Aquela fita de Primus a sonar
naquela noite de fumarada, com o livro de Ecologia Social acima da cama,
A saborear a aventura do baixista remando numha galerna de queijo
líquido
Parecia, nom lembras? Pedir auxílio desde o som sujo do velho alto-falante,
como a piques de se afundir…
Nós também eramos náufragos em decadentes
experiências post-hardcore
Nunca fomos discípulos de Mr Brett e Straight Edge só era umha cançom
Jello Biafra era um alfaiate que trabalhava fatos frenéticos para
cançons políticas de mais
As cruzes gamadas eram trofeios de guerra convertidos em produtos de
lenceria
O punk era um estertor contínuo e o hardcore umha destilaçom
impossível
Parecia, nom lembras? Que a adolescência ia ser eterna.
Parecia, nom lembras? Que as drogas eram um manifesto.
Já há tempo que acordei emporcalhado daquele sonho. Cheguei a
conclussom de que o punk é umha regiom do nosso ser.
Nom paga a pena arrepentir-se; eu nom o faço. Foi só o momento de
glória da minha geraçom. Inevitável.
Hoje fica de tudo aquilo… sobretudo umha consigna: "a atitude é o
que importa"
E a certeza de que aquela desesperaçom foi a que nos levou ao melhor e
ao pior.
Nom nos podemos entender sem a nossa própria decadência.
O punk que levamos dentro é um náufrago desesperado que se afoga no
seu mar de queijo.
Se o punk nasceu morrendo é porque a essência do punk é a sua
própria crise.
Porque é o exabrupto de quem descobre a merda debaixo da alcatifa do
rock and roll.
Porque é o filho deforme de umha cultura desorientada.
|