Um serviço policial (Trascendência num acto)

Páxina Anterior

Cenas IX a XXII

 

v2joelgomezumserviçopolicial002.html




IX

(Chefa da Guarda Municipal, Dom Tibúrcio, Padre Pedro).


Chefa da G.M.— (Entrando, com vigor). As minhas saudaçons, meus senhores.
Padre Pedro.— Bom dia.
Dom Tibúrcio.— Bom dia. (Gesticula extranhado). Como por aqui?
Chefa da G.M.— Estava no quartel da guarda local aborrecida, pois como sempre nom acontece nada excitante, e escuitei a Elisa a Sota, a tola essa, que andavam a roubar na Igreja. Vim por se acaso.
Dom Tibúrcio.— Todo está controlado.
Chefa da G.M.— Suponho. Som muitos?
Dom Tibúrcio.— Ainda nom sabemos. Dous inspectores, Vindiciano e Levelino, entrárom há um bocado para detê-los. Devem estar a sair de um instante para outro.
Chefa da G.M.— Ah, sim, Levelino.
Dom Tibúrcio.— Levelino e Vindiciano também, os dous.
Chefa da G.M.— Pois, pois, os dous, é claro.
Dom Tibúrcio.— Com efeito.
(Pausa brevísima, produz-se umha situaçom embaraçosa, com gestos dos dous a tencionar perguntar algo, que acabam por resultar cómicos).
Chefa da G.M.— Se hei de ser sincera, de primeiras nom acreditei no conto. Pensei se seria umha história, como a que lhe aconteceu aos meus guardas que estivérom a trabalhar esta noite passada, um verdadeiro caso. Mais que isso: um casom!
Dom Tibúrcio.— (Interessado). O que foi? Algo escuitei no café, onde seica fôrom brindar polo bom sucesso, mas nom me soubérom explicar.
Padre Pedro.— Eu também ouvim algo... algo incrível.
Chefa da G.M.— De incrível nada. No entanto foi, com efeito, estranho, algo que nom se apresenta a diário.
Dom Tibúrcio.— Conte, conte, a ver se entretanto saem.
(Começa a soar música de mistério. Dura até que remata o seu relato do serviço, embora se vai adaptando ao nível dos acontecimentos).
Chefa da G.M.— Pois, polas quatro da madrugada, avisárom que havia um grande estorvo na recta da Seara Longa. Os guardas, ao receberem aviso por telefone, por mais que nom especificárom de quê se tratava, fôrom lá.
Padre Pedro.— (Expectante). E que era?
Chefa da G.M.— (Desafiante). A bom seguro que nom o adivinham.
Padre Pedro.— Ora, nem ideia.
Dom Tibúrcio.— Nom me soubérom dizer bem no café, a verdade...
Chefa da G.M.— Pois, era um porco.
P.P., D.T..— (A umha, assombrados). Um porco?
Chefa da G.M.— Um porco, sim, um porco, como todos os porcos.
Padre Pedro.— (Ingénuo). Que se lhe perdia ali a um porco àquelas horas?
Chefa da G.M.— Pois, eis a questom!
Padre Pedro. E que fizérom com ele?
Chefa da G.M.— Ao nom saberem como reagir com o animal, porque tinham o carro ocupado com diversos materiais, e depois de despertarem o alcaide, ocorreu-se-lhes aos meus guardas, fixem-se no que se dá por vezes quando se espreme o cérebro, vir pola ambuláncia e portárom-no nela até o matadoiro.
Padre Pedro. (Estranhado, mas sério). Na ambuláncia, dixo?
Chefa da G.M..— Sim, na ambuláncia.
Dom Tibúrcio. (Contendo o riso. Divertido). Ora, isso sim que é criatividade! Um porco numha ambuláncia!
Chefa da G.M.— Nom acabou aí a cousa. Ao chegarem ao matadoiro, como nom tinham a chave, e depois de despertarem de novo o alcaide, para solucionar a questom discorrérom meter o pobre do cocho numha cela da prisom, que está ao lado, pois só havia umha ocupada...
Dom Tibúrcio. (Ri. Sarcástico). Vaia, vaia... nom se ofenda, mas nom podo aguentar o riso, porque isso sim que é raciocinar para resolver problemas! Um porco na prisom!
Chefa da G.M.— Nom se preocupe, pode rir, que todos o fizemos. E nom creia, a léria resultou mais problema do que pensa. Ainda bom foi que hoje pola manhá aparecesse o dono, porque o marrao tinha fame e o senhor alcaide advertiu que nos orçamentos nom há nengumha partida de onde tirar dinheiro para saciar a fame de um artiodáctilo de quatro patas como aquele...
Dom Tibúrcio. (Risos estrepitosos. Com toda a intençom, gestos de estar abraiado). Os orçamentos! Isso sim que é cumprir a lei. E diga, diga, as quatro patas do artiodáctilo, como dize que lhe chamou o alcaide, chegariam-lhe até o chao polo menos, ou nom?
Chefa da G.M.— Nom o tome a tanta brincadeira, senhor comissário, foi como lhe digo.
(Gestos de escusa do comissário).
Padre Pedro. (Todo o tempo sério). Isso é, como eu dizia, umha história em verdade incrível. Mas isto do roubo na Igreja vai completamente a sério...
Dom Tibúrcio. (Contendo o riso com dificuldade). Bem sei, bem sei. Nom obstante, caso como esse eu nunca escuitara. Devêrom quedar cansos de improvisar semelhantes eminências. A estarem ao meu serviço, proporia-os para um ascenso.
Chefa da G.M.— Nom pense, passárom-no mal, polo que contárom.
Dom Tibúrcio. (Volve a rir). Creio-o, creio-o, nom é para menos.
Padre Pedro. (Indignado). Já está bem de brincadeira. Nom esqueça que tem os dous melhores inspectores dentro da Igreja, levam umha boa miga dentro e nom há traças de que saiam.
Dom Tibúrcio. (Sério, de repente). Certo. Mas a história nom é senom a demonstraçom de que, por vezes, o que parece mais simples é porventura mais complicado do que se poda pensar.
Padre Pedro. Essas cousas som próprias da guarda municipal. (A Dom Tibúrcio). Mas a polícia é mais séria, ou nom?
Chefa da G.M.— (Gesto de muito ofendida). Como se lhe ocorre...
Dom Tibúrcio. (Conciliador). Cale, padre Pedro, nom diga isso que pode ser falar de mais; qualquer sabe o que aguarda em cada serviço. Se eu lhe contasse! Porém, nom é o instante.
Padre Pedro. Sim, há que estar pendente (fita para a Igreja) do que acontece.
Chefa da G.M.— (Interessada). Justamente. Tem razom o senhor cura, o importante é o presente; o passado, passado está; cada um safou-se dele como soubo e pudo, o tempo nom permite regressar para atrás. (Diplomática). E que Deus nos livre de um já foi! (Assinala também para a porta da Igreja). Há, pois, muito que entrárom os inspectores?
Dom Tibúrcio. Estarám a registar em todas as partes, e isso leva tempo. Há confessionários, tribuna, oratório, quatro altares, muitas voltas, em definitivo, que dar, enfim, já sabem. (Olha o relógio). Mas, tem razom, já deveriam sair ou dar notícias. Vou ver que acontece. (Dirige-se em direcçom à entrada do monumento).




