Contos de fada em do maior

Páxina Anterior

Marinheiros sem porto.

 

v2monchodefidalgocontosdefada013.html

MARINHEIROS SEM PORTO

     Só vinte anos separavam a atualidade do passado juvenil do Roi da Bolandeira, e sem embargo na sua dimensão mental havia alguns seculos de intervalo. Era o preço que seu espirito havia de pagar ao passar de uma criança, e primeira adotescencia, netamente aldeã a uma urbanidade trepidante e agitada. Só vinte anos separam aquelas imagens de maquinas de malhar centeio com os atuais trebelhos da electronica digital. Na sua panoramica mental misturam-se grandes avenidas de monstruosas cidades de paises avançados com as corredoiras cheias de lama da sua juventude primeira... Como marinho mercante tinha visitado tantos paises como patas somavam as vacas, porcos, galinhas e eguas que possuiram seus pais naquela ailhada aldeia... E sem embargo quanto daria o Roi da Bolandeira por uma cunca de «sopas de burro canso» ou um prato de torta de milho migado com leite! Que saudade sentia daquelas tardes bulideiras de malha, de seitura, dos aturujos dos alugados segando ao cair da tarde, quando o sol se deitava manso e romantico, que se ouviam de longe transportados polo vento calmoso e suave.
     Sentado à mesa de um local de repouso, com uma garrafinha de vinho da Madeira que ia engolindo devagar num copo de vidro talhado, lembrava estas e outras cousas. Fazia um repasso das meninas de sua idade que agora não sabia delas mais que por referencias alheias... Em um amor quase familiar, de irmão? Quiçá. Eram poucas, apenas tres, quatro, talvez cinco moças contemporaneas da sua moçaria. Como não lembrar aquelas mulheres às que lhe cantara, junto com outros, «taranteIas» debaixo das suas janelas? Recordar os sentimentos primeiros de amor, de desesperação inconsciente e sossegado à vez, fire e alegra o coração.
     Depois vinheram os estudos e a desvinculação com aquele meio de vida quase de auto-abastecimento. Mais tarde a marcha polos mares imensos do mundo. Jamais voltou acariciar seu nariz aquele aroma que ficou guardado na memoria: o café com leite que a mãe lhe fazia todas as manhãs. Qual o segredo? Seguramente um leite puro ao que se lhe adia café mudo directarnente, sem mesclas de agua. E que aroma desprendia!
     Miles de quilometros separam o lugar onde se encontrava com a minuscula aldeia das suas origens... Mas para ele ainda sigue sendo o nucleo do seu cerne sentimental.
     Passarão mil anos —se ele os vivesse— e na imaginação do Roi da Bolandeira haverá um lugar principal para a aldeinha de seis casas que, junto com outros lugares mais, formavam a parroquia onde lhe deram o nome que hoje o identificava, pensou.
     Às buzinas dos navios faziam chegar seus sons até o local, onde o Roi tomou ainda outro copo de Madeira. Somou-se-lhe à mesa outro colega. Um individuo de nacionalidade argelina e de origem palestina. Outra garrafinha de vinho e um copo mais foi servido. O palestino contava seus projectos para quando a liberdade atingida fizera feliz seu povo. O Roi da Bolandeira tambem tinha projectos.
     —Qualquer problema na Europa, amigo meu, dista muito de semelhar-se ao menos importante dos nossos!!
     —Certo. Mas existem.
     —Concordo.
     —E pois! Os problemas para que deixem de sê-Io sabes qual seu antidoto?
     —Resolvê-Ios!
     —Ai lhe doi!
     Riram os dous, encheram os copos de excelente caldo português e brindaram mais uma vez para que as penas dos povos e dos individuos do mundo ficaram arredadas.

Páxina Anterior

Ir ao índice de Páxinas

 


logoDeputación logoBVG © 2006 Biblioteca Virtual Galega