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O TEATRO RURAL DE ARMANDO COTARELO
A publicaçom recente por Ediçons
do Castro de um tomo que reúne três peças teatrais de Armando
Cotarelo, reaviva o interesse pola obra dramática deste autor,
mui bem caracterizada nas suas linhas gerais pola preparadora do
volume, Aracéli Herrero, que, polo demais, fai un detido estudo
dos textos integrados naquela publicaçom: a "pantasia
trágico-histórica" Hóstia o "drama" Beiramar
e o "lance dramático" Mourença.
Essas três peças som, ao meu
juizo, as que se podem considerar como efectivos logros. Logros,
claro está, dentro da linha cronológica de desenvolvimento do
teatro galego; logros, no contexto temporal e local em que se
produzem. Acrecentam algo ao teatro galego no momento em que se
escrevem ou estreiam; e, nesse sentido, podem considerar-se
peças clássicas para um estudo da nossa literatura dramática.
Mas, acarom destas três peças
logradas, Cotarelo elaborou outras três que estimo de mérito
inferior, e que, sem embargo, nom veria sem satisfaçom reunidas
noutro volume, sempre que fossem precedidas de um estudo e
acompanhadas por umhas notas de rodapé semelhantes ao estudo e
às notas que ilustram o Teatro histórico e marinheiro
recém saído do prelo. Nesse imaginário volume, que poderia
intitular-se simplesmente Teatro rural introduçom e
notas som ainda mais desejáveis que no caso anterior; pois se as
obras reunidas no volume ja publicado tenhem valores estéticos
substantivos, que podem excusar análise e glosa -ainda que sejam
de grandíssimo proveito as fornecidas por Aracéli Herrero-, no
caso das peças de tema rural, nom tam convincentes, frustradas
em parte -segundo o meu parecer-, a ediçom só se justificaria
plenamente se o aparato erudito e a crítica estilística
assumissem a importáncia precisa para situar as peças na
história do teatro galego, amostrando-nos em que medida devem
interessar-nos como passos progressivos ou regressivos, ou
simplesmente acenos, fecundos em algo, em algo estéreis,
encaminhados ou descaminhados na soluçom dos problemas
levantados à nossa dramatúrgia. Haveria que catalogar os rasgos
positivos e os negativos destes ensaios, à luz de um critério
histórico ou estrutural, que nos explicasse plausivelmente a
imperfeiçom destas peças em comparança com as do teatro
histórico e marinheiro do mesmo escritor.
Essas três peças de teatro rural
som Trevom (1922), Singebra (1923) e Lubicám
(1924), todas anteriores -ao menos na data da sua
publicaçom- às peças de teatro histórico e marinheiro. O
editor -chamarei assi ao estudioso que tiver ao seu cargo a
responsabilidade da ediçom- deveria-nos ilustrar, em vista deste
feito, a propósito de se cabe detectar em Cotarelo como autor
dramático um processo de maduraçom que explique a distinta
fortuna dos dous grupos de peças.
O
Labrego e o Rural
Nom vacilamos em considerar as
constitutivas do grupo formado por Singebra, Trevom
e Lubicám como integradas no teatro rural. Preferimos
esta denominaçom à de teatro labrego. A interessante
observaçom de Aracéli Herrero segundo a cal as figuras de Trevom
nom som propriamente labregas, pode ser matizada no sentido de
que nom hai constáncia de que exerçam activamente, com
dedicaçom exclusiva ou preferente, a profissom agrícola
Rosalia, sobrinha do abade; Sabela, ama do mesmo; Suinha,
moinanta; Dom Andrês, abade; e Manuel, foragido. No entanto, a
reitoral dispom de umha horta, a palha que arrecada Tralo ha
proceder de umha agra da casa, e a extracçom de todas as
personages mencionadas tem que ser labrega. Mesmo o Cura fala das
leiras dos seus maiores, radicantes na marinha. Cibrám, Ramom e
o resto das figuras da peça som evidentemente lavradores ou
filhos de lavradores. Todo ocorre na aldeia, e é difícil crer
que os que vivem na reitoral se abstenham totalmente de botar
umha mao para o mantimento das terras de que obtenhem peras e
palha. Assi que o ambiente e a nacença das persoas me
autorizaria a falar de teatro labrego em sentido amplo. Em Lubicám
hai um home da vila; todos os demais caracteres som lavradores.