X

(Dom Tibúrcio, Chefa da Guarda Municipal, Padre Pedro, Vozes de levelino e Vindiciano, Levelino).


(Escuita-se Levelino golpear a porta, com força. Música vacilante).
Voz de Level.— (Grita, frenético). Que acontece aqui? Por que nom abre isto?
Dom Tibúrcio.— (Pegado à porta). Levelino, que ocorre?
Voz de Level.— (Azougado). Que nom dou aberto a porta.
Dom Tibúrcio. (Puxa, fai também por abrir). Nom a atrancariam eles enquanto registávades...?
Voz de Level. Ao melhor sim, é possível. (Com tensom, continua a golpear forte). Nada, nom há jeito, isto nom cede.
Voz de Vindic.— Nom há forma de mover a fechadura.
Padre Pedro.— (Que chega onde o comissário presto, junto com a Chefa da Guarda Municipal). Que lhe passa à porta? Andem a modo, nom a acabem por fender.
Dom Tibúrcio. Pois, nom a dam aberto.
Voz de Vindic. (Nervoso). Fazemos o que podemos, mas resulta impossível.
Padre Pedro.— Deem-lhe bem à manivela.
Voz de Vindic. Que manivela?
Voz de Level. Aqui nom há nengumha manivela!
Padre Pedro.— Debaixo da fechadura, à esquerda, há umha pequena manivela.
Voz de Level.— Sim, aqui vê-se um anaco de ferro que sobressai, é isso?
Padre Pedro.— Com efeito. Atire para si, puxe por ela.
(Pausa mui breve. Escuita-se ruído dos dous ao agirem).
Voz de Vindic. Nada, igual. Isto move-se, mas a porta nom abre.
Padre Pedro.— Nom lhe deem tam bruscamente. Fazê-lo funcionar é questom de manha, nom de força.
Chefa da G.M. Manha, Levelino, que nom se diga!
(Abre-se a porta com força, quase caem os três que estavam, no cenário, pegados nela. Reagem com sobressalto. Final repentino da música).
Levelino.— (Entrando). Por fim! (Troca saudaçons com a Chefa da Guarda Municipal).
Padre Pedro.— Devim adverti-los, desculpem. Habilitamos essa manivelinha como feche de segurança. Foi umha manha do sacristám.
Levelino.— Está bem. Desde logo que é discorrer. Se nom se sabe, nom há jeito de abrir.
Padre Pedro.— Sim, é bem segura.
Levelino.— Está feita à consciência, diria eu. Nom falha.
Padre Pedro.— Modestamente, fai-se o que se pode por ter o melhor possível a Casa de Deus.
Dom Tibúrcio. (Surpreendido, interessado. Os três acercam-se a Levelino). Estades bem? Aparecem ou nom?
Levelino.— (Tom intranquilo de súbito; dirige-se a Dom Tibúrcio, sinala para o interior). Nom aconteceu nada mau. Polo menos até agora. Vindiciano fica dentro a vigiar, por se há novidades.
Chefa da G.M. Nom aparecem, dizes?
Levelino.— Nem rasto.
Chefa da G.M. (Curiosa). E sabes quantos som?
Levelino.— Nom sabemos certo. Mas, polo ruído que fazem e o jeito de agirem, como pouco serám três.
Dom Tibúrcio.— (Abraiado). Três?
Levelino.— E de aí para Norte.
Dom Tibúrcio.— (Contrariado). Contra, contra...!
Padre Pedro.— (Preocupado). Causárom estragos? O estropício, é muito?
Levelino.— Nada que nós víssemos.
Dom Tibúrcio. E Vindiciano, está bem?
Levelino.— Está, sim. Ficou dentro a vigiar, como dixem. Há um instante voltamos a escuitar os ruídos. Por duas vezes, enquanto os senhores se riam. Pensamos que podem estar fechados na sacristia; mas precisávamos umha chave para entrar.
Padre Pedro.— (Presto). Devo ter aqui, justamente acaba de dar-me umha o sacristám.
(Remexe na sotaina até que tira umha chave, que entrega a Levelino).
Levelino.— Muito bem. Vamos entrar nela, pois.
Chefa da G.M. Que haja sorte.
