Contos de fada em do maior

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A aloucada vida de cidadão X.

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A ALOUCADA VIDA DO CIDADÃO X
A ALOUCADA VIDA DO CIDADÃO X

     Nessas primeiras horas da noite; uma noite gris e fria como o demo, que diria a mãe do «cidadão X», não tinha apenas em que empregar o tempo. Morava só num segundo andar da «Estreita» no bairro Cidade Nova. Fazia minutos, desde a janela da sala de fumos —assim denominava ao quarto onde via a TV e fumava de quando em vez um que outro charuto— observava passar uma linda moça com sobretudo de peles, debaixo dele levava um imaginario traseiro que mexia com uma elegancia! Com ela ia um tipo de bigode murcho que bem poderia ser seu pai. Na TV botam um partido de futebol que ele duvida se ver ou trocar de canal televisivo... deitado no sofá, com uma manta acima. Sua «consciencia», uma das varias personalidades que lhe não deixam em paz, está agora roendo-lhe, importunando-Ihe:
     —Senhor X. Quanto há que não estudas o que tens pendente? Acaso pensas chegar a musico ensaiando uma miseravel hora diaria?
     —Não penso chegar a musico, estupida, nem a nenhuma parte! Chegar, chegar. ..Quem falou em chegar?
     Agora o cidadão X está com uma cura de adelgaçamento que consiste em tomar tres litros de agua diarios. Seu estomago semelha uma esponja. Quem dissera, com o que gosta do bom vinho, e se é muito, melhor!
     Hoje, manhã e passado manhã descansa do trabalho de revistador, da parte electrica-electronica, de comboios no serviço de arranjamento: «ali trabalham tambem gentes que não possuem ouvidos senão orelhas. Cabeças cheias de cabelo, algumas nem isso, mas carentes de massa cinzenta... No seu lugar tem viruta de parafuso! Desculpas pelas exceções que não há! «Aliás eu não falaria assim do meu lugar de trabalho se não for que a minha vida aspire a algo melhor» —monologa em voz alta.
     —Em que quedamos, ilustrissima?
     —Já está outra vez. Maldita «consciencia»!
     —Antes opinavas que as tuas pretensões eram muito humildes.
     —E assim é. Pretendo passar pola vida, deslizar-me por ela diluido em cinquenta pessoas à vez. Ora simples arranjador de comboios, ora um elegante sibarita, mais tarde um intelectual com filosofias proprias...
     —Anda lá! Pandega, sonhador de rebaixas de janeiro... Quer ser intelectual e ignora até o autor do «Fausto»!
     —E a mim que me importa o «Fausto» esse ... Escreveu-o o Goethe?
     —Escreveu.
     —Já que sabes tanto. Quem escreveu o «Arranjador de comboios»?
     —Arranjador... Arranjador?
     —Lista! Ninguem. É a minha obra futura, a obra prima deste talento!
     —Já... Assim pretendes chegar a «intelectual»?
     —Certo.
     —Brincadeiras de palerma!
     —Fecha, fecha. Porquê tenho eu que dialogar com uma simples e vulgar «consciencia» de provincias?
     —Já são as onze e ainda não fizem a ceia.
     —«Non in solo pane vivit homo»...
     —Dis'sem que não desejo falar com «consciencias» petulantes, olha lá.

*

     O local! é de formas modernistas, tanto na mobilia como no resto da ornamentação. Um simples «Pub» é onde se encontra agora tomando um conhaque frances. Depois de cear encontrarva-se um tanto aburrido e saiu da casa sem destino concreto. É polo que ignora onde repousam seus ossos. O Cidadão X pensa agora em regressar em taxi a seu domicilio. Seu aspecto é original: trajo escuro, camisa branca, gravata e chapeu inglês...
     —Que tomas, intelectual. Porque agora estás a exercer disso, não?
     —Já está esta cá. É que nem fora da casa vas me deixar tranquilo?
     —Porque? Eu sou a «consciencia» tua. Posso acompanhar-te quando o deseje, não esqueça sua excelencia!
     —Bom, bom. Estou bebendo um golo da França!
     —Ah!
     —Sabes, o bom da nossa conversa é que se desenrola por «pensamento silencioso». Isso permite que seja  ignorada polos sujeitos urbanos. Por exemplo, olha para o petulante que acompanha àqueta loira. Toda a sua inquietação limita-se a beijar nela, e demais funções, comer, beber e gritar-lhe à sua equipa de futebol os domingos. Ignora o pobrinho que há demasiado uranio e plutonio apontando-nos!
     —Já estás. Se dizia eu que andas com a «intelectualidade» às costas. Porque não deixas de te ocupar da felicidade do proximo?
     —Cala «celestina» equivocada! Deixa-me falar. Agora lembro-me duma frase curiosa, ainda que pronunciada por um escritor pouco interessante para mim.
     —Um colega... Um futuro colega teu!
     —Ontem quando baixava, a primeiras horas da manhã escutei-lhe a um locutor na radio. Dizem que dixo: «Algum dia descubrirão que os autores somos tão respeitaveis como os jogadores de futebol».
     O sol e com ele o dia, inseriram ao cidadão X na sua realidade monotona, maquinal e rotineira. A vulgaridade do seu trabalho apagaram toda comunicação ludica entre a «consciencia» e ele proprio!
     Ao dia seguinte marcaria uma consulta com o psiquiatra.

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