Tampouco tenho escrúpulo em incluir Lubicám dentro do
teatro labrego. Porém, no caso de Singebra sería
abusiva esta denominaçom, pois o ambiente é o de um Paço, em
que sem dúvida se praticava a lavrança, mas no cal, como
cenário da obra, esse rasgo nom é pertinente. Em troca, a
ruralidade abrange como ámbito local todas as peças
consideradas, ainda que as personages nucleares sejam da classe
senhorial em Singebra e da classe lavradora -com as
restriçons indicadas pola senhora Herrero, se se quer- nos
outros dous casos.
A peça de ambiente rural aparece
no teatro galego desde os primeiros momentos. Para muitos -ainda
hoje- o galego identifica-se com o aldeao. Assi que temos teatro
rural -labrego- desde A casamenteira (1812). O teatro
"de paço" aparece mais tarde, cando ja se superou a
fase labrega da literatura teatral, e o pluralismo ambiental bate
a porta. Mesmo o teatro de paço é umha forma moderada de
reacçom contra a identificaçom do galego com o labrego, que
produzira um excesso de peças paifocas. Deve-se lembrar, sem
embargo, que desde fins do século XIX o teatro histórico
alternava com o labrego. A torre de peito burdelo de
Salinas, é de 1897. O teatro rural "senhorial" de
assunto contemporáneo, o teatro "de Paço", nom surge
até 1919 com A mam de Santinha, de Cabanilhas, peça em
que todas as personages. salvo um criado, pertencem à classe
senhorial.
Singebra
Dentro deste tipo de teatro de
paço insere-se Singebra; mas, à diferença de A
mam de Santinha, apresenta-nos, acarom dos senhores, vários
criados, e as gentes falam galego ou castelhano em diversos
níveis de pureza. Neste aspecto é umha peça interessante polo
seu propósito de ensaiar umha reproduçom realista da linguage
de cada quem. O fidalgo Dom Luís fala em galego com os criados,
em castelhano com os seus iguais em condiçom social. Em
castelhano fala sempre Dona Rosa, mas num castelhano com um forte
substrato léxico e sintáctico galego. Menos galeguizado está o
castelhano da sua filha Chelo e o dos nenos de Dom Luís, entre
os cais Tonito usa umha linguage infantil. Chelo é, sem embargo,
capaz de falar galego, e assi se demostra num diálogo com o seu
namorado Melchor, que devia de pertencer ao Seminário de Estudos
Galegos, pois fala um galego literário mui característico. Os
criados do paço falam em galego; mas Ama Lisa, cando se dirige
aos nenos de Dom Luís, tenta falar castelhano, sem conseguí-lo.
Singebra, como A mam
de Santinha, é umha comédia "rosa", ou seja umha
peça em princípio conformista, que nom aspira a questionar a
ordem social, senom a plantejar e resolver dentro dela, e de
jeito satisfactório, problemas que nom afectam aos fundamentos
mesmos do sistema. Umha colisom de interesses entre duas forças
temáticas que pressionam sobre o mesmo objecto sem violar
nengumha norma estabelecida, resolve-se pola expulsom do campo da
contenda de umha delas. Mas se visamos a obra com referéncia às
convençons morais que som os seus supostos, nom podemos menos de
registar um certo desequilíbrio entre o desenlace e as premissas
no plano das estruturas éticas próprias da comédia burguesa
sentimental e idealista. A personage Chelo está traçada com
rasgos tam atractivos que se converte em favorita do espectador,
e a sua derrota perante o objecto a que tende, impressiona a
aquel desagradavelmente, porque dentro do mundo da obra é a
heroína, a chica, e está desenhada para um final
feliz. No entanto, a triunfadora é a nena Nela, que representa
à sua mai falecida, e que, vendo folcloricamente a Chelo sub
specie de madastra, se ergue contra ela, apoiada pola
servidume do Paço, que confere a Chelo -mui injustificadamente-
o status de intrusa. Mas este falso papel de antagonista
constitui a conseqüência de um prejuízo. É o espírito
infantil e popular do folclore dos contos de madastra o que, de