Padre Pedro.— A ver se os apanham aginha.
Dom Tibúrcio. Tranquilos, eh? E a passar algo, nom duvidem em avisar, aqui estamos todos para ajudar.
Levelino.— A ver se trazemos boas notícias depressa. Por muitos que sejam nom lhes vai ficar mais remédio que se entregarem, nom tenhem escapatória.
Dom Tibúrcio. Bem, de todas as formas, andem com tino e devagarinho, evitem contratempos. Que o seu agir seja sempre sobre seguro.
Levelino.— Perda cuidado.
Dom Tibúrcio.— Por certo, se som três, nom lhes cumprirám reforços? Nom me custa nada avisar outros inspectores, eu mesmo...
Levelino.— O que dize! Valemo-nos de sobra. Estes (assinala para o monumento) son amadores, ladrons ao por menor.
Padre Pedro.— Por que os chama ladrons ao por menor?
Chefa da G.M. Depois, quando acabe todo, se quiger explicamos-lho.
Dom Tibúrcio. (A Levelino). Olhe que nom me custa nada enviar dous ou três inspectores mais.
Levelino.— Que nom, que nom. Asseguro-lhe que avondamos. Que som três ou quatro criaturinhas destas para o valor e experiência que nós temos? Gentes destas, e piores, pilhamo-las a diário, non esqueça.
Dom Tibúrcio. Pois sim, mas estes podem estar armados.
Levelino.— O mesmo dá. (À parte). Este, como nom fizo nada durante a sua carreira e por isso vem jubilar-se aqui pensa que todos somos iguais. E há polícias e polícias. (A Dom Tibúrcio). Temos presente que nos devemos aos cidadaos, a nossa missom é garantir a ordem mesmo em situaçons mais contrárias. Aliás, a fazer-nos falta ajuda, que nom há de ser o caso, chamamos e, como está toda a dotaçom a rodear a Igreja, nom há problema em acudir-nos prestesmente e socorrer-nos. Ou nom?
Dom Tibúrcio. Isso é certo. Mas eu dizia-o pola sua integridade, para evitarmos riscos.
Chefa da G.M. E eu e os meus guardas também estamos para o que faga falta, podem-se lembrar de nós sem problemas em caso precisarem-nos.
Dom Tibúrcio. Já o sabemos; o meu reconhecimento mais umha vez.
Levelino.— Muito obrigado (Tom imperativo). Mas nós havemos de nos bastar. Já o verám. Ademais, estes (volta indicar para dentro) rendem-se mal lhes demos com o enconderijo. Bem conheço semelhantes animais delitivos. No fundo, som uns cobardes.
Dom Tibúrcio. Bem, nom vou discutir mais este assunto com o melhor inspector ao meu serviço. Faga como quiger.
Levelino.— Vou logo, para nom perder mais tempo.
Chefa da G.M. Sorte. E cautela.
Padre Pedro.— A ver se acabassem com tempo para a próxima missa. Já se perdeu umha hoje com toda esta trécula.
Dom Tibúrcio.— (Olha-o com indignaçom). Todos queremos findar prontamente.
Padre Pedro.— Desculpe, nom o tome a mal.
Dom Tibúrcio. Em absoluto.
Levelino.— Nom se preocupe. Vamos ver se lhe cumprimos esse gosto.
(Entra outra vez na Igreja. Deixa a porta arrimada, sem fechar de todo).
Chefa da G.M. (Convencida, rotunda). Quanto vigor e valentia tem esse Levelino. Penso que é excessivo!
Padre Pedro.— (À parte). Já se verá. (Para a Chefa da Guarda Municipal). Sempre foi assim.
Chefa da G.M. (Turbada). Também é certo.
Dom Tibúrcio. (Agradecido). Som vocês, vê-se bem às claras, muito considerados com a minha gente. Obrigado. (À parte). Que pouco dissimula esta mulher o muito que gosta do Levelino. Enfim, paciência!
Padre Pedro.— Entendo que é o normal. E mais neste instante.
Dom Tibúrcio. Obrigadinho de novo, de todos os jeitos.
(Pausa breve).




