Escritos sobre teatro

Páxina Anterior

Páxina nº 20

Páxina Seguinte

m1carvalhocalerosobreteatro017.html

PEDRO MADRUGA NO TEATRO GALEGO

                                                  I
     A grande transformaçom que a política dos Reis Católicos determinou no poder social e político da nobreza nos territórios subjeitos ao governo daqueles monarcas, foi especialmente visível no reino de Galiza, onde nos últimos tempos da Idade Média os magnates viviam praticamente independentes da autoridade real, consagrados a exercitar a sua força sobre os seus indefesos vasalos ou a resolver polas armas as diferenças que constan- temente enfrentavam as casas mais poderosas. Os Reis Católicos, unha vez donos dos recursos necessários para impor a sua política, refreiam a anarquia nobiliária, obtendo a submissom dos rebeldes ou esmagando a sua rebeldia.
     Como em Andaluzia o Duque de Medinasidónia e o Marquês de Cádiz forom reduzidos à obediência, e mesmo à colaboraçom na guerra de Granada, em Galiza dous cavaleiros de aços semelhantes aos daqueles senhores, ainda que de mais rudos modos, como correspondia às circunstáncias históricas e geográficas em que a sua actividade se desenvolvia constituirom o principal problema para a pacificaçom do país, e ambos fo- rom aniquilados pola autoridade real, que nom os assimilou para incorporá-los à sua política, como no caso dos grandes andaluzes, senom que os eliminou em canto obstáculos que a ela se opunham.
     Hai outras muitas diferenças entre a parelha formada por Enrique de Guzmán e Rodrigo Ponce de León, de umha parte, e Pero Pardo de Cela e Pero Álvarez de Soutomaior por outra. Todos estavam acostumados a campar polos seus respeitos sem sujeiçom prática a autoridade algunha em tempos de Henrique IV; mas, mentres os mencionados senhores andaluzes eram acérrimos inimigos entre si, os galegos nom estavam relacionados por umha inimizade constante. O Mariscal no norte do país, o Conde de Caminha no sul, nom eram chefes de partidos opostos, e ainda que ao parecer, Pardo de Cela formou parte da liga de nobres que secundando seguramente iniciativas régias, sitiou em Pontevedra a Soutomaior em 1478, entre ambos Pedros nom houvo nunca particular contenda, e estiverom no mesmo campo durante a guerra irmandinha. Os dous eram semelhantes na energia, na belicosidade, na ousadia. Só assi se comprende que atingiram umha popularidade que trascendeu à história e se perpetuou na lenda. A dizer verdade, e em canto nós sabemos, o Pedro do Norte, aureolado pola sua morte na praça de Mondonhedo, conseguiu perpetuar-se na memória do povo e nas páginas da literatura em maior medida que o Pedro do Sul, cuja obscura desapariçom longe de Galiza, cando mesmo perdera o seu senhorio de Soutomaior, nom podia impressionar a alma popular na medida em que a impressionou a violenta eliminaçom do senhor da Frouseira pola justiza real, modernamente interpretada como tirania centralista. Perálvarez, que obstentou títulos de maior resonáncia, como Conde de Caminha, Visconde de Tui e Mariscal de Baiona -por mui discutidos que fossem-, nom atingiu umha morte tam solene, diriamos tam romántica, e ainda que mais poderoso e de mais rica biografia que o Mariscal de Cela, nom deixou umha esteira tam profunda de lembrança na cultura popular, nem un rasto tam importante na literatura galega. Benito Vicetto fixo a Pero Pardo caudilho dos Irmandinhos, contra os que realmente luitou. Leiras Pulpeiro, nas suas cingidas, elípticas e misteriosas cantigas, rendeu-lhe culto de mártir da sua galeguidade. E no drama de Cabanilhas e Vilhar Ponte aparece já decididamente transformado em caudilho nacionalista. Menos fortuna literária tivo don Pedro Álvarez, ainda que as fontes históricas que a el se referem som muito mas copiosas que as que nos informam da vida e feitos de Pero Pardo. Mas é das modestas repercussons que na literatura galega, e concretamente no género teatral, atingiu o Conde de Caminha, do que trata, apenas como superficial precursora de mais amplos estudos, a comunicaçom que hoje tenho o honor de apresentar à indulgência dos senhores congressistas reunidos para comemorar o VI Centenário do foral do Concelho cujo nome ilustra o blassom de Pedro Madruga. E mesmo esta comunicaçom, por razons de tempo e espaço, abrange somente as duas primeiras peças, na orde cronológica, que apresentam na cena o senhor de Soutomaior, e nom se estendem à consideraçom de outras obras dramáticas mais modernas, que só som ocasionalmente mencionadas