um jeito dogmático e supersticioso, enquadra fanaticamente a
sugestiva moça no esquema odiado da usurpadora do posto da mai
no lar, cando com base nos dados que o autor nos forneceu, todo
fai supor que Chelo está magnificamente dotada para ocupar o
posto de mai, para encher o oco da morta, reatando e continuando
a sua funçom familiar. Assi, se olhamos a peça focando a Chelo
como protagonista, Nela resulta umha antagonista perturbadora do
desenvolvimento feliz dos acontecimentos, e a peça resulta de
final desgraçado. Ora bem, a pintura que o autor fai de Nela,
dista intencionalmente de apresentar-no-la como odiosa, e na
economia da obra pode Nela ser considerada como a personage
principal, força do destino e determinante da soluçom do
problema. Daquela, seria a protagonista, e, como compite com
Chelo, esta resultaria a antagonista, e na peça triunfaria a
moral dos contos de fadas, mas nom com o casamenio da bela e boa
moça com o príncipe azul, senom com a derrota da madrasta em
potência. Mas como Chelo nom é umha madrasta em potência,
senom umha mai em potência, o desenlace semelha, dentro da
estrutura moral da obra, aberrante, e Nela perversa ou ignorante,
contra o que parece sugerir o autor ao pintar a nena ao pastel
com suavíssimos matizes de rosa.
Claro está que caberia conceber o
conflito como umha dramática pugna entre dous sujeitos que se
disputam um objecto sem que caiba nengumha sançom maniqueia da
conduta daqueles, e sem que o autor tome partido por ninguém.
Entom a comédia rosa derivaria cara a tragédia, fosse o triunfo
de quem fosse. Mas esta concepçom do caso é incompatível com
os pressupostos desta peça, em que o desenlace aparece
funcionalmente apresentado como feliz e aceitado pola
consciência hipostatizada da peça, cando, por outra parte, tal
soluçom supom a infelicidade de umha personage demasiado
simpática para merecer esse destino, e, objectivamente, favorita
do autor e do espectador ingénuo. Se o pano caisse sobre algumha
cena que procurasse a compaixom a respeito da desgraçada
heroína, veríamos em Singebra umha comédia dramática
de final infeliz. Mas o feito de que o autor reserve a Nela a
última palavra, e a peça remate com umha apoteose familiar, que
exalta a persistência da situaçom ameaçada pola presença
pertubadora da candidata a madastra, indica que, apesar de todo,
funcionalmente este final é o final feliz da comédia rosa,
ainda que no mundo da realidade esse final seria insensato, e na
própria peça estranhamente incongruente com a pintura da filha
de Dona Rosa. O autor encarinhou-se demasiado com esta personage,
e, se pretendia o triunfo de Nela, nom deveu pintar Chelo como a
pintou, para nom fazer odioso ou extravagante aquel triunfo num
tipo de comédia que exige o desenlace justo e feliz.
Apesar de tam grave desequilíbrio
no metabolismo da peça, que afecta à essência da sua
estrutura, observamos em Singebra primores de técnica teatral a
que nom nos tenhem acostumados os antecessores e contemporáneos
de Cotarelo. O traçado das personages é mui cuidado, e no caso
de Chelo, dotado de umha firmeza e umha frescura que acerta a
apresentar-nos um carácter que justifica o enamoramento de Dom
Luís. A graça, a sinceridade, a naturalidade e a generosidade
que brilham naquela meninha, dam-lhe relevo de autenticidade, e,
à parte da precoce, imaginativa e voluntariosa Nela -realmente,
menos atractiva-, evade-se do conjunto de figuras mais
estereotipadas que acompanham na peça aquelas duas fortes
personalidades. O movimento circular das cenas, que amece o conto
de nenos do princípio com a moralidade ou simbolismo do final; o
epifonemático remate do acto primeiro, e em geral a
concatenaçom e movimento de toda a peça, amostram umha
habilidade que nom achamos, por via de regra, no teatro galego
deste tempo.
Lubicám
Lubicám desenrola-se
numha aldeia de montanha, entre labregos. Tamém hai distintos
níveis de linguage nas personages, ainda que a peça ja nom pode
considerar-se bilíngüe. Escrita em verso, os labregos falam em
geral um galego literário que, porém, beneficia muito o léxico
rural, mas sempre na procura de umha expressom enxebre e
diferenciada do castelhano. Lorcho, um miles gloriosus
campesino, fala castrapo, com finalidade cómica. Como drama
poético, Lubicám está algo afectado negativamente
pola falta de fluidez da versificaçom e a sua escassa potência
de iluminaçom lírica no desenrolo rotineiro do diálogo. Mas o
verso de Lubicám nom carece de momentos felizes, como
ocorre no relato patético que fai a tia Minhota da sua luita com
o lobo para recuperar a sua ovelha Martinha. Neste caso, Cotarelo
logra umhas endechas que nos lembram funcionalmente as usadas em
casos análogos por Lope, Tirso e outros dramaturgos espanhóis
do século XVII, que Cotarelo mui bem conhecia. Lembremos esse
passo. Escrevemos os versos seguidos, como prosa, se bem sempre
com maiúscula inicial.
"A minha Martinha, Martinha
branca... Aquela anhagota, Cordeira galana, De pelica crecha, De
singelas patas; A dos olhos lenes, A da voze maina, A mais
carinhenta, Mais jeitosa e mansa, Que de cote, leda, Ao meu pé
choutava; A que ervas e grumos catava na faldra... Ali está
tendida, De sangue çafada! A minha Martinha, Martininha
branca... O lobo famento Baixou da montanha; Brincou no cortelho,
Travou na coitada. Erguim-me de um pulo. Arrastro a levava, E em
cima da neve Seu sangue pingava...! Berrei-lhe; parou-se;
tirei-me a arrincar-lha... E fugiu o lobo Na noite giada. Quitar,
eu quitei-lha, Peró, Malpocada!: Ja estava ferida, Mortinha ja
estava, Comesta do lobo, Do lobo esgolada. A minha Martinha,
Martininha branca!".
Se o assunto de Singebra,
o viúvo que renuncia a novas núpcias, é bem conhecido na
literatura universal, o de Lubicám, a perseguiçom da
mulher do povo por um home de extracçom superior, tivo umha
notável fortuna na dramaturgia galega. Lugris repete esse
esquema em quase todos os seus dramas: A ponte (1903), Mínia
(1904), Escravitu (1906). Vilhar Ponte
desenrolou-no em A pátria do labrego (1905). Sam Luis
em O fidalgo (1908). Comelhas em Pilara (1919).
O essencial do motivo é a inferioridade em que se topa a
perseguida com relaçom ao seu perseguidor do ponto de vista
social, pois aquel é un cacique ou um home da vila. O corrente
é que a perseguiçom da mulher se inscreva entre os abusos do
poder caciquil, de jeito que o conflito erótico é umha forma de
conflito social. O marido, o noivo, o pai da perseguida, ou ela
mesma dam morte ao perseguidor, que pode ter ou nom colhido os
frutos da sua perseguiçom. Lubicám neste aspecto é
original avondo. O perseguidor, Damásio, é un home da vila,
moço forte, barbucám, com ar de senhorio; mas ainda que, desde
logo, parece possuir bens folgados, nom hai rastos de que exerça
nengum poder caciquil, de jeito que aqui o drama é mais amoroso
que social. A editora de Teatro histórico e marinheiro
crê ver em Damásio o dono de um paço na aldeia, o que suporia
ja umha matizaçom "social" da perseguiçom; mas, ao
meu juízo, o paço de que Damásio fala é o do rei do conto que
conta a Inesa e que verdadeiramente representa ao próprio
Damásio, mas no simbolismo dos seus amores. Nom hai que entender
-parece-me a mim- que Damásio tem um paço, como nom haí que
entender que Damásio seja rei no mundo real. Mesmo nom consta
que na vila ostente nengum poder de mando. Mas o que interessa,
à parte de que Cotarelo nom quer dar carácter
"social" ao seu drama, é o feito de que, à diferença
de todas as virtuosíssimas filhas do povo dos outros autores, as
cais tenhem da honestidade feminina um conceito rigorosíssimo,
esta de Cotarelo é sensível aos afagos do seu perseguidor -que
nom parece um avassalador de mulheres humildes, se nom um
apaixonado por umha mulher-, e oscila entre o atractivo do seu
rondador vilego e o do seu cortejo aldeao. Afinal, também o
perseguidor morre, mas nom ferido de mao humana, senom de poútas
e canteiros de lobo. A perseguida e o perseguidor nom som, pois,
nesta peça, os puros arquétipos das outras, senom que possuem
umha personalidade humana algo mais complexa. Nem el é tam lobo
feroz, nem ela tam branca cordeira como nos mais casos. Se
Cotarelo aprofundasse em maior medida na psicologia destas
personages, poderia ter escrito um drama passional mais
interessante, que em realidade sacrificou a um pintoresquismo
ambiental de tipo costumista que oferecia menos possibilidades.
Trevom
Com Trevom, Cotarelo
ensaiou a comédia dramática, ou melodramática, em três actos.
O costumismo, harmónico da fábula de todas as peças rurais e
marinheiras de Cotarelo, tem nesta ampla representaçom. Trevom,
apesar do romantismo popular da figura de Manuel, é um drama que
procura o realismo pola banda do costumismo, e figuras como a tia
Suinha e Tralo estám concebidas mais como ilustraçons
folclóricas da acçom -como tipos populares- que como elementos
funcionais da mesma. A peça é mui sentimental, e a sua
composiçom cénica, como é regular em Cotarelo, amostra umha
articulaçom hábil, dentro das convençons próprias do teatro
do tempo. As cenas finais dos três actos estám pensadas e
resoltas com eficácia efectista. Escrita em prosa, e com mais
sossego que Lubicám, resulta mais acabada e morosa que
o conto de lobos em verso, ainda que a tendência ao teatro
poético incruste em Trevom tiradas métricas com
hipérbatos poéticos de duvidosa oportunidade. A ponderaçom
entre o dramático e o cómico, entre as cenas que fam progressar
a acçom e aquelas que a retardam, está lograda segundo os
procedimentos vigentes no teatro espanhol da época, dominado
polo semi-realismo semi-idealista de um Benavente e a sua escola
-à que pertencia o galego Linares Rivas-, um Arniches nas suas
obras menos originais, ou mesmo os dramaturgos catalans
cultivadores do drama rural, entre os que Guimerá atingiu
especial ressonáncia.
Trevom foi a primeira
peça de teatro que Cotarelo logrou ver representada pola
companhia de estudantes universitários afeiçoados que tamém
puxo em cena as outras duas obras examinadas neste artigo. Para
algum comentarista é tamém a melhor obra de Cotarelo. Como vai
indicado, disto de professar semelhante opiniom. As personages,
em geral, respondem às características de estereotipos teatrais
mais que a qualidades individuais que as destaquem como
personalidades vivas. Ainda que do ponto de vista da arquitectura
da peça, Trevom apresenta mais travaçom que Lubicám,
a "dama moça" da obra em prosa, Rosalia, resulta menos
relevante que Inesa, que anima a acçom com o seu conflito
psicológico. E, por suposto, nom pode nem de longe comparar-se
com Chelo, a mui caracterizada heroina de Singebra. Sem
embargo, Trevom é mais coerente que Singebra
na sua valorizaçom objectiva da significaçom moral das
personages, e nom obriga o espectador a elaborar nengumha
interpretaçom aventurada ou bizantina da estimativa implícita
na obra para explicar o destino das personages, como no caso da
citada Chelo. E ja fica dito que a fluência do desenrolo de
Trevom e acougo do seu ritmo cénico som tecnicamente superiores
ao elementar esquema evolutivo de Lubicam.
Para o espectador galego dos anos
vinte, seguramente Trevom reunia caracteres de
aceitabilidade superiores de feito como representaçom teatral
aos que podiam ostentar Singebra e Lubicám.
Mas parece-me indubitável que em interesse temático e em força
de sugestom dramática, fica bem por baixo de Hóstia, Beiramar
e Mourença.