XI

(Padre Pedro,
Dom Tibúrcio, Chefa da Guarda Municipal, Directora do Coro, Integrantes do Coro e da Rondalla, Voz).


Chefa da G.M.— Fazem-se de rogar esses diabos.
Padre Pedro. O que eu digo: se se lhes desse um bom escarmento a estes elementos nom sucediam cousas assim.
Dom Tibúrcio. Nom me venha outra vez com essa história. (Escuita-se umha forte discussom, e música popular de fundo, suave e desconexa até o final da cena. Contrariado). Que é todo ese barulho?
(Os três olham para a parte do cenário da qual procedem as vozes).
Voz. Senhor, esta gente dize que quer passar.
Voz Dra. Coro. Pois claro, padre Pedro, a ver que vai ser isto. Vimos para ensaiar e topamo-nos com toda esta andrómena. Assim nom avançamos.
Padre Pedro. Verám, é que... (A Dom Tibúrcio). Seria bom que se acercassem também estes um instantinho para explicar-lhes e nom chamar muito a atençom. Como vê, começa a haver de novo demasiado gente pendente de todo isto e nom me agrada nada.
Dom Tibúrcio.— Bem, mas só um instantinho. E que sejam poucos.
(Padre Pedro fai um gesto e um grupo de membros do coro e da rondalha, com a directora à frente, entram).
Dra. do Coro.— Que acontece? Nós só anelamos ensaiar um pouco. Amanhá devemos actuar, no dia da festa maior, e desejamos acabar de preparar todo.
Dom Tibúrcio.— (Voz baixa, tom confidente). Estám a roubar na Igreja.
Dra. do Coro.— (A mesma atitude. Gestos de incredulidade). Isso escuitamos-lho dizer à Elisa a Sota quando vínhamos para aqui, mas nom acreditamos; como essa é como é!
Padre Pedro.— Pois é certo. Assim que terám de adiar o ensaio para outra hora. Nom se pode interromper agora a polícia.
Dra. do Coro.— (A Dom Tibúrcio). Tardarám muito?
Dom Tibúrcio.— Acho que nom. Questom de instantes.
Dra. do Coro.— Vamos aguardar. Se nom, a demorarem-se muito vimos pola tarde.
Dom Tibúrcio.— Pois, aguardem, mas retirem-se, fagam o favor. Nom cumpre muita gente perto da Igreja, nom sabemos quantos som, nem de que calanha, e nom aconteça que se apresentem problemas.
Dra. do Coro.— Descuide. (Decidida). E a fazer falta a nossa ajuda nom duvidem em chamar-nos.
Dom Tibúrcio.— Nom penso, isto nom é cousa que se resolva com cançons de um coro nem com músicas de rondalha.
Dra. do Coro.— (Tom de desforra). Bem, eu dizia-o por se for o caso. Nunca se sabe. Nom esqueça que a música amansa as feras; como é de sobras sabido.
Dom Tibúrcio.— Muito obrigado. E agora, perdoe, mas devo pedir-lhes que nos deixem. A ver se se resolve isto.
Padre Pedro.— Estes bandoleiros só entendem outra música. Se me deixassem a min! Enfim, a ver se os pilham já de umha vez.
Dra. do Coro.— A ver, que seja rápido. Retiraremo-nos, pois. Muita sorte.
Dom Tibúrcio.— Obrigado.
(Saem).