                                                  II
     Os escritores galegos do Ressurgimento conhecerom a Relación de Vasco da Ponte em época temporá, graças à ediçom de Vicetto, e esta obra é a base da sua visom da personage que nos ocupa. A actitude daqueles autores perante o Conde de Caminha tinha que ser, em conjunto, favoravel, polos mesmos motivos que o foi a sua actitude perante Pero Pardo, mas no caso de Pero Álvarez con maior fundamento histórico. O Mariscal de Cabanilhas é umha vítima do centralismo castelhano. Pode-se admitir que assi fosse, sempre que se acrecente que o centralismo castelhano nom reprimia neste caso umha política de autonomia galega, senom umha política de autonomia senhorial. Atribui-se-lhe a Pero Pardo a defesa dos direitos de dona Joana, filha e herdeira de Henrique IV segundo a última declaraçom deste príncipe, frente a dona Isabel, irmá do mesmo: o que nom parece fundamentado. Em troca, essa foi a actitude de don Pedro Álvarez perante o problema succesório. A sua aliança co Rei de Portugal, prometido esposo de dona Joana, e a sua oposiçom a dona Isabel, até que se firmou a paz entre portugueses e castelhanos, estám perfeitamente documentadas. As virtudes guerreiras de Caminha, o seu valor persoal, a sua audácia militar faziam-no simpático e admirável aos galeguistas educados no romantismo ou propensos à organizaçom de um panteom de herois galegos. Mais adiante, os moços que medrarom na oposiçom ao regime franquista, exaltadores dos valores democráticos, haviam ver nos dous Pedros os tiranos dos homes do comum, os aristócratas opressores do povo, os inimigos dos Irmandinhos. Mas as nossas notas de hoje referen-se a dous textos da primeira etapa, pois se o Conde de Caminha subiu ao palco ultimamente baixo o signo da desmitificaçom, essas produçons cénicas nom vam ser consideradas. Daremos algumha notícia delas, mas centraremos a nossa comunicaçom sobre duas peças da primeira época, nengumha das cuais atinge a importância literária das melhores das que se consagrarom a Pero Pardo de Cela.
     E ao dizer "da primeira época" quero dizer da época de glorificaçom dos senhores, sem que isto signifique que as duas obras de referência nom se achem afastadas na data da sua publicaçom. A mais antiga é de 1897, obra de um epígono do Ressurgimento das letras galegas; a mais moderna, de 1962, obra de um destacado membro da gerazón Nós.
                                                  III
     Joam Cuveiro Pinhol naceu na Corunha o 28 de Maio de 1821. Foi funcionário de fazenda, como Curros Enríquez, López Alonso Cuevillas e outros muitos escritores galegos dos tempos modernos. Destinado em Pontevedra, ficou cesante em 1848, e estabeleceu-se como livreiro. Volto ao serviço do Estado em 1857, desempenhou o seu cometido em distintas cidades. Em Pontevedra fundou e dirigiu diversas publicaçons periódicas, e ao longo da sua vida deu ao prelo obras como El habla gallega ou o Diccionario gallego, que demostram a sua preocupaçom polo idioma do país. Morreu em Valladolid o 13 de Maio de 1906.
     Em 1897, como folhetom do periódico pontevedrês La Opinión, publicou-se o seu drama Pedro Madruga.
     É umha peça breve, num só acto, com três cadros e seis cenas. Ao longo destas desenvolven-se duas tramas de acontecimentos frouxamente relacionados. Umha destas tramas tem como assunto a guerra de sucessom à morte de Henrique IV. A outra refere-se aos amores de don Álvaro, filho do Conde, coa que foi a sua mulher, dona Inês Henríquez de Monroi.
     Apesar do título da obra, esta segunda acçom, na que o Conde nom tem intervençom relevante, é a mais aparente da peça, na que, se hai algum dinamismo, deve-se à actividade de don Álvaro, dona Inês e o rival daquel, Joam da Gesta. A acçom histórica, ou pública, na que dom Pedro se adianta ao primeiro plano, quase parece contraponto ou pano de fundo da anécdota amorosa, e fai-se-nos conhecida através de procedimentos indirectos, mediante relatos e notícias que as personages nos brindam de acontecimentos que nom se verificam no palco. Cuveiro, que conhecia em linhas gerais a história e a lenda de Pedro Madruga, apresenta-nos o Conde como o descreve Vasco da Ponte, quase coas mesmas palavras em ocasions. O Vigairo pedáneo da freguesia de San Salvador de Soutomaior, que é o lugar da cena, dá-nos umha primeira caracterizaçom indirecta do cavaleiro, favorável, em oposiçom à de Joam da Gesta, que lhe apom o mantimento do costume de poder entrar no seu Paço a cachaperna de um vassalo, direito que por outra parte nunca exercera. Logo comparece o Conde co seu acompanhamento, no que figuram o Conde de Altamira e o Mariscal Suero Gómez, assi como o senhor de Andrade, todos os cuais som calificados de Adiantados de Galiza, título que em realidade correspondia só ao Chefe da casa de Sarmiento, que non figura no reparto. Soutomaior pronuncia-se por dona Joana, filha legítima do último rei, na disputa entre esta e a sua tia dona Isabel, e ordena ao seu lugartenente Pedro Veloso (Paio na realidade) que prenda ao Bispo de Tui, que se chama na obra Pedro Muros (o don Diego de Muros da história); dá instruçons aos seus companheiros e decide dirigir-se a Vigo para iniciar a guerra. Mais adiante inteiramo-nos por don Álvaro de que o Conde de Caminha está em retirada e a ponto de reaparecer em Soutomaior. Na última cena, don Pedro, já de volta, anuncia o final desgraciado da contenda, e, antes de narrar a perda de Pontevedra, fai umha erudita disertaçom sobre as origes da vila. Enfim, co triunfo de Isabel remata o feudalismo, e Madruga, surprendentemente, nom só se mostra bem resignado a aquel triunfo, senom que manifesta a sua esperança de que a nova rainha realize grandes feitos. Metamorfose que nom se justifica psicologicamente, e descaracteriza ao heroi, que, em realidade, cede o seu papel ou a sua palavra ao erudito ou ao historiador que conhece o reinado da soberana Católica. Recomenda ao seu filho don Álvaro que renuncie aos privilégios abusivos e aceita bençoar o matrimónio do mesmo com Inês. Dom Pedro retirará-se logo a Caminha, já mui aleijoado. Todo o que, como é sabido, difere davondo da realidade histórica.
               Dom Pedro é, em palavras do Vigairo,
               un Sinor moito mañoso,
               moi destro e sabido é,
               e nas estrucias da guerra
               moi forte e sutil tamén;
o que resulta versificaçom dos conceitos de Vasco da Ponte: "Este Conde era muy mañoso, y muy sutil, y muy sabio, y muy sentido en cosas de guerra".
     Seguindo tamén essa fonte, evocam-se alguns dos mais famosos feitos de dom Pedro, a quem se apresenta duro cos seus inimigos, como o Bispo de Tui, e benévolo cos seus seguidores. Dom Joam Cuveiro quixo desde logo exaltar umha figura heroica, mas ao próprio tempo quer mostrá-lo prudente e conformista coa interpretaçom oficial da história de Espanha, o que conduz às incongruências do desenlace.
                                                  IV
     Ramom Otero Pedraio naceu em Ourense o 5 de Março de 1888. Foi catedrático de Geografia e História em varios Institutos de Ensino Médio, entre eles o da sua cidade natal, e ultimamente de Geografia na Universidade de Santiago de Compostela. Publicou muitos livros. Destacaremos entre os de carácter litetário, romances como Os camíños da vida, Arredor de si e A romeiria de Xelmírez e a produçom dramática A lagarada. Mui conhecido em Portugal, em cujos congressos científicos e literários soía estar presente, morreu na cidade e casa em que nacera, o 10 de Abril de 1976.
     Em diversas ocasions tem evocado Otero Pedraio a figura do Conde de Caminha. Na sua acreditada Guía de Galicia, o escritor ourensao lembra que non hai muitos anos, ainda se sentia cantar em Pontevedra a letra
               Viva la palma, viva la flor.
               Viva don Pedro Madruga de Sotomayor,
em honor daquel que "es la energía y el gozo en la aventura y la lucha".
     O Conde figura coa rúbrica "Iste non precisa de tídoos nin presentación" no elenco das dramatis personae da "farsada dramática para lér ou representar en calquer tempo que non sexa o dos Difuntiños" que leva o seguinte longo e arcaizante título:
     O desengano do prioiro / ou / O pasamento da alegría / co grande /auto epilogal e xusticieiro / dos féretros de Floravia / por Don Ramón Otero Pedrayo / licenciado in utroque, / do Gremio e Claustro da Universidade Literaria, / veciño de Trasalba de Amoeiro / e da Rúa Nova de Sant- Avelino Gómez Ledo e Iago / de Compostela / Fan a Gabanza do autor, Domingo García Sabell, / Ramón Cabanillas / Ilustrou Xohán Ledo.
     A primeira ediçom, Vigo, 1962, é de "Edicións Monterrey"; a segunda, que é a que aqui manejamos, de "Edicións Castrelos", Vigo, 1976.
     Em realidade, nom se trata propriamente de umha obra dramática, senom mais bem de umha "sátira menipea", onde se misturam verso e prosa, lirismo e humorismo. Trata-se de satirizar a moderna indústria da feretria, que converteu em obradoiro de ataúdes a alegre capital do vinho do Ribeiro, o mais soado dos vinhos galegos, denominada Florávia na obra do escritor ourensao.
     Frei Dom Veremundo de Rebordecham e Formoso, prioiro dos Sanjoanistas de Beade, acompanhado do seu mordomo e cachicam de confiança Fortunato dos Vimieiros, alcunhado "O Escasulante", ambos os dous defuntos, tornam ao mundo, por permissom divina, e baixan a Florávia para refrescar cos caldos ribeiraos as gorjas resequidas. Acham a vila transformada. As tabernas som carpintarias funerárias. Umha série de cenas reflecte a nova vida de Florávia, consagrada ao negocio da morte. Balbanera da Costeira, moça do povo, que simboliza a vida, fai que a sua tia, meiga ou bruxa, velha sibila, logre cos seus conjuros despertar umha lapa na cinza que é todo na vila desque esta vive para a morte. Nessa lapa hai que acender o lume que queime o alcázar de ataúdes que cobre Florávia. Só um home, o que foi "senhor do foro das risas", pode executar a sentença que fulminan os mortos, "a suma das Santas Compañas". Balbanera evoca a Madruga, e este acode à chamada, e acendendo no fachico que Balbanera lhe apresenta o pequeno molho de tojeira que arranca do seu elmo, prende lume à morea de ataúdes que encobre a vila. A cinza vai-se espargendo, e Florávia ressurge na alvorada, regenerada e recobrada para a antiga lidiça de viver.
     Eis como se descreve a apariçom de Pedro Madruga:
     "Pedro Madruga, grande bimbastrón de pantasmas, ven coberto de fermosa armadura, escura, embazada por o alento da noite; leva no cume do elmo un ramo de froles de roxeira, cabalga nun cabalo tamén negro" ainda que logo lle chame "faco pedrés". O Conde evoca os seus dias de disputa cos Sarmiento pola capital do Ribeiro.
          Madrugas, Pedro, madrugas,
          díxome o Sarmiento un día,
          dímoslle ben tento à bota
          -inda non amañecia-,
          cantaban mozos troveiros
          perto das portas da vila:
          A frol da Ávia,
          palma e amor,
          ¿será de Sarmento ou de Soutomor?
          As augas das fontes
          tamén perguntaban,
          as aves curiosas
          seu voar paraban...
          As mociñas de Floravia
          margaridas desfollaban,
          e por que saíra eu
          o seu cantar trabucaban,
          e ían as folliñas albas
          decindo ó ar meu loubor.
          Na behetría das mociñas
          foi proclamado señor...
          ¡Viva la palma, viva la flor,
          viva, viva Don Pedro Madruga,
          Don Pedro Madruga de Soutomaior!

                                                  V
     Dom Joam Cuveiro evoca o Conde histórico, tal como el o interpreta, ao jeito romántico, ou neo-romántico; figura prestigiosa, caudilho do sul de Galiza na guerra de sucessom de Henrique IV, senhor fronteirizo galego-português, que defende a causa da princesa dona Joana e o seu prometido esposo o rei Afonso V de Portugal. Joam da Gesta apom-lhe que mantém ominosos usos feudais. O Conde de Cuveiro remata nom só reconhecendo o triunfo de dona Isabel, senom anunciando o fim do feudalismo, e mostrando-se mui disposto a acatar o novo governo, do que espera grandes feitos. Hai, pois, umha transformaçom da personage, que de algum modo recolhe a realidade histórica da sumissom do Conde de Caminha, feitas as pazes entre Portugal e Castela. O Soutomaior de Cuveiro, como vimos, recomenda ao seu filho Álvaro que renúncie aos privilégios senhoriais abusivos, e aceita bençoar o matrimónio do seu herdeiro com Inês Henríquez de Monroi, que parece na peça inferior em linhage ao que na realidade era, como filha do cavaleiro Fernando de Monroi, senhor de Belvis, com rendas nas fortaleças de Almaraz e Deleitosa, dotada con dous contos de maravedis.
     Assi, entre os actos e as palavras do Conde que se realizam ou pronunciam em cena, de umha banda, e de outra, a caracterizaçom indirecta do mesmo que resulta da conversa entre o Vigairo pedáneo da freguesia de San Salvador de Soutomaior e o vilao Joam da Gesta, sostida na cena II do único acto da peça, no campo da feira que se celebra o 10 de cada mes naquela parróquia, fica traçado, de modo mui esquemático, o perfil literário do Conde de Caminha tal como dom Joam Cuveiro o concebe.
     Canto à "farsada dramática" de Otero Pedraio, temos visto que é o fantasma do Conde o que tira à cena. Aqui, Pedro Madruga é un aparecido. Só el, evocado do além, pode devolver a Florávia a sua alegria, queimando a mercancia mortuória que ensombrece a vida na capital do Ribeiro. A figura de don Pedro é mitificada pola sua grande vitalidade, pola sua força irónica e o seu amor à aventura arriscada.
     Nengumha das obras examinadas tem um valor fundamental na história do teatro galego. A de Cuveiro é umha peça de erudito, a de Otero umha fantasia arbitrária. Se aquela carece de pulo, esta resente-se de desorde. Pedro Madruga nom conseguiu ver-se reflexado num drama da calidade de O Mariscal, no que Cavanilhas plasmou com grande vigor poético a figura de Pero Pardo. Como quer que seja, a todos os galego-portugueses interessa -deve interessar- a projecçom nas letras galegas -neste caso o teatro entre determinados límites cronológicos- da personalidade deste poderoso e turbulento galego-português. Por isso consagramos as páginas que se acaba de lêr a um aspecto da fortuna literária do Conde de Caminha, pensando que nom estarám de mais num colóquio que em Caminha se celebra.
     Fica dito que escritores mais novos que os que nos ocuparom, se interessarom tamém pola figura de Pedro Madruga, visto desde outras perspectivas, mas non temos notícia de que todas estas versons teatrais chegaram a imprimir-se. Na sua memória de Licenciatura43, dirigida por mim, e apresentada na Faculdade de Filologia no curso 1980-1981, dom Joam Verdini Deus menciona o drama histórico Pedro Madruga, de Daniel Cortezón, e o titulado Erros e ferros de Pedro Madruga (1972), de Manuel Lourenzo, estreado o 5 de agosto do mesmo ano em Castro de Ouro, Alfoz (Lugo), e acrecenta que em setembro de 1980 o grupo corunhês Troula se dispunha a estrear no festival de Sitges, que havia começar o 24 de Outubro, um espectáculo titulado Pedro Madruga, conde de Camínha, senhor de Soutomaior, sobre um texto de Miguel Gato e música de Joam Pinhom. Dados cos que remata esta comunicaçom sobre Pedro Madruga no teatro galego.

DE SHAKESPEARE A CUNQUEIRO
     Álvaro Cunqueiro estava, segundo as trazas, mui satisfeito do seu Hamlet. El soía por-lle a este nome, respeitosa, mas tamén ironicamente -con unha miga de erudita ironia- o Don que a personagen leva no título completo: O Incerto Señor Don Hamlet, Príncipe de Dinamarca. Protestava que non quigera nunca facer unha paródia de Shakespeare, como alguns afirmavan. Nom lembro ter lido esa afirmazón en nengun autor, agás eu mesmo, que, nunha conferéncia na Universidade de Coimbra, comparei o Hamlet de Cunqueiro a respeito de Shakespeare con La Machine Infernale de Cocteau a respeito de Sófocles. Non pretendin que eses autores modernos quigesem moquear-se dos seus antecesores clásicos, conceito vulgar de paródia no que parece ter caido a rejeizón do mindoniense, mas que Cunqueiro e Cocteau partiron de Shakespeare e Sófocles, como Sófocles e Shakespeare partiron à sua vez de fontes mais antigas, e escreveron à margen dos seus modelos obras de tipo posclásico, vistas desde a modernidade, e polo tanto con un distanciamento que entraña unha visón estilizada e reservada da sua matéria. De aí o carácter esperpéntico que a fábula cobra no noso compatriota, con un cúmulo de defunzóns cénicas mais marlowiano que shakespeariano, e luídos epigramas manieristas a pontuar os mais luctuosos lances. Enfin, a atitude do poeta perante a sua matéria é un esteticismo que frisa o expresionismo, con todo o que isto supón de tratamento guiñolesco das situazóns e das personagens. En realidade, esta postura é a normal de Cunquciro en toda a sua obra. A sua propensón aos mitos e modelos literários que lle oferece a tradizón, non é a ingénua admirazón ucrónica do autor de Os Eoas perante o de Os Lusíadas, que desemboca nunha inviável arqueologia, senón a do criador erudito que desde a sua circunstáncia resucita unha matéria embalsamada, posta en funcionamento mediante mecanismos produtores de unha ilusión de vida que o autor sabe artisticamente montada como glosa de uns supostos estéticos en parte fosilizados já.
     Hamlet en Shakespeare é un tipo misterioso, que suscita muitos interrogantes. Para Cunqueiro -coincidente sen sabé-lo con outros engeños-, o príncipe non é fillo do rei morto, mas do rei vivo, e a sua nai non só é un pouco Clitemnestra, como en Shakespeare, senón tamén un pouco Yocasta, como en Sófocles. Os problemas e as dúvidas do Hamlet do inglés proceden da sua verdadeira filiazón, que o inglés descoñecia. Este é o descobrimento de Cunqueiro, que lle permite reescrever a história.
     Deste jeito, Hamlet transforma-se en Edipo. A penumbra que en Shakespeare embaza o carácter do príncipe, disipa-se en Cunquciro, no qual o complexo do incerto señor é psicoanalisado. Para Freud, Hamlet, que distava de ser un intelectual contemplativo, non pode executar as ordens do fantasma porque o home sobre quen tem que recair a vinganza, e que agora ocupa un sólio e un tálamo usurpado, é a encarnazón triunfante dos inconscientes pulos do próprio príncipe real, incurso así nos mesmos delitos que está chamado a castigar. Ese complexo edípico está mui presente na obra de Cunqueiro, mentres que na de Shakespeare se acha agachado, segundo o profesor vienés. William teria escrito a obra nun momento, o da morte do seu pai, en que a dor da perda produciria a reviviscéncia dos sentimentos infantis reprimidos no adulto.
     O Hamlet de Cunqueiro resulta asi muito mais freudiano que o de Shakespeare.
     Shakespeare é un cortesano dos tempos de Jacobo I que conta, adaptando-se ao seu mundo ideológico, unha história que leu en vellas sagas. Cunqueiro é un soldado do séquito de Fortimbrás que ouviu o relato doloroso às mesmas testemuñas dos feitos, e que se cadra alcanzou a ver os cadáveres amoreados na sala real de Elsinor. Sen dúvida por iso ousa dar-nos outra versón da história, que talvez esté mais próxima à realidade íntima dos sucesos. Porque -prescindindo já da apócrifa informazón contemporánea en que se basea-, ainda que Shakespeare é anterior a Cunqueiro, entre Shakespeare e Cunqueiro está Freud e a psicoanálise, e iso quizá permitiu realmente ao mindoniense ver as cousas con máis consciéncia que ao génio isabelino e jacobita, como se realmente fose Álvaro un soldado que chegou a Elsinor cando se desenlazava a tragédia.

"O GALO" E OS CONCURSOS DE TEATRO
     O Galo, de Luís Amado Carballo, livro póstumo, foi talvez -non o sei- a fonte que inspirou o título da asociación cultural cujo quarto de século agora se celebra. Non se escreveu aínda unha história das asociazóns culturais que surgirom no antigo regime, quando a presenza do amigo americano comezou a abrandar a política lingüística e cultural do sistema. Creio que O Galo compostelano encetou o seu canto na alvorada, aínda embazada por farrapos de persistente brétema, daquel día de esperanzada e difícil restaurazón.
               Abre-lle as portas ao día
               coa chave do teu cantar,
               que já na fonte da luar
               está lavada a mañán.
     Aínda era eu profesor fora de Santiago, e viña, convocado polos primeiros entusiastas e arriscados organizadores da Asociazón, conferenciar ou facer parte do júri en actos e certames agarimados sob as asas da ave titular. O Galo desempeñou un papel mui importante nos intentos de recuperazón do teatro galego. Se non me trabuco, tres veces me reunín cos meus compañeiros de júri para cear no Hostal do Reis Católicos juntamente con muitas outras pesoas interesadas pola cultura galega, nunha desas ceias literarias que daquela se usavan para emitir fallos de prémios. A "campaña do peso" -unha organizada postulazón de aportazóns individuais dese valor- fornecía os meios económicos, avondo, precários, e que -se mal no lembro- sustiveron a instituizón por tres edizóns consecutivas.
     Na primeira, dúas obras ficaron empatadas. Consultada a directiva de O Galo opinou que unha división do prémio, sen dúvida já modesto na súa quantía, desalentaría futuros concursantes. Recebémos o rogo de procurar o desempate. Decidiuno un funcionário que non lera os textos, mais que por imperativo da lei tiña que formar parte do júri. Esquecin o título da peza premiada, que talvez conste en acta que conservará O Galo, e mesmo o nome exacto e completo do autor, a quen hai anos perdín de vista, aínda que, profisional distinguido da radiodifusón, máis tarde participou como actor excelente na estreia de una peza miña. Assi que o prémio se adjudicou a unha obra que nunca se publicou porque o seu autor nunca a deu á imprensa.
     Os gañadores dos dous anos seguintes foron Joana Torres e Jenaro Mariñas, hoje ambos os dous escritores de coñecida releváncia, mas já entón justamente estimados, con Un hotel de primeira junto ó río e A obriga, respectivamente.
     Pode que estas lembranzas miñas non estejan isentas de algunha inexactitude. Ao que penso, non houvo máis convocatórias, porque non foi posível acrecentar a quantía do prémio, e as transformazóns económicas figeram imposível manté-lo no seu primitivo importe.
     No suposto de que se conserve a correspondente documentazón, podería trazar-se con máis exactitude a história deste certame, aínda que algúns dos dados consignados por min nestas liñas en verbo da primeira edizón, claro está que non se acharán na prosa tabeliónica de referéncia.

Páxina Anterior

Ir ao índice de Páxinas

Páxina Seguinte


logoDeputación logoBVG © 2006 Biblioteca Virtual Galega