Siedrometalurgia

Ramom Anjo Lareu Riveiro

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Viagem perdido em Ceivanderri (1994-1998).






pola diáspora do tempo
e as horas de sono perdidas
que engendrarom a mágia
as bágoas cristalinas
e a beleza dum sorrisso.















ao meu avó Vasco Riveiro Oliveira,
marinheiro galego.











PRÓLOGO: BERCES DE CARVALHO

I.-EPOPEIA OU CLÍMAX DOS EMIGRANTES QUE VOLTAM À TERRA E TENTAM REINTEGRAR-SE NOS NÚCLEOS POVOACIONAIS DOS QUE PARTIRAM OS SEUS ANTERGOS.



dim que diciam que dixeram
que as regueifas das nereidas
perduraram nos muslos entrecruzados
quando aqueles que a sonhar voltarom
e asanharom (ou talvez nom).

dim que diciam que dixeram
que o sol tornara incandescente
baixo aquel parrafeio da harpias cronotópicas
que adorando ao excelentísimo senhor dom
PRESIDENTE DO CENTRO GALLEGO
heróe guia e putanheiro
dos vitoriosos retornados
usuravam aos leões indecisos
e erguerom ruínas renovadas
plantadas sob o sol da disidência.


aquilo foi glorioso
e laudatório
porquê nom havia de sê-lo?
os emigrantes voltavam à Terra!
ora bem o plano de governo
«Vuelve a Casa» guiava aos tele-invidentes
das foliadas de Protéu
e as nais parturentas
vírom ao Príamo sedento
cantando um alalás
de camiões e peixes voadores.


com todo
o augur dos novos tempos
bicava o embigo cilíndrico do Ajax totémico
baixo o aturujo mortal
das vagas infindas.

emporisso aquele estúpido Ulises
descia à sá de máquinas
para estragar a válvula hipodérmica
que regulava a vergonha e as ganhas de
chorar
ou sí como nom
chorar
pola nubem e a penla de Talía
que deviam ser consumidas
por via oral
adorando um Tíades ou
Pico Sacro cheio de
neões
aínda que a excelentíssima senhora
SECRETÁRIA DO CENTRO GALLEGO
realizara hiperestésicas oferendas
caricativas ao velho actor fracassado
de tele-novelas cardíacas
que nom (que extranho!).
que nom chegou a presidente de República bananeira
porque nom gostava das bananas nem
do arrós à cubana
fóra de que o desafio de Gorgona
se convertera na olhada cristalina
das almas intranquilas.


sem embargo
prouguérom
quando as doncelas da Estige
decidirom alugar moqueiros
e mamechas canoras
na proa do altivo cascairóm
namentras os antagonistas ou
mouros de Vesta
sangrárom os últimos bafos de carragem.

que diciam que dixeram
que no retorno gloriosso dos nossos
ou vossos
ou de ninguém
emigrantes a deidade mensageira
clamava polo Presidente ou
Heróe do retorno gloriosso
ou pomposso
ou fachendoso
agora bem (ou mal)
tamem podia existir o perigo
de ver um lobishome bolxevique jogando
aos naipes polo Orféu a fluír ou
a rolar
polas canherias das ondas mortas.

quando os retornados chegárom
à Terra ou
ou a nom sei que lugar
Escila apoteósica cintilante organizava
a sua ruada de estrelas
fugazes e meteoritos
que se dirigiam e perdiam
(podéndo-se estragar)
polo caminho das serpes húmidas do céu
no instante maldito no que as cantadeiras do Líber
vomitavam (OU PRETENDIAM VOMITAR)
pola escotilha os últimos fogos airados
das hespérides ninfómanas
justo quando o Atlante malfeito
conjurava o ensalmo
contra o povo retornado.






II.-IMPOSTOS, TIMOS, CORRUPÇÕES, CRÉDITOS HIPOTECÁRIOS E DEMAIS EXPULSAM AOS EMIGRANTES RETORNADOS DOS NÚCLEOS POVOACIONAIS DA GALIZA E FUNDAM A CIDADE CEIVANDERRI À BEIRA DO RIO HOMÓNIMO.



assí foi como aconteceu.

um dia as quantias ou análogos
ou gravames que recalavam
ao traizoar as pessoas santas
morrerom
e as caliveras que ham de se pagar
sob as propriedades
inmobres
na degeneraçom da supraestrutura
obrigatoriamente caírom
e prometendo ao episteme
começarom a mistura suor
com grandes doses de seme.

dia nascérom
com garantías gratificantes
que logo
a Máquina para ou por
e coa verificaçom negativa
do pagamento dum empréstimo
troquelava sobre os dormitórios ensanguentados
e co revólver da moral e da praxe
que este acolhe (ou acolhia)
morrerom
porque cheirava a morte súbita
porque cheirava a presunto ibérico
onde só medravam pementos e curas.

aconteceu que as medusas e os chanfonetas
debulhavam vizosos de flatulências
brilhantes fucsias da dança dos sete panos.

finalmente o êmbolo
ou cumprimento de todo
o que nom se cumpre
e os desejos
de qualquer outro gurú
e dos costumes púbicos
das mónadas na obriga
total
levarom às pessoas da nodriça
a arranjar a cábala
do derradeiro estigma
para nom ampliar a CRÓNICA
NEGRA dos gnomos e relójios
e molhar os escrotos estampados
nas águas do Ceivanderri
que (aínda que o pareça)
nom tem nada a ver com
(London)Derry.

nom tem que ver
COM NADA.






III.-SÁTIRA DO MINISTÉRIO DE TELE-INVIDENTES DO GOVERNO CENTRAL ESPANHOL QUE FUNDA CUM ORÇAMENTO DE QUINHENTOS MIL MILHÕES DE EUROS UMHA «CIUDAD EJEMPLAR» DENOMINADA CIBERCITY PARA QUE OS GALEGOS TENHAM COMO MODELO.



chegarom vestidos de cosmonautas
baixo o demiurgo do velho canaval
e as pirámides da desesperaçom
sumírom-se baixo as águas dos estaleiros.

traiam novas ideias
e tal vez tamém originais
traiam em fim o solipsismo
das insolações dos pés avandonados.

chegou gente de marca
após da gente marcada
chegárom fazes de fruita
e umha plusvalia enriquecida
baixo um sol cinxento.

os peiraos como pálpebras metalizadas
frunciam o céu
no que que se suspendiam os últimos acantilados
e as mãos dos relójios
sinalavam os Holocaustos apolíneos
no silenço calmo que antecipava o medo.

chegou em definitiva
a grande Cibercity
a espectacular meninha prodígio
puta antes que feto
demo antes que anjo
medo antes que teima.

chegou o passeio em barca
na lagoa artificial
o primeiro mês do inverno
a pessoa pechada na pantalha açul
chegou Cibercity.

as escavadoras retiravam a neve
vomitada polos padeiros e
as perruqueiras depilavam os cables
que medravam nas axilas
dos diques justo quando
os elephantes petrificavam o lixo
coas suas pegadas empíricas.

chegou Cibercity.

um réptil morreu baixo o sumidoiro
dos lodos e os ovos alopédicos
coa nena que chorava ante o escaparate
seqüestrado.

chegou Cibercity.

chegou o ente inteligente
a pantasma do asma
o tosco e o chosco.

chegou Cibercity.

pero algúns aínda seguem a buscar
triángulos gravados
no chão das estradas.






IV.-CIBERCITY MEDRA TANTO QUE ABSORVE A CIDADE DO LADO, CEIVANDERRI, QUE PASSA A SE CONVERTER NUM BAIRRO-GHETTO DE CIBERCITY E FICA REBAUTIZADO COMO LUMPEMGREI.



arames acoirazados nos resortes
iconos enfastidos nos relanzos.

a luita papou aliage e cortiça
a besta enguliu o grei da saraiva
e pechou ao rio Ceivanderri
na coiraça dos sumidoiros.

porque medrou antes de nascer
e na desgraça.
se chama Lumpengrei.

porque no bairro-ghetto um relójio
nunca marca a mesma hora que outro
e os reféns das trevos e labras
grapam as infraestruturas da xilaba
tamém
se chama Lumpengrei.

e um dia chegárom os engeneiros de Essem
e os indícios das eirugas vomitárom cistes veludos
sobre o plancton metalúrgico.

outros preferírom manter furanchos de maniotas
ante o anámnese dos iconos invasores.

logo as lanternas aproveitárom o êxito das perrucas
tralos medos da Nóese e as lagostas
e tamém as lapas que vomitávam os amortecedores
chorarom aquelas gargalhadas impunes.

finalmente já
as ruas eram cemitérios estridentes
nas lendas universais.
iniciativas das bagas
em máquinas polivalentes
abrentes nostálgicos
de estrelas novas
dúvidas enigmáticas
nas gorjas rítimicas
respostas de rochas irracionais
ou espaços iámbicos.

nom se via rem
só havia um silenço enxordecedor
tra-los caminhantes ígneos
tra-las bebedeiras de éxtases.

em retrorreproduções
dos comboios de imagens
ou teologias de Yeats.

soio
olhadas perdidas

perdidas.






V.-ODE A ILDUARA EIRAVELHA, PAIO NUNO E GIANA ÍNSUA NASCIDOS «À BEIRA» DO CEIVANDERRI-CANALIZADO E QUE CONHECEM AO AUTOR DESTE POEMÁRIO EXTRAVIADO EM LUMPENGREI TRAS UMHA ALIENANTE ESCURSSOM POR CIBERCITY.



1.
ia caminhando perdido polas ruas
molhadas. por alí só havia edificios baixos
e casas altas acinadas. construões escuras
e húmidas. nom se esculcava o
final daquela rua pola néboa mesta
ou polo fume das factorias. as vias em
novelo do comboio industrial
atravessavam as casas e os pátios clónicos.

as
cascudas regalavam beijos cariados e espelhosos
alí onde os tubos pingavam
sonhos de saudade e phosphatos. começava a molhá-lo
aquela poalha deminuta e
os nenos jogavam na estrada esbaradiça
cada vez que nom passava um auto ou omha mota.

(PASSA UMHA LOCOMOTORA. RUÍDO ENXORDECEDOR).

perdido e sem rumo deixara já
mui atrás os ranhaceios e os edifícios
inteligentes. chovia pouco. as viúvas caminhavam
polas paredes e ele estava
decidido a colher o autocarro que o retornara
a Cibercity. perguntáva-se como
chegara até alí. semelhava
um lugar de deportaçom.

nom conhecia aquele bairro ou
vila ou cidade ou o que fosse! e nom tinha
muitas ganhas de o conhecer. era um
lugar horripilante e tétrico do que
nunca houvira falar. tal vez porque a Lorca
nom se lhe ocorrira escriver
o poema «PAISAJE DE LA MULTITUD QUE EXCREMENTA»
(NOITE PERDIDO EM CIBERCITY) estava
assustado. tinha medo! já chovia máis.

2.
(PASSA UM ENORME AVIOM. TAPA OS OUVIDOS).
máis adiante atopa um grupo de rapaces
a falar
cum muro ennegrecido: um muro
um moço e duas moças. ia frio. a lua
semelhava o ventre dilatado dumha limacha
somnolenta.

o moço levava um vagalume engaiolado
um brinco na orelha e umha
camisola na que punha AOIDE.

a maior das moças levava um livro velho
de Nietzsche um colar no que se lia MELETE
e umha serpe ferida e metálica
enrolada num braço.

finalmente a outra moça tinha
a palabra MNEME tatooada no
embigo um lobo instintivo de aziveches e
um disco compacto do que nom desejo
fazer publicidade. chovia e nom
o sentia. seguramente falou com eles.
AÍNDA FOROM NASCIDOS EM BERCES DE CARVALHO!

3.
el díxo-lhes que era um viageiro que se perdera
em Cibercity. passou umha
motocicleta estruendossa. dixérom-lhe
que estava tentando respirar em
Lumpemgrei
sem máis
e baixárom a mirada. a sereia carcomida dumha factoria
cercana
anunciava estoicamente a fim
da jornada. choviam cavalos aferralhados. os
cabelos húmidos e longos dos tres moços eram fermosos
e ocultavam morbosamente
os olhos misteriosos que espertárom
no molhado e perdido viageiro umha série de
silogismos dialécticos.

el chamáva-se Paio Nuno
elas
eram Ilduara Eiravelha e
Giana Ínsua moça e irmã do Paio
despectivamente. o viageiro perdido podia ser eu.
elas e mais el aguardavam sem mais
a saída
do pai de Ugia umha amiga do Paio
que finara oito anos atrás. era
o cabodano. os trabalhadores máis novos
aínda saíam algo contentes
os velhos semelhavam cépticos. apareceram os
cadavres de sempre acuitelados
polos biperinos abrecartas.

FITAVAM AOS OLHOS OS SALTÕES DECAPITADOS.

dixerom-lhe que o autobús digital
de Cibercity já nom passava por alí que
teria que aguardar umha hora
polo autocarro. durante esse tempo o viageiro falou com
eles. rírom chorarom e odiarom.
adorarom
aos péndulos lanhados e às lumieiras
anabolizantes. adondarom e beberom da saliva do inferno e
chuspirom passaros triangulares.
chegou ou autocarro e o viageiro marchou
cos kurgáns de Cibercity. rematara o
saturado teletipo da
simbiose. chovia às moreas.

4.
DESFACIAM-SE ENTRE OS DEDOS OS ENRUGADOS ELEPHANTES DEGOLADOS.
voltou o viageiro dionisíaco
atraído
pola mágia dos rapaces que alí conhecera.
matou um cervo branco a atopou às rapaças
a falar co famoso muro o muro da
Nóema. O MURO DAS REFLEXÕES. o Paio
Nom estava. (alguém atentara contra as
oficinas propriedade do empresário
Senhor
McAbro). estava na cadeia como outro
preso cautivo do
ente da gaiola perdida no gume da consciência.

as ruas eram os
coitelos surcados nos olhos dos
felinos. só estavam uns meninhos cheios de
cerveja e jaravaca e o avó senil de Ilduara
guardando umha esfarrapada
bandeira vermelha por se a alguém se lhe ocorria
fazer umha revoluçom. Ilduara
buscava burbulhas de sagrados vermes
nos buracos. Giana ravenava as nádegas
misericordiossas nas favelas de Lumpengrei. o Paio
estava no cárcere. dispersado.
seica antes de ingressar colheu raivosso
a estilográfica da reveldia e no muro
das reflexões escriveu
          brinca brinca e brinca
          brinca e segue brincando
          nom chegarás à lua
          os pés acabarás mancando.
















SOCIEDADES INDUSTRIAIS DEGENERATIVAS


acó as sociedades industriais degenerativas
som as sinagogas do caminho perdido de Essem.

dispara! e desata a tua xenreira
que o Paio tem fame vulcana
dediante do mesmo prato eterno
de lentelhas carcerárias.

e um algo fai-me crêr nessa loucura da maricona borboleta
loucura madiante a qual mima ou ou expressa
o bardo ao penedo ou à água limpa
e vive photografando ou pantaseando
de traer algumha beleza à memória
ou à imaginaçom
inspirar umha olhada a umha musa defenestrada
como golpes que as belezas produzem na alma
perante os olhos e o narís.

acó as sociedades industriais degenerativas
som a ferramaenta ardente do columbário Slum.

dispara! que Giana se topa entre o fruito alheio
e o cheiro a lijívia neste
mencer pobre que antes
visita às sobrinhas do mercadeio corrupto
da história corrupto
de tranzes do ánimo caracterizados
por umha inspiraçom orgánica
conseguinte a golpes dos dedos e ouvidos baralhetes e antontes
e estátuas ou carautas que dos objectos
percibidos ficam na alma
perante umha heroicidade ou efeito de invocar a um bardo
próprio do aburguessado dumha beleza
ou que lah pôde pertencer com o prostituído
elitismo do conjunto de adagios articulados cos que
o bardo manifesta o que debece ou palpa.

dispara outravolta! que acó as sociedades industriais
degenerativas som o empório da noite pecaminossa justo
quando Ilduara me topa ante a vizosidade
visual torturadora e psicodélica.

sim
porque um chupa-chups agocha
dúcias de cem felações
expostas ou propensas a umha beleza
a cadeias e classes de estantes
que ha-de-ter um poema
série de adagios ou motricidades que se sucedem
dum modo regularente regular
como gratas e harminhiosas prendas
e sucessões de laios e prisões.

em Lumpengrei o velho sindicalista aínda
sonha coa organizaçom
desorganizada ou desorganizaçom organizada
e com trincheiras e coitelos da linguagem poética
e prosaica do gamahuche
e com fetiches carautas dumha beleza
que dam como produto na probeta miragreira
que um home por umha mulher arruinado
e umha mulher por um home profanada
juntem as suas desfeitas calcinadas
coa ingénua esperança de que um talo
verde vigorosso
emerja de entre os seus
escombros
para sempre escombros.
dispara! dispara! dispara!

acó as sociedades industriaia degeneratias
som as efemérides
e profetizações
do velho poeta futurista.


[ao redor do lume]

mirarei
as mudanças macabras da morte.
nom faltarám
mudanças do gore.
pois já saberás que hai muito amor ao redor do lume.

os bidões quentam-nos...
(amor pobre e lenha verde
tamém ardem se se acendem?).

nom namorei rem
pero aprendím muito dos teus segredos.
muitas mudanças.
agora hai muitos sonhos nas juntanças ao redor do lume.

[a janela]

ou sim
berrade-lhe ou berrade
a correr
tras a esperança da galáxia minguada
tras as megalópoles em escala na necrosfera trastornada
sempre houve um devalar catastrófico
fundindo os fusíveis
e as plusvalias perennes seguiam ao satélite jubilado
e os mercados caducos aos reacactores transgredidos.

sempre...
umha leucémia senil?
pegamentos e petróleos?

ou noxo
tamém umha janela.

sempre bardante.

se nom
rubide ou rubíde-a
a chorar
polo pesadelo daquele luceiro inútil
polas lámpadas destruídas no solpor fabril
às um faro degradado incapaz de guiar
ou a lua estragada ou o tesouro noxento
como arrolos techno-house como as liberdades estragadas.

às veces...
um tumor cerebral? válvulas e turbinas?

ou lixo
só umha janela
às veces rem.

[kamikaze-caso arquivado]

puvelas arumes e landras...

douradas metaliçadas e vermelhas folhas
todas girando e se espalhar
cos nenos do parque.

o solpor a carrejar às alancadas
umha esfera vernelha que albisca
umha nena apressurada a abandonar o zoo
fugindo do Sátiro e dos trasnos.

a neve derreteu-se hai tempo
e o povo florescueu de novo
namentras os nenos
andavam a jogar.

ao mesmo tempo umha moça precoz treme
e arqueja
abandona o seu balsámico fruito
tras a carvalheira
no meio da nada
no seu berce sartego.

o corvo aparesce voando
pola sinistra

as pálpebras negras
polo rimmel corrido
as pernas a se tracantear as dedas insensivéis
um beiço ferido
por falanges masculinas
a vulva grapada.

nai kamikaze.

Fuge coitada, fuge, que ja soam
As duras ferraduras, que te trazem
Correndo amorte triste.

António Ferreira


[come de mim]

o caravel afogado na charca
chora no seu leito de folhas
marelas vermelhas marrões
e a pedra dum vale de musgo
cuberta berra: meninha da água.
a lua coa cor do sangue
profetiça o que vai chegar
cria a semente interior
a umha apetitossa polpa que a rodeia
a clama: come de mim.
o passarím silvestre morto
com perlas de orbalho cuberto
aparesceu esta manhá no meu lar
sei que denantes morrer
berrou: meninha da água.
fomos à lagoa dos ventos
vimos a noite chegar
saudou-nos co seu séquito de estrelas
e eu nem conte me dei
ti dizias-me: come de mim.

[mímese-«pis» nom é «peace»]

solapas múltiplas jogam ao parchís.

laço vemelho
laço verde
laço açul
laço marelo.

laços de cores
nas pretas solapas.
repressentam as cores
à realidade social?

u-la cor do POVO?

a sociedade está banhada em lijívia.
a cor da sociedade está destinguida.

alerta!
nós só poremos na nossa solapa usada
o nosso laço destinguido sem cor
estragado e corrosivo.

assí é a MIMÉTICA
das ruas e favelas
de Lumpengrei.

[aínda máis difícil]

como numha enquissa pergunto:
em que cristal se vê...?

Valle Inclán vê a travês do fundo do copo
Blanco Amor vê a travês
dos olhos
das gentes marginalizadas
Méndez Ferrín vê a travês do bafo do vidro.

mais aínda máis difícil...
sem rem dediante da olhada sem influências
nem deformações
oculares
Ilduara Eiravelha vê o mesmo
que estes descrevem
cos seus próprios olhos
limpos.

namentres vos anda aos biosbardos
vê o limbo do oráculo ne vassoura
que porta Anónimo Expósito Sinsegundo
o vizoso esbrinço do
tio
vivo
como o neno-morcego que gosta
mirar polos buratos das portas
os ovarios estirpados pola negligência
do Godzilla crápula particular
e as hemorroides daquele
porxeneta
subencionado.

vê muitos grilos numha soa gaiola
vê todo o o esperpento
escarnho
e desgraça
sem rem que lhe influa
e sem lhe botar a culpa ao Meco.

tenta pechar os olhos e pensar nessa borboleta
cega e xorda cheia de lus e som
mas tem tamem pálpebras caleidoscópicas
e vê os nenos mortos no Auxílio Social
narnexos na sua espelunca óptica.

vê suxas cabriolas e ambalinas rotas
vê sinte cheira
e oe:
—compre choermos tafures...


esta overdose fará que esbaeça
e que acorde depois
como sempre
na saída traseira do restaurante chinês.





ELEMENTOS PARA REDUZIR O OZONO


cabelos loiros e pel de leite
rosa sem espinhas para ferir-me.

os elementos para reduzir o ozozno
som os sanguessugas inspirados
do derradeiro Long John Silver.

cabelos loiros
peiteados polo vento
briseira senlheira
senlheira alma riseira
riseira meninha de loiros cabelos.

ferir-me nom me fire
ferí-la quere o sol e isso
fíre-me muito.

mentras o sol assassina
Paio so tem um papel
para fazer navegar no retrete
ou voar polo teito
os seus sonhos evasivos.

ferí-la quere o sol
a sua branca pel
cintila mais ca el
a sua branca pel
ferir quer el
a sua branca pel
queimar pôde el.

os elementos para reduzir o ozono
som os corredores da morte
que reagem co anti-cristo.

pôde deixá-la vermelha
como sangue de artéria.
queimá-la destrozá-la
e ravená-la
ferir essas redondeiras que tentem
cos seus ácios frescos.

mentras o sol assassina
Giana tuse na profundidade
das ruas
polo ar suxo ou polo pó
vermelho da sua escrita comprometida.
(e comprometedora).

só as suas fazulas
só os seus beiços
só as suas unlhas
no seu corpo
devem ser vermelhas
como é vermelha a
dôce guinja do pastel.

os elementos para reduzir o ozono
som os retornados
que perderom o cetím
e o carmím
no barco.

só ela só ela
cintila máis ca el
inveja do sol
sol assassino
da minha senhor.

mentras o sol assassina
Ilduara desinfecta as suas feridas
coas bágoas que baixam
polo reflejo do neom
ou dos lóstregos.

pel de leite cabelos de mel
cintila cintila sem fim.

os elementos para reduzir o ozono
som os úteros sodomizados
polo TeDeum das mesalinas.

sol sem coraçom meu coraçom.
ela é o meu cintilante coraçom
inveja
inveja so sol.

em defintiva
os elementos para reduzir o ozono
som piores
que qualquer poesia
cursi.

[esquelete de neom]

saim a mais
e perguntaches-me
bip-bip
o porquê das minhas verbas
verbas digitais
que poquê sosmos carne
de canga.
bip-bip.

carne?
isso é o que nos queda
nos pálidos saramagos
do esquenzer morto.
bip-bip.

já nom sei
já nom sei como escrevo isto
será que o pegaso ecoa
e bate outravolta
os meus vidros coas suas asas.
bip-bip.

e vejo
tal vez
a tua calcárea caveira
os teus olhos de kamadám
e penso
nos que idolatram
a imagem do teu bico.
bip-bip.

ti destrozarás
destrozarás sem piedade
esta minha bateria
que as minhas mãos sujeitam
quando bombeia os voltios
(bumt-bumpt bumpt-bumpt)
aos meus cables
estes cabelos do demo e
pecharei tamém (se ningúem o fai)
as video-cámaras desenfocadas.
bip-bip.

e parirás (sem dúbida) um griffom
desse teu couselo fecundo!
bip-bip
que matará o meu...
o meu pegaso
e eu
eu sujeito a um Zeus
cambeiro em cénit
e...
carne?
isso é o que nos queda
nas escuras sequoias
do esquenzer
(outravolta)
morto.

a carne apodrecerá
irá-se-lhe a frescura
nem sequer
bip-bip
ficarám aquelas coalhadas
coalhadas de orbalho...

...e logo verás o meu esquelete
o meu esquelete de neom
sem vida
sem VIDA?
e...
morrerrás do susto!
(BEBA CIBER-COLA).
bip-bip.

[snog-imperativo agravante]

nom hai lugar mais húmido que Lumpengrei.

só hai um ventilador para todas as cobalhas
hai falha de ventilaçom
hai altas temperaturas
hai elevada ruinidade
mais nom estamos pechados entre quatro muros
que estamos ao aire livre...
aire... livre?

nem sequera o aire pôde ser livre
ameazado polos lançalapas fabriles e jiringas atómicas.

estamos tamém
num tunel de dia
num faro na noite
entre encoros de mocos
e condões de chumbo.

sabendo dos depósitos de holocaustos
sabendo tamém
que o centro da esfera açul celeste
é um pentágono VERDE
MILITAR.

que
vidros e tenaças
cesáreas e cirroses
padecem as nubens
e os raios de sol.

emporisso que
a única forma de estarmos seguros
seria estarmos atrincheirados nos bares
do devir e da farándula.

ogalhá todo o nosso problema
fosse a contaminaçom cultural techno-maniática.

ogalhá...
aguardem um intre
cháman-me polo tele-móvel
estando eu inmóvel.

(até o próximo poema).


[treboada]


I.
a treboada colheu-me pechada no desvám
tumor cerebral do ranhacéus.

só umha celosia cariada
permite albiscar o xilófano distorsionado
só umha lâmpada como um átomo
ilumina o meu medo desconhecido
só um baúl incógnito
alimenta a minha curiosidade
só um akelarre
só um jílgaro morto
só um ferro oxidado no chão

sem folgos.

arestora as paredes com cadeias decoradas
evitam a incurssom da lus
                                        do ar
                                        do luar
                                        do futuro abrente?
                                        da calma desta treboada?
nom.
                                        do efeito invernadoiro.

arestora só escuito o oubeo do lobo na cidade
e sinto alérgia
por tanto pó
por tanta borralha
polo cheiro a lijívia.

assemade
a parede com cadeias decorada
engendra pó rocha e tebra.


II.
o desta noite foi umha treboada
manhá quando estoure o vástago cogumelo
de Robert Oppenheimer
um fórceps de giada e sangue
levará-me aos alicerces de eu

                                        cecais a um soto húmido

                                        ou ao sumidoiro da vila massacrada.


[ruas abisais]

estradeando polas cidades dos alternadores
caminhando entre as cadeias dos passeios
com coidado de nom esvarar nas fontes de lama
passando frio nos jardíns das maquinárias.

seguiremos flotando no valeirp como sandeus
entre paredes-armaçom e fiestras-guilhotina
pois nom somos quem de rescibirem os taxis da morte
ou lápis se sangue vacua nos cinemas do petrodólar
ou vetilhos de N.Y. e bacantes de L.A.
entre cheminés de ranhacéus e soportais de sombra.

idolatraremos a olhada autista dos peatões estalctitas
do iogurte pornográfico no toldo dos escrementos
do autocarro-fornobparado no semáforo-galimatias
dos sumidoiros multinacionais ou bariles peseteiros
dos colectores de limadura ou beches meseteiros.

no final do caminho bidões e papeleiras
lembram que sempre haberá umha lus prismática
e que no derradeiro chanço até ela
sempre se apagará o adro da factoria.

a nossa olhada motriz vê ruas abisais
registra escaleiras rematedas em precipício
processa hoteis rematados em cárcere
—pulmões cordas vocais epíglote laringe
veo padal alveolos língua dentes e beiços—
e pecheda entre bares de imsómnio pronúncia:


«—aos moços às moças aos vinte tantos anos
já lhes faltam a metade dos dentes
como sapos
relójios...?.


frase sem rematar por contra-indicaçom.

radiographia da frustraçom.

[desinfectante antiséptico]


passear polo velho cemitério
só me deparou
que ravená-se o nocelho
cum crucufixo oxidado do chão
que tentando invocar ao Ceivanderri canalizado
ria co vento que esparexe alporiçado
palavras de corte plutoniano
que som semente da xenreira
e das máscaras-dos-pánfilos-soterrados.


onte e antonte sem perdom
puxerom-se de saldo as reservas
para viagens ao limbo
(alí-onde-os-gamines-sem-folgos-tatejam).


as escuridades dadas a lús
incentivárom o alunizagem
do concorde esmorgante
guiado-polo-íbis-bébedo.


a herba húmida acelerou
o esbaramento do sonámbulo
na chaira das prospecções coprófilas
(ou oposições-abertas-a-bascas-nogentas).


e como se ria a fedorenta zargüeia
quando o circo clandestino dos parados
foi multado por apropiaçom
indevida de caudais públicos.


e a gota fria borrará
os graffitis insultantes tatooados
nas tumbas dos derrotados
(mais seguirá grabado sobre o mármore
com letras grandes de cobre:
PERDEDOR).


o nocelho corre perigo de se gangrenar
cómpre que saia correndo de aquí
na procura dum desinfectante antiséptico.
des. anti. perdedor.

[o pó do giz]


foi quando concluiamos
a brindagem do robot
deitado no divam de formigom
que as campás do puti-clube argüírom
a asfíxia do invernadoiro
excedente em pó de giz.


o pó do giz que tapa
o álbume de photos e retrincos
coas bágoas derramadas por Nadezna
cos companheiros de luitas e de coitas
com mulheres e homes que vam
de Baader a Mariana Grajales passando por Reboiras
do ente onde se perdeu o rastro de Cienfuegos.


o pó do giz que se pousa
nos retratos deitados na húmida catacumba
de guerrilheiros de quarenta e de oitenta
de mártires do trinta e seis e do setenta e dous
dos últimos derrotados semente da vitória.


o pó do giz que se mistura
com piranhas e cascudas
tse-tses e arácnidos
co grande peom no mundo de verborreias e ditirambos
e
coa graxa seca da frigidora
que atasca as pechaduras do soto.


esse
pó de giz que nom chegará
às trincheiras e barricadas
que som
um manhá escuro
para um passado-manhá futuro
de lús e de esperança.


          Veleiquí os camaradas
          perdendo unha batalla cada día
          e gañando o futuro e o fulgor
          nos ollos e nas queixadas de metal.


                    X.L. Méndez Ferrín


[a casa de papel]

como nos queremos tanto
como nos seguiremos cegamente
fugiremos desta sociedade do triunfa ou morre
fugiremos ao país solítário do papel branco
iremos
a modo se é Sodoma
e faremos umha casoupinha cos livros proibidos
quando atemos ao são-bernaldo estatal.


navegaremos num barco de papel branco
mui branco
por um mar de alma virgem
que nom visse a lús perversa
e sem mirar nem arroaces nem sereias.


voaremos num aviom de papel branco
pola noite das candelejas puras
e sem fazer caso do vagalume fosforescente
aterraremos na nossa casoupinha de papel
sempre branco sempre branca a nossa companhia.


nom teremos lume quentarémo-nos juntos
destruiremos os relójios digitais impostos
alimentarémo-nos dos desejos e da fantasia
durmiremos no divam do tempo estático
alonxarémo-nos para sempre da pipa dos trascordos
que queime cumha faísca a nossa casinha de papel
os nossos sonhos
as nossas
contas
enfáticas
da leiteira-
-do-candomblé.











MÁQUINAS, ESCUDOS E TREVELHOS DE ARMAMENTO


nom hai dúbida de que Hemingway
era um borracho, maldita seja Espanha
nom aturo a nengúm dos
dous.


Charles Bukowsky


seica assí é
que as máquinas escudos
e trevelhos de armamento
acadam aos nospheratur do
Lebensraum espanholista.

e quem inventaria a corridas dos
toureiros
cos touros?

só sei que as máquinas escudos
e trevelhos de armamento
som a violaçom abominável
do tempo.

(E DO ESPAÇO).

pero quem se lembra do cíclope
dionisíaco que converteu a Allende
Ho e Tito em estereotipos de conjuradores?

nom o sei
só sei que as máquinas escudos
e trevelhos de armamento
som os sensuais capivaras
da Amazonia morta.

sei tamém que Ilduara trafica
coa matéria que permite destruír a realidade
ou chacal
embaucador do equinóceo
perdido entre a transgalaika morta.

cecais Giana esteja aínda a chorar
a desdita da sua culpa irrepetível
e soterre a derradeira pomba-bomba
ou rata alada vingativa.

O´Paio sonha coa dança altiva
das olhadas e as sombras ou
coa lembrança encadeada
do cadáver de Ugia finada
(ou confinada?).

hai quem dubida quem
matou o Kurt Cobain
e porquê morreria coa mesma
idade que El-Rei
lagarto.

pero quem dubida que
as máquinas escudos
e trevelhos de armamento
som as capoeiras e escursões
polo parque Tlatelolco?

ninguém se lembra
isso sim
dos tentáculos do papaventos
que trabalha nas tebras
nem da cosa-vostra que viaja em vagões
com cribas mecanizadas em ácio
e dirigidas polo Buffalo Bill multinacional
que cabalgando o dóverman cibernético
segue a exterminar aos sioux da
nova era.

e pode tamém
que Jim Morrison fosse
mais borracho do que o Hemingway
mais contudo (polo menos)
el nom gostava da MAL-DITA Espanha
nem da sua nogenta festa
nacional.

é assí como se escreve
o conto
e a diáspora snob
canta e baila
Johnny be bad.

e namentres a pequena morada
luite contra tanques de carcoma
levando os transfer tatooados na olhada
as máquinas escudos e trevelhos
de armamento serám (POR SEMPRE) os gumes derradeiros
do animal-mal totémico.

[sombras chinescas]

figuras chinescas refractam os teus olhos
aí vam
a voar
e esas figuras convérem-se num cometa de cores
aí vai
a sonhar
pero umha ventada fai que esmoreça
e aí vai
por derradeira vez.

...o cometa de cores deitedo no chão: sementeira de vidros
aí vai
quer voltar!
quer voltar ser a a beleça dos teus olhos
aí vai
mais nom pode
a dureça do chão crebou os ossos do cometa chinesco
já nom vai...
nom voltará...

[caos]

o caos será
a situaçom de equilíbrio
absoluto.
as balas e a brisa
assassinam os meus tempos.
as bombas assassinas
nom som o caos.

volcam criou a tebra nova
caos e anti-ciclom doagoiro
é bomba e nom bico
a taquigraphia da calculadora
situaçom de tuberculose do armamento
de vómito e armidom visual
equilíbrio das jaurias e das enrugas
absoluto túnel absoluto búnker.

o caos já é
a siuaçom de equilíbrio
absoluto.
as sombras e a suor
anestesiam os meus sonhos
a palvra mal
utiliçada é o caos.

levo um corte de mangas nos olhos
e umha palabra
só umha nos beiços.
a palabra leva incluída umha ideia
o conjunto de ideias constituem o pensamento e a sabedoria
a faculdade que produze a sabedoria é a razom e inteligência.
nela
nela reside o caos.

[descanse em paz]

adias a saída
desse bacilo de Koch
vomitas esse grapho destintado
zumegas umha vermelha inundaçom de morte
que se escapa mofándo-se do peito da paz.
as tuas brancas penas rotas caíron ao chão
como luzes ardentes dum fogo de artifício
e o teu sangue residual fíjo-se radioactivo
como umha maré de morte
na pupila.

cubriremos o teu cadáver
coa nossa bandeira sem escudo
e a tua ferida tnguirá no meio dela umha estrela
de cinco pontas afiadas.

nós somos
os que imos chorar sem bágoas
como a ti te matarom sem morte
e responderemos disparnado ao arma que dispara.

ti paz morreches na meseta
ti paz nasceras num berço que navegava polo Sil
ti paz zafaras entr pretos e brancos
judeus e palestinianos
ianquis e soviéticos...
e foches morrer na meseta meseteira
e nom em libialibanolibéria
quando a lua gangrenada
saloucava perdida
aquela cántiga de akelarre.

(...)

e adivinho que...
o nosso velatório será profanado
o nosso pranto encadeado
a nossa bandeira pisoteiada
e o teu cadáver será devorado polos avutres
frigíndo-te na gigante tijola meseteira
meseteira.

a última ironia:
que descanses em paz.

[as respostas-verssom original subtitulada]

aquel dia vim a lua cair ravenada
em formas de mamechas mutiladas.
saíam as gentes do desguaces
entre pneumáticos e txatarra
suplicando:
—pam, pam!
e jadeavam os de sempre
cos seus cilindros de quenlha
respostando:
PAM! PAM!

(E EU RESPOSTEI AOS CILINDROS FUMEGANTES!).

logo chegarom as orquestras de sereias
e a dança das cozes nas portas.

logo tencionei fazer escarnho do pranto
quando na minha ausência pronunciaches:
—fum eu!

e agora bico o teu chão coas minhas rótulas quebradas...
e suplíco-te:
perdoa-me meu irmao polo teu sofrimento na spiaras de pó e dunas
que nunca se mira a faze do que está tras a lanterna do solipsismo
porquê alguém avariou o nosso teleférico quando estávamos no ponto máis alto.
nom estava para evitar a tua innecesária heroicidade
quando na minha ausência pronunciaches:
—fum eu!

perdóa-me polas ratas estridentes que aninham nos teus riles
pois dói-me que vejas ameaçada a tua súde anal
polas mocas sarnosas dos funcionários da chave.
pois fíre-me que veja terras estranhas mortas
por entre as reixas ígneas e ardentes.
tivem medo e saím correndo
quando na minha ausência pronunciaches:
—fum eu!
perdóa-me irmão e arrínca-me os cravos neste sumidoiro oxidado
e maldito.
perdóa-me ou morro! resposta! irmão! resposta!

...

luitarei. para me reunir contigo luitarei.
no solpor ou no mencer...
...lá estarei.

(AMNISTIA TOTAL!!!)

[olhadas em guerra]

doces figuras projecta o nardo
sabores dedos fletados
Giana Sabela
Ilduara Marinha
Antia e mais Ugia
tantas mãos que pecham bicos.
ónde estám elas?
Filhas Novas Antigas Fidalgas.
ú-la cascuda que a tebra engendra?

mais eu preso
dumha cachoeira
prego e clamo
no éxtase do corvo
atrepado polas tuas unlhas
que a minha pel conhece.

todos os sotaventos retranqueiros
olhando as charcas de culpas
da tua mirada de vertical iris.

as minhas amas derrotadas no eido:
Saias Versos O Firmamento
e eu durmindo no refúgio
e morrendo
a revolos.

dirám os joelhos como umha nubem
o som dos nomes do teu corpo
como a paz que eclipsas
e um poldro gentil morrerá
polas dedas húmidas
que me peiteam
selvagens.

os teus olhos partem à guerra
que estrala nos meus.

estás onde o sangue abundante
mente
flue polo vale
em guerra
em guerra.

[bucólico]

bucólico referência algo idílico e pastoril?
nom.

é
a abreviatura
de
bukowsky-alcólico.

[bens gananciais-a matéria dos sonhos]

os sonhos levam ao sono
e o sono leva aos sonhos.

que seria dum sonho e
sonhar
e sonhar a sua vida por
sonhar que nom lhe temso medo
as engranagens oxidadas
que oxidadas estám
e ninguém atopará materiais antioxidantes
para estas engranagens
sem mercar um sonho por
sonhar e
sonhar poesia.

já tens un sonho para
sonhar
e sonhar à venda
recitando o conjuro da queimada
porque queimados nascemos
porque queimados morremos
porque fazemos parte
dumha grande queimada
o incrível um sonho que
sonhar
e sonhar o colecionável.

de poesia um sonho
sonhar com poesia
e sonhar contemporánea
mente
nos roubos de Petáin na inclussa
nos sabanhões de Ascot
nos cribados do Elliot Ness histriónico
nas arúspices do corvo
no cemento do matadoiro de serpes
no cártel de raposos
nas cheminés comprensoras de snog
nos cimentos dos clitórides
nos sismod do soul satánico
nos taveirões em cápsulas tout court
merque um sonho com que
sonhar
e sonhar nom pôde mais.

faltar um somho pôde
sonhar
e sonhar na sua bilblioteca
ou cama
as danças macabras
a chegada da matahari proletário
e o recordo do último grande incesto
mirando como morrem
os cigarros no cinxeiro
no seu quiosque um sonho
sonhar
e sonhar co número.

primeiro um sonho
sonhar
e sonhar grátis
coa mulher pluriempregada
esvaída nas escaleiras
cos neneos assassinados
nas ruas das favelas
co protocolo a improvisar
do dissidente provisório
no congresso mundial de gringos e sipaios
os segundos dum somho quando
sonhar
e sonhar números.











LUGARES DO UNIVERSO RADIOACTIVO

                                        a Marcos e a Mariana.

bem-vindos todos
nenos e maiores
ao circo das eivas
um lugar do universo
raioactivo!


o circo do xordo equilibrista
do pobre artista do inmundo
o circo que como qualquer
lugar do universo radioactivo
éo sinistro bucólico
da comodidade.


o circo do coxo funambulista
marido da mulher barbuda
o circo no que Paio
dança coas notas da morte
e coa destriçom das pegadas
digitais.


bem-vindos todos
cativos e ancianos
ao circo das eivas
um lugar do universo
radioactivo!


o circo do acróbata mutilado
personagem dum patético cenário
o circo no que Giana
se vê ameaçada polas derradeiras
balas do tsunami
entre o ántrax nictálope e sideral.


o circo do covarde domador
que teme aos leões desdentados
o circo no que Ilduara
está a piques de estourar coa estrada
molhada
como um cadelo que ignora quando os automóveis
atropelam.


bem-vindos todos
marcadores e marcados
ao circo das eivas
um lugar do universo
radioactivo!


o circo da arte eqüestre em burro
(animal que já nom meresce tal nome)
o circo que como qualquer
lugar do universo teleactivo
é o líquido amniótico
da enajenaçom.


o circo do trapecista cego
curmão do presentador mudo
o circo que como qualquer
lugar do universo radioactivo
é os antipodas dos fungos
e cogumelos violeta.


bem-vindos todos
donas e cavaleiros
ao circo das eivas
um lugar do universo
radioactivo!


o circo do elephante sem cornos
cujo marfím levou-no um rico inglês
o circo que como qualquer
lugar do universo radiopassivo
é o ermitanho que fuge
da vergonha.


circo que é o quasar que ningúm
mito nomea
o maravilhoso circo das eivas
onde sempre chove sobre a carpa
sementada de pretos buratos
e os nenos vem chorar ao paiaso
embaixo do graderio
endémico.

[Ethel e Julius]


velaí o jurado
sentado no retrete.
dicta a sentência
talhada com crisntemo.
nom.
pois sim!
morte da li-verdade
cal viva nos olhos da justiça
Salomóm bébedo e...
fazes de conos brancos
define:
IU
ES
EI.
morte na pouta eléctrica
da águia.

[braços da morte]


nos braços da sorte
eu púdem-che deixar
nos da morte
ti quixeches morar.


ti quixeches morar
nos da morte
eu púdem-che deixar
nos braços da sorte.


o meu coraçom sentiu um corte
eu púdem-che salvar
dos braços da morte
e ti quxeches ficar.


ti quixeches ficar.
dos braços da morte
eu púdem-che salvar.
sentím um laio forte.


pedíches-me ajuda
eu nom puidem acudir.
a tua voz muda
nom a puidem oír.


nom a piudem oír
a tua voz muda.
eu nom puidem acudir
pedíches-me ajuda!

[corisco-universo paralelo na Rua Fuco Gomes]


eu sei que
caminho polo vieiro vermelho
que leva ao povo esquencido
que os deuses nom conhecérom


a chuva que
molha a minha faze e
refrésca-me as fazulas.


sigo caminhando.

e paro para me agochar
na soidade estéril do mundo
do mundo dos sumidoiros
e a minha voz afoga o inerte baleiro.


sigo caminhando.

e paro para me agochar
na frescura perenne dos sentimentos
sentimentos abisais das almas e dos corpos
e a minha voz afoga o inerte baleiro.


mais eu sigo caminhando.

paro para me agochar
no salmóm que peta nos muros do encoro
da présa hidráulica na sua épica remontada
e aminha voz afoga o inerte baleiro.


mais eu sigo caminhando.

e paro para me agochar
no lixo da cidade do ricos
que adorna o bairro dos pobres
e a minha voz afoga o inerte baleiro.


aínda sigo caminhando.

e paro para me agochar
nessas vagajeiras astelas
que sem lume se consumem
e a minha voz afoga o inerte baleiro.


eu aínda sigo caminhando.

e paro para me agochar
na pessoa que racha a sua tolémia
como um cristal enigmático
e a minha voz afoga o inerte baleiro.


nom sei como sigo caminhando.

mais paro para me agochar
nesse sol catedral de julho
e nas frechas coriscadas de abril
e a minha voz afoga o inerte baleiro.


aínda assí sigo caminhando.

e paro para me agochar
nos reveldes cauces interrumpidos
polo silenço dos húmidos bagaços
e a minha voz afoga o inerte baleiro.


e sigo caminhando
e segue coriscando.

[a dança da joaninha]


escuitando cantar ao merlo na fraga
deitado no seu fumus arrecendente
como a perla na ostra
acordei
co teu perfume de briseira do vale.
é a dança da souril joaninha.
queimei-me umha só vez meninha
e nom voltarei a me achegar
ao lume
overdose de esperpento
perfume do branco crisntemo.
é a dança da souril joaninha.
montado num carvalho
virtual
cavalgava polo caminho de ferro
quixem brincar até o outeiro
nom chegava sangue ao cerebro.
é a dança da souril joaninha.
cos teus duros penedos a rozar
o meu peito todo ergueito
sentím a incandescência nas esferas
de chumbo
do meu fungueiro distendido.
é a dança da souril joaninha.
sabia que na cova do cogumelo
aguardavas polo teu guerreiro
entrou joto e xebre
moi xebre
mais saiu esgotado
derrotado.
é a dança da souril joaninha.
o vento seitura os meus cabelos
e os teus dedos sementam bágoas
nos meus beiços e gingivas
e fumigam conjuros
contra a joaninha
xenreira.
é a dança da sourila joaninha.
coa lua na caluga coa mente senlheira
espertárom-me do meu sonho sem sono
e rescibím a visita vigiada
e seqüestrada
dum amigo e companheiro perdido
esquencido.
era o pranto
da souril andurinha.

[rebelióm rebentar-hei]


caminhar caminhando
por riba dos copos rotos
onde as cascudas
som a miséria da gangrena social
emporisso as sombras chamam por mim
mália vomitar verbas confusas:
ñla chre kçu (cecais tenha a língua podre)
por mor do faro em chama negra.


esta conjura de néscios
co galho dos párvulos enforcados
a prol do terror atómico
engendra as tortiras e o estanho
no flato da burguesia.


as injustiças
as perseguições
cabo dos que sempre perdemos o comboio
cabo dos que nom podemos
rubir o derradeiro chanço que
remata nos charcos de mercúrio.


umha guerra de drag-queens
um nogento cintilar
umha faísca nas tempas
nutre a bacanal colonial
e fai soar o telephone vermelho


nembargantes
a opressom só se sinte na gorja
endebém
nom sei chamar polas tacholas
bardante
quando as quero beber.

e lembro
Rimbaud. Ezra Pound.
poetas malditos
malditos poetas
e nada mais longe da realidade das vassouras
nada mais perto da tortura da turbina.


endebém
caminhar caminhando
quê valor tem
é de balde
um par de passos mais
e rebentaremos
e rebentaremos.

[a noite da balística]


(à mocidade independentista).


I.
eramos só umha coveira
freavam o caminhar os esbirros do dianho
ao se escuitar o martelar das frágoas
de nós fugia o anel de morcegos
e em nós durmia a noite o seu sonho
eterno.
para saír fragoámo-nos como armas de defessa
ante a desconhecida lús do faro
que o nosso compromisso guiava
eramos adoquíns globos frechas
na balhesta e a Terra
que sementaremos
defendímo-la
sempre
a pedradas cuspidas
coa morte travestida de combate.



II.
os aros em escarcha construiam sombras
nos vidros rotos
justo quando
o tanatório ocupava toda a cidade e
guardávam-se as filhas protegidas que
os milheirais estavam medrados
e no sotavento da linha vulcana
á frente do povo
os partisanos
orientam na rua ou
no arró
ao épico bruído da fervença proletária e
o seu clandestino
gesto
multiplica paixões
porque a sua causa é
tamém
carne da carne descarnada da classe
e os camaradas eram a semente de estanho
daquela circunferência ardente
e as suas consignas
vagalumes nas tebras.



III.
começárom os estoupidos da noite dantesca
e um exército de zombies
mercenários
chegavam pola circumbalaçom
formando em ringleiras
e batendo as suas armaduras
e velaí ao longe um porco sobre
duas patas
um porco ao que os zombies pleitesiam
coa saliva fumegante da miséria
coa mirada cuspida da faze
e coa moca curva
que o mesmo vatia
na velha ou no rapaz
nos riles ou nas tempas.



IV.
foi quando os zombies de armadura carronheira
perseguiam o efecto do lobo sobre o povo
que estourárom os seus ferros
covardes
apontando aos corpos
tam só armados de impotência
e punhos
grapados às costas
e as esféricas granadas escachadas nos corpos
tatooavam os nossos nomes em todas as paredes
pretas
de esturro e de noite
cos redondos chumbos apreixadores.
num lado com paus vidros
os violentos
noutro com pistolas e cascos
os violadores
nos despachos de cheiro ráncio
a Violência.



V.
seica namentres
o vento enravejado
chorava em círculos polos moços
apaleados
e sei que os velhos
guardados na casa
ao final da noite
iam-nos levar no meio do pam
umha chave umha bágoa
e um coitelo do sam-martinho.
ao final da luita
um beiço partido
a testa machucada
dor nas costelas
camaradas presos
camaradas que já nom voltarám
caminhar pero seguremos
a ser trabalhadores defendendo
à Terra...
o povo galego berrava
nom me acodem já mais
barricadas e ruas ensanguentadas
quem nom te defende já?


(collage-mosaico das canções de combate de Bertold Brech, Carmen Cayetano Navarro, Pablo Neruda, Joseba Sarrionaindia, Rafael Alberti, Sílvio Rodríguez, e outros e outras,...).

[as notas do seu ventre]


ao boreal do seu género
soavam aquelas notas.


umha rapaça durmia.

os seus acordes achantávam-se
no seu ventre.


vem-na
a faze o contorno
e um osso
rabunha os arquejos.


algúns merlos vivram a deshora.

quando o home
deixa de jogar
duas axilas tremelam
tambores das suas mãos.


(livre paráfrase-interpretaçom dos conhecidos poemas «Boreal» e «Guitare», pertencentes a diferentes épocas, estilos e culturas).

[morte civil]


velaquí o silogismo
da anti-metamorphose
do ventrílocuo detonador
que fai desta morte civil
um show de alzheimer social.


na estrada preta
atópa-se o gigantesco baçar
de ortopédias e mutilados
outro show
de língua amputada que esquece
a destruiçom deste traje almidoado
e copula o caos das portas
que ao renger propagam:
mooooooooooorte.


na estrada preta
os coches fúnebres SOM MULTADOS
POR EXCESSO DE VELOCIDADE
e as máquinas de escriver
só sabem pôr umha letra anafrodisíaca
para que tateje este meninho de palhabarro
(se é quem de saír de útero tam estreito)
caminho do desterro
já tam típico
já tam tópico.

[tsunami-a onda gigante]


a onda gigante
asulagou os continenetes
made in siglas estúpidas.


a onda gigante
implantou a humidade
submarina sub-sub estatal
a prol do ombudsman subalterno
acosados polo subestimado grisú
da medusa capitalista subintrante
cos olhos pechados do subconsciênte cleptómano.
tamém a onda removéu o transgresivo subdesenrolo
asulagóu o ventre valeiro do subordinado fedái
e afoga ao ludópata subsidiado polos esqualiformes.
a falha de oxígeno do subjugado snorquel
provocóu a carência da fanzines subjectivos
que contrastava coa sub-produçom de batiscafos.


a onda gigante
implantou um novo regime
pero nomse notóu o troco
ninguém notóu o troco.











GERAÇÕES DE INTERNAUTAS ANÓNIM@S


já hai ciberputas no arrabaldo
e qualquer edifício já é mais alto
que a nossa torre de marfím.

nós somos como taxis
quando a morte ergue cedo o seu voo
mergulhada nos cons dos nossos osos.

mais eu tamém queria ser a minha sombra
para estar no lugar da minha sombra
e sentir as espinhas dos carrapitos podres
nos nossos pneumáticos espidos
ou pisar vidros velenosos dando voltas
sobre os funís de disipados escarnhos.

um home que queria receber
e umha mulher com muito que dar
havia um templo a finar perto
e umha demoalgia que nos punje.

-nos quando caem essas pingas
de trascordos dentro das nossas testas
e formam estalactitas de medo
e medram estalgmitas de soidade
e vigia o meu anjo morto
e doem-me até as unlhas crevadas
ao me caír o cabelo
flagelando o chão.

os sons das moedas
movem os fios das marionetas
co morse daquelas pálpebras
namentras Giana caminha polo velho lugar
onde os nenos jogavam e choutavam
convertido no holding ancreóntico
dos manipuladores ciceronianos
e Ilduara (minha coitada!) sinte a dor
dos burdeles a distorssom ao cruzar
descalza
os charcos navegáveis das lameiras
e sonha coa calorossa humidade
da boca do Paio Nuno
chia de salinas eternas
e de bágoas
que deificam à rapaça combativa que el recorda.

e nós buscamos a senda perdida da motivaçom
buscamos destrozar o pusilánome ànimo
que engendra delírios de cativeria
e vomita os espectros da
autofóbia.

as gerações de internautas anónomos
enriquecem aos fabricantes de óculos
cos seus olhos dislocados miopes seqüestrados.

nom caem pingas
pingas de trascordos das nossas testas
agora caem cuzos de sangue
sangue das nossas gemas.

e taladram nogentos escombros as moedas
cosem enormes suturas nos nossos beizos
e namentres conduzimos polas calejas
cos perseguidores da lús e do calor
sitiados nos recunchos mais esbaradiços.

e todo porque levo estes ferros veludos
nas pernas
e um cartaz luminoso
no lombo
porque (e repito) nós somos taxis
taxis das gerações de internautas
anónimos.

esses som
os nascidos entre autómatas arrepiantes
consumidores da burguesas hamburguesas
os nascidos cos grilhões da aliem-naçom
no simpósio bienal da crionizaçom neutra
os nascidos ante as salomas do solpor
e as efemérides dos insociáveis insaciáveis
som
as gerações de internautas
anónimos.

[banda sonora original-distorssom ciborg]

Money, it´s crime
Share it fairly but don´t take a slice of my pie.

Pink Floid.

a rentes do balbordo rxistia a cegueira
entre acantilados sem antropologia
a rentes do dimetrodom existia a distorssom
entre factorias sem estanho
a rentes do secador
um blues de acantilados
rabenadores.

o blues soava a reo rengeante
sobre uns planetésimos onda o contagotas
era fráncio válvula & charco
baixo o cribado repetido para Lumpengrei
se cadra
se cadra asubiáva-se
golpejáva-se desde aquela peste
desde a mesma peste selvagem
mortal ou inmortal
e a peste antonte estava case detrás do túnel da chantagem do aguardente
porque pretendia que existindo túnel chantagem & aguardente
progessáramos
isto pretendia que existindo monopólio nasceriam monopólios
isto pingava co galho do medo no médio das carqueixas
coas ciáticas singulares ou plurais
brancas ou nom de todo negras
benignas ou de todo malignas.

víveres nunca chegavam abondes namentres morriamos no acolá
como onte se degenerava muito
degeneráva-se ao medrar num ningures
como que fazia tanto que ia para aló e queria tatejar aquelas verbas
queria escupir ao cibernético que ordeava o nulha rem no ilhó
da intoxicaçom
tras o dínamo que ao martelar se derretia
e abofé que mirava as pestes que uns jabaríns propagavam
e aos cermets oxidados longe ou as suas rotativas multiplicando
incansáveis
quando perguntava
u-las demasiadas eixadas? u-las cascudas que matavam cascudas?
u-las lapas sujas inagadas de plutónio? u-los colegas?
u-los todos!?

quando emigrava a jalundes
actibava como luitar contra pestes biperinas
ante pirometalúrgias cibercontaminantes
ante nogentas charcas aginha ennegrecidas
ou perante a nossa absurda entelecheia
corria chorava
segundo a invejada paranomásia de Ilduara Eiravelha
ou cumha lixiaçom corrosiva
dumhas cambas
destruidas.

desde o taladro imperial
um zulo de aldava & ronsel
quando voava
jet Ilduara caida nos ratoeiros
e para sempre
caida.

a carcoma alkalina
um ranhaceios de cadeado &
talvez búnker
e como afogava
twister Ilduara derrotada nas guilhotinas
para sempre derrotada
(vigiada)
derrotada.

[doe-me]

o que vim fóra foi a dor.
A DOR
          a dor do lucecú perdido
          entre as ponlas sem folhas
a mim doe-me
doe-me tamém.

rapaça violada:
          («—ia provocando»)
          («—ela buscou-no»)
verbas de mentes
mentes envasadas ao baleiro
doem-me
vaia se me doem!

voa um arrolo pola fria
fria e gris alborada
é um arrolo orfo e
doe-me.


esta faminta meninha doe-me.
                                                        e berro:
                                                        emergérom tantas maldições
                                                        maldições do pandórico cofre!
                                                        e doe-me.

a água dumha botelha
xorda sereia de ambuláncia
arrebola umha umha cantiga e
doe-me.


guia-me a lús dotro lucecú
ourénta-me o som do grilo
cara as estanterias estragadas
estragadas pola carcoma e
doe-me


sae-me sangue dum burato
burato aberto no meu ventre!
é o sangue de Yukio Mishima e
doe-me.


o teito e o chão nados
nados co galho dumha lembrança
caem-me enriba e embaixo e
doe-me.


e a dor
a dor confrangue o meu próprio
o meu próprio distendido coraçom.
e que a dor domine no meu
no meu próprio coraçom doe-me
e isso
isso sim que me doe.


e que ninguém procure
procure a palabra DOR na enciclopédia
nela nom definem a verdadeira DOR e
doe-me.


Lagoa dos Ventos!
perdoa ao meu corpo
esse que che dá as costas
mais e que nom quere
nom quere ver a sua dor
a sua dor reflectida em ti.


isso sei que che doe.
nom sí Lagoa? e
doe-me.


[o parque]


era um parque de marfím e perlas
flores de loto e lís elephantes e camelos
era um parque de libélulas e cisnes
esmaltes coríntios e pedras preciossas
era um parque de castelos e pagodas
odaliscas e mandaríns Colombinas e Pierrots
era um parque de ninphas e deuses
jardíns perfumados e salões versalhescos.


mais um dia quebrou um balambám
e ao dia seguinte um tobogám
e ninguém foi a arranjá-lo
os raios ultravioleta e o óxido
forom mancando aos nenos de pele estucada
foi-se atopando sangue nos sapatos e
o parque anegóu-se polo cheiro a hospital.
e agora é um parque de biosfera tumoral
e Arlequím pederasta.


é um parque de ambuláncias e bulldozers
arengas e sobacos besbelhos e toupas
é um parque de soldadeiras e verdugos
asteleiros abisais e visturies trémulos
é um parque de turbinas e canherias
tarot e carmím cadeados e celas
é um parque de tromboses e úlceras
terremotos metálicos e verquidos cibernéticos.


arranjará as aspas do ventilador
ninguém traerá água aos engaiolados do güeb
ninguém voltará rir neste parque porque
já nom é
um parque.

[a rapaça proletária]


foi
diante dos paspalhás e poli-zombies
do guinhol.


conhecim-te no espertar fabril
berrando contra os que amostram
a faze cheia de crema anti-enrugas.


eu mirei-te aos teus olhos humaniçados
nesta trincheira dissidente
baixo umha focha de eirugas.


biquei-te vis-a-vís
co protocolo da chuva
de arjila e verniz.


colhín-te da mão sangueante
para saírmos daquela grade
psicodélica e caleidoscópica.

e cativáches-me no equnóceo
dos costaleiros em ácio
contra os engaravatados da grelha.


eire fomos marmelo e lambetada
da gábia ourive aberta
no triángulo sem bermudas.


hoje rompemos o jajúm
e enfastimos os cánones e dogmas
impostos polo novelo hierárquico.


seguirei a te bicar
tras a barricada proletária
com cambras neste corpo dissidente.


será
diante do ministério espanhol de ética
e moral.

[navegando]


sigo navegando polas tebras do dolareuropeseta
apaleado polos jovens balilhas hipócritas
de açuladas laçadas em pretos peitos que
que saudándo-me eles com despreço
eu simplesmente contestei apresentándo-lhes
o estrondo do flato de hispánico cheiro.
sigo navegando polas tebras do hispánico cheiro
quando trasantonte os esgrévios castelos
impunham o medo e respeito
sem pensar que agora
seriam o estercoleiro
dos ranhaceio-trevelhos.
sigo navegando polas tebras dos ranhaceio-trevelhos
onde Stephen sansóm
segue tristemente a aguardar
a que Xuan ulises
volte da Praça de Maio
onde Fuco hércules Buxán
é lumpem eunuco.
sigo navegnado polas tebras como lumpem eunuco
e pensando que a mesma farola que me guiava
nesta noite de minas terrestres
é a farola coa que agora emboleço
saíndo da cabana do tio rom.
e sigo navegando polas tebras do tio rom
e um fakir saca do seu garavelo
o trascendental sim
e o trascendente nom
sem que o meu raciocínio pendure
o cartel
de pechado por defunçom.


[sede]


as minhas entranhas orfas
bótam-me atrás no pecado que tento
para rachar o muro que ergueches
porque a minha sorte ímpia maldixo
à tua fronte melancólica
que berra
como berra o náufrago que nom vê a terra.


nom me ensines a mirar

que estando contigo nom bebo
nem vinho
nem vodka
nem rom
bebo da fonte dos teus beiços
e sácio a sede do meu
coraçom.


umhas curvas que maream
grandes parábolas de fertilidade
e umha ervinha tremelante
fórom as momentáneas eternidades
que nas poalhas
arremetérom
a baiuca do pelegrím farto de caminhar


e nom o vivimos sendo dous nenos.

estando conmigo nom bebe
nem vinho
nem vodka
nem rom
bebe da fonte dos meus beiços
e sácia a sede do seu
coraçom.


[o burdel na rulote]

hoje sinto
debeço de cadeado
tristura ou vacina
excesso na comida e
paixóm da alma
vício oposto à esmola
desleixo ou tédio ou
elaçom do folgo e
desordeada aliagem
mágoa da enquisa
bebida e apetito
que move à indignaçom
à quantidade e propensom
descoido nas cousas aos
apetitos desordeados
das RIQUEÇAS ACOUÇADAS
BENS ALHEIOS e frieiras
desordeadas de comer e de beber
e xenreira ao betume
a celmes carnais de alfinetes
que estamos obrigados
a ser preferidos às outras
chaves dos sumidoiros
radioactivos do ultrasom
cravados neste garfo
do mildeu


[catilinária]

estmados nogentos manipuladores de Cibercity
diríge-se a Vds.
umha das novas catilinas de Lumpengrei (antes chamado
Ceivanderri).


DENÚNCIO!
que agrilhoados
no monçom dos siluros
na cablística da ira
na cripta da factoría
ou no icono da deforestaçom
clamamos
viva catilina.


que inspirados
polo magma bífido
pola deflagraçom lubricante
pola engranagem locomotora
e polo velho arredista
escrivemos
viva catilina.


que sofrindo
coa tómbola da moscas
co demo do grei galego
co leopardo esmaltado
ou coa walkíria de odím
choramos
viva catilina.


observando
o ente do muro
a grua recolhedora de escombros
a pernada sobre o lumpem
e a erossom dos cismas
berramos
viva catilina.


quando ides abusar da nossa paciência?


[juízo]

vez que penso
resisto
cada vez que falo
insisto
cada vez que luito
existo.





EPÍLOGO: BERCES DE METAL.

algumhas vigílias semelham
crisois de celofám a girar
no luar frenético
da noite.


numha noite qualquer de Novembro
psicose patológica tipo de loucura
ou doença mental acende a rádio
e torna mirar ao ceo psicose crónica
caracterizada
assí namentres contavas as estrelas
por umha susceptibilidade sombria &
insociável e dérom a notícia que dizia
polo conceito exagerado de sí mesmo
que José Saramago ganhara o Nobel ou faze
doente pola organizaçom lógica pois hai uns
dias finóu o José Cardoso e dos temas delirantes
que se formam cara
& crús
para os que escrevem no galego
de Lisboa.


fechei a rádio
púgem-me mirar com delírios de peseguiçom &
grandeça
a lua que tinha um excesso claro de
por intuiçom ou interpretaçom que se
julga sinais de direcçom proibida
incomprendido ou superior no seu meio
a umhas lapas infernais tornando a partir de
premisas que pareciam falsas ao satélite
natural
num projectar de ilussons obsesivas
e fixas
de diapositivas em celofám.


vi-no
a repressentaçom.
a água cobria o mudo por riba da terra
e bendigo as sementes de estouridos cláudio coelho!
no leste vivia umha deusa numha kiva
e bendigo aos bovinos avispados que reventam
aos seus assassinos!
no oeste vivia umha deusa algo semelhante
e bendigo aos que colaborárom nos fracasso dos esperantos!
figérom erguer a terra por riba da água
e bendigo
à carótida & aos sumérios
às rotativas clandestinas & aos lavadoiros comunitários.


logo o sul nom veu
vida nem
plantar tabaco ou caçar búffalos
para viver.
criárom aves & animais
carne secándo-se
umha mulher e um home de argila
cobrírom aos figurantes cum veo &
vivérom em tipis onde aprendérom preparar a pel
dos bovinos pouco-avispados & fazer
trineos.
cantárom juntos para lhes dar vida
linguagem & combate.
um dia os velhos sinais de fume
dérom a aguardada notícia:
(e bendigo esse metal capaz de degolar!)
o home branco nom é inmortal.


as trabes eram desse metal
desse metal eram os joguetes &
as bonecas.
desse metal as pegadas
e a música.
as bágoas
o sangue
a suor
os ventres
os arrolos
eram desse metal.
e eu que nom som de Cela-
-Nova a morrer
neste alto berce
desse metal.


nom o admitem as propriedades da gelamonita
no melhoramento da circustáncia temprana mais a sua
propriedade adquirindo analmente o senso civiliça
ao índio. e este
evitando levemente
os ministérios àqueles
os da mais madura ineficácia
cria brandamente lográndo-se no novo
Vítor Jara ou metátese ou valor de gando
sobre um logro multiplicado
se as meixelas abarcam
para asustar aos ouvidos
de fel
porque talvez nom sabiam (ou nom
queriam saber) que Espanha é um muro
entre Galiza & o Mundo.


outro muro
o das reflexões
sangrava e corria aberto
no grande vértigo do antigo
cosmonauta (ao comezo indescriptível)
que debulhou cos mortos
e mui religioso
a nova ladaínha.
a silueta olhou-se. primeiro saiu a circunferência
coa qual olhou um moucho pousado
tranquilo
na folha
da morte.

emporisso Ilduara derramou vizosa
de ira
duas bágoas de sangue & de metal
a umha de esperança pola pintada
de Giana no muro das reflexões
a outra de tristura pola tachadura
de Giana no muro das reflexões.


Giana forte
tachou a pintada do seu irmão
e escriveu:
seguirei brincando aínda que me chegue a mancar
como brincaria a terra como brinca o mar
namentras esteja viva o que me queda é brincar.
que assí seja.






EM LAVADORES E TEIS. VIGO. GALIZA. OUTUBRO DE 1994-NOVEMBRO DE 1998.



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