XII

(Padre Pedro, Dom Tibúrcio, Chefa da Guarda Municipal, Levelino, Vindiciano, Raparigas 1, 2 e 3, O Garoto).


Levelino.— (Entrando). Nada. Nom há ninguém.
(Os três achegam-se-lhe, expectantes).
Dom Tibúrcio.— Nom estavam na sacristia?
Levelino.— Pois nom.
Padre Pedro.— Olhariam bem?
Levelino.— Registamos todo. Abrimos as portas dos armários, dos móveis, olhamos entre as diferentes vestimentas de missa e nada de nada. Aquilo está todo em ordem e vazio de gente. Nom demos com rasto. Só volvemos a escuitar outras duas vezes esse maldito pequeno estrondinho, como se andassem a agachar-se com cautela. Isto é que nom tem nome; nom acertamos a saber o que pretendem.
Dom Tibúrcio. Pois, os ruídos som a mostra de que roubando estám. Algo haverá que fazer, e rápido, já nos está levando demasiado tempo esta léria.
Levelino.— Parece como se procedessem do teito.
Dom Tibúrcio. (Rotundo). Pois nom se fale mais: sobem e apressam-nos.
Levelino.— (Olha para o alto, face ao monumento). Nom é simples.
Padre Pedro. Há umha escada aí ao lado (assinala).
Dom Tibúrcio. Pois já está, peguem nela e a por eles. Nom se perda mais tempo.
Levelino.— O mau é que, se fica o interior do monumento só, enquanto subimos podem baixar eles e estamos na mesma.
Dom Tibúrcio. Nom se preocupem, entro eu a vigiar.
Chefa da G.M. Acompanho-o eu, dom Tibúrcio.
Dom Tibúrcio. Como quiger. Agradece-se o gesto, mas é desnecessário; se tem outra cousa que fazer...
Chefa da G.M. Que melhor que solidarizar-me nesta missom que começa a apresentar-se tam complicada. Afinal, todos viajamos no mesmo barco.
Dom Tibúrcio. Com efeito, demasiado complexa, diria eu. (A Levelino). Entre, pois, procurar Vindiciano.
(Levelino obedece. Entram Raparigas 1, 2 e 3 e O Garoto, com roupas ligeiras, de praia).
Padre Pedro. (Imperativo). Fora de aqui, como se lhes ocorre!
Chefa da G.M. Tranquilo, padre Pedro. Som a minha filha e umhas amigas.
(Dirige-se à Rapariga 1, interroga-a com gestos. Dom Tibúrcio sauda-os).
Rapariga 1 . (Escusando-se, com gestos também). Escuitamos o que acontecia e como passávamos por aqui...
Chefa da G.M. Nom é nada, um serviço rotineiro. Será melhor irdes-vos, aquí só estorvades. (Zangada). E nom sei que fazes com esse garoto, depois do que che tenho dito.
O Garoto.— (Ingénuo). Eu nom lhe fago nengum mal, só a quero.
Chefa da G.M. (Colérica). Como dizes, desgraçado? Que saberás tu o que é querer! Esses que estám ai dentro (sinala a Igreja, com gestos de que estám roubando) nom serám amigos teus, verdade?
Rapariga 2.— E logo estám roubando?
Rapariga 3.— O Garoto estivo toda a manhá connosco...
Chefa da G.M. Nom, já vejo que ele esta vez nom é.
O Garoto.— Eu nom sei nada, senhora, juro-lho. Os meus amigos estavam também na praia.
Rapariga 3.— Certo.
Rapariga 1.— Sim, estavam todos no areal da Ribeirinha.
Chefa da G.M. Bem, acredito-o, melhor assim. Agora marchai-vos. (À Rapariga 1). Contigo já falarei depois, já amanharemos isto.
Rapariga 1.— (Inquieta). Vamo-nos, pois.
(Saem as três Raparigas e O Garoto).
Chefa da G.M. Esta juventude, está visto, tem difícil remédio, nom há quem poda com eles.
Padre Pedro. Já lho dizia eu...
Chefa da G.M. Isto de ser mai e profissional por vezes é complicado, como bem poderám imaginar...
Levelino.— (Entra, interrompe). Já estamos prontos.
Dom Tibúrcio.— Bem (Dirige-se à Chefa da Guarda Municipal). Entra, pois?
Chefa da G.M. Naturalmente, dixem que o acompanhava e mantenho-o.
Padre Pedro.— Eu fico a aguardar aqui. Nom se preocupem (brande a escopeta) que também hei de saber ter conta deles, a fazer falta.
Dom Tibúrcio. Esperemos que nom. Aliás (olha em redor) está toda a polícia.
(Entram na Igreja Dom Tibúrcio e a Chefa da Guarda Municipal).




XIII

(Levelino,
Padre Pedro).


Levelino.— (A Padre Pedro). Onde dixo que estava a escada?
Padre Pedro.— (Indica o mesmo lugar que a vez anterior). Aí detrás.
Levelino.— A ver se sai Vindiciano e imos por ela.
Padre Pedro.— Ajudo-lhes?
Levelino.— Nom fai falta, obrigadinho. Amanhamos-nos nós. Pode, entretanto, botar mao das suas melhores artes para ver se os convence a que se entreguem. (Confidente). Porque isto começa a nom ter jeito.
Padre Pedro.— (Convencido). Pode estar seguro de que assim o farei.




XIV

(Padre Pedro, Levelino, Vindiciano
).


Vindiciano.— (Entrando). Já estou aqui.
Levelino. Vamos colher a escada para subir ao teito.
(Saem).
Padre Pedro. (Só no cenário. Em alto, tom paternalista). Venha, homes, rendam-se já. Nom tem sentido nengum resistirem-se. Quanto mais tardem, pior vai ser. Deixem-se a ver de umha vez. Total, nom tenhem escapatória possível. (Tom mais confidente). Cada vez vem mais gente inteirar-se do que acontece. E quanta mais haja mais os vam ver, e maior vergonha passarám. Pensem que também a será para os seus filhos e achegados. E tenham presente que Deus, que é tam misericordioso, perdoa sempre, e a vocês também, por mais que estejam a cometer sacrilégio...
(Pausa breve).
(Entram Vindiciano e Levelino com a escada. Colocam-na para subirem ao telhado).
Levelino. Que, parece que nom fazem demasiado caso?
Padre Pedro.— Pois nom, e isso que falo bem. Som uns desapreensivos, isto nom tem jeito.
Vindiciano.— Pior lhes há de ser.
(Continuam a colocar a escada. Há um silêncio. Ao cabo de umha pausa breve escuitam-se os ruídos).
Padre Pedro. (Indignado). Que provocadores, que más pessoas, que ruins! Nom merecem perdom de Deus!
Levelino. Tranquilo, pouco lhes resta. Deixe-os que aproveitem as últimas desta aventura.
Padre Pedro. A ver. Vou um instantinho indagar que fazem esses dentro. (À parte). Nom vaia ser que haja problemas, melhor desaparecer enquanto nom se clarifica todo.
(Entra na Igreja).




XV

(Levelino, Vindiciano ).


Levelino.— O cura meteu-se na Igreja cagadinho de medo.
Vindiciano.— Já vim.
Levelino.— E que opinas da careta de pessoinha que mantