 252000. 0 estádio é umha medida que equivalia a 600 pés gregos, umha magnitude que infelizmente contava com distintos comprimentos, segundo os lugares. Houvo, pois, estádios de 157 a 211 metros. Ora bem, a medida das outras distintas referências efectuadas por Eratóstenes conduz a considerar estes 250000 ou 252000 estádios que lhe outorgou à circunferência terrestre como: 46620 km., com base nos 185 metros de longitude do estádio ateniense (TATON, René, vol. 2, págs. 405-6). Sem dúvida por erro de cálculo, Arthur e Alan STRAHLER, pág. 4, reduzem este mesmo cálculo a 43000 km.; 44400 km., com o estádio grego de 177,6 m.; 40233 km. (STEFOFF, Rebecca: pág. 28)
(4) 0 zero -"círculo pequeno"- é um conceito criado polos hindus no século VIII junto com o sistema de numeraçom decimal e posicional. Por volta do ano 830 estas ideias seriam recolhidas polo astrónomo e matemático de Bagdade, AI-Khwarizmi, o inventor da Álgebra, sendo através dele que chegárom mais tarde a Ocidente (TATON, René, vol. 3, págs. 501-508, 509 e 516).
(5) TATON, René, vol. 2. pág. 409.
(6) Id. Id. pág. 410. Admite, porém, a projecçom de Hiparco e Eratóstenes para as cartas regionais (AUJAC, Germaine, págs. 14-15).
(7) PINHEIRO MARQUES, Alfredo: pág. 25.
(8) TATON, René, vol. 3, pág. 689.
(9) Por volta de 1290 o maiorquino Ramon LIuII declarava que os marinhos "habent chartam, compassum acum et stellam maris", e que "a navegaçom nasce e deriva-se da Geometria e da Aritmética" (TATON, René, vol. 3, pág. 586).
(10) Foi por volta de 1200 quando aparece citado o compasso pola primeira vez por autores como Guyot de Provins, Alexandre Nackham ou Jacob de vitri. Difundirá-se primeiro sob a forma de umha agulha imantada fixa num flutuador colocado numha vasilha com água. O compasso com eixo é tam só ligeiramente posterior, pois que foi conhecido tanto por Alexandre Nackham como por Petrus Peregrinus (TATON, René, vol 3, págs. 683-85).
(11) Nas Cartas-Portulano observa-se a imperfeiçom de que a "loxodromia", a curva que na superfície terrestre forma um mesmo ângulo na sua intersecçom com todos os meridianos e serve para navegar com rumo fixo, é confundida com umha recta. Tampouco estám elaboradas à escala, polo que as distâncias devem de calcular-se a olho. E ainda que algumhas contenham quadrículas, nom utilizam os meridianos nem tampouco os paralelos.
(12) AUJAC, Germaine: pág. 17. KARROW, R. W., págs. 261, 676, 722. STEFOFF, Rebecca, pág. 91. TATON, René, vol. 3, pág. 689. Segundo estima P. D. A. Harvey, págs. 54-55, a obra de Fillastre foi rematada por volta do ano 1427.
(13) Harvey, P. D. A.; págs. 54-55. CARTOGRAFÍA HISTÓRICA: pág. 49. STEFANSSON, Vilhjalmur: págs. 125-126.
(14) PINHEIRO MARQUES, Alfredo: pág. 25.
(15) NEBENZHAL, Kenneth: págs. 15-17.
(16) ANNA, Lugi de, pág. 65. MARTIN MERAS, Luísa, pág. 80. NEBENZHAL, Kenneth, pág. 32. STEFANSSON, Vilhjamur: págs. 202-203.
(17) VÁRIOS: "Cartografia Histórica", pág.s 68-69. COMELLASk, José: passim.
(18) "Seminários Temáticos", págs. 23-32 e 33-58.
(19) NEBENZHAL, Kenneth, pág. 34. PINHEIRO MARQUES, Alfredo, págs. 49-52.
(20) ALBUQUERQUE, Luís de: DICIONÁRIO, págs. 1073-74.
(21) DUSSEL, Enrique: págs. 41 a 45.
(22) Nesta circunstância basearia-se o geógrafo alemám Martin Waldssemüller (1470-1521), para propor no ano 1507 o nome de América para estas terras (NEBENZHAL, Kenneth: págs. 52 e 64).
(23) Entre as influências colombianas temos que considerar os seus erros de cálculo a respeito das Antilhas, situando Cuba e Haiti 21º e 15° mais a norte do real, o que determinou a inexacta ubiquaçom do arquipélgao por cima do Trópico de Câncer, que recolhem tanto o mapa de La Cosa como o Planifério.
(24) CORTESÃO, Jaime: Vol. III, págs. 732.
(25) Hernando Colón, capítulo IX, e Álvaro de Ias Casas, capítulo XIII. CORTESÃO, Jaime: Vol., II, págs. 445 a 451. MANZANO MANZANO, Juan: págs. 85 a 88.
(26) PERES, Damião: págs. 350-355.
(27) VÁRIOS: CARTOGRAFÍA HISTÓRICA... pág. 68-69: "y la línea de demarcación fijada en el Tratado de Tordesillas e indicada por primera vez con precisión"...
(28) Contribuições importantes acerca desta discutidíssima Linha: ALBURQUERQUE, Luís de: "Dicionário"... págs. 1039-43; ALBURQUERQUE, Luís de: "Os Descobrimentos"... págs. 193-218;CARVALHO, Sérgio Luís de: "O Tratado de Tordesillas"; CORTESÃO, Jaime: Vol. III, págs. 671-716; PERES, Damião: págs. 268-77; RUMEU DE ARMAS, António: EL TRATADO...; SERRÁO, Joel, Tomo VI, págs. 175-76; VARELA MARCOS, Jesús: EL TRATADO..., SU ORIGEN,SOLUCIÓN (Em VARIA: SEMINÁRIOS TEMÁTICOS); EL TRATADO.... EN LA CARTOGRAFIA HISTÓRICA; VARIA: O TRATADO DE TORDESILHAS E OUTROS DOCUMENTOS.
(29) Esta expediçom foi por nós estudada no trabalho "A expediçom luso-dinamarquesa ao noroeste atlântico. Alcançárom América os Portugueses antes do que Colom?", publicada nos números 49 e 57 desta mesma revista Agália.
(30) CORTESÃO, Jaime: "Pré-Colombinos"... pág. 177. 0 doutor Monetarius Müntzer, que exercia em Nuremberg e participara na confecçom do seu célebre Globo com Martin Behaim, visitaria no ano seguinte a Península, percorrendo a Galiza entre 17 e 27 de dezembro de 1494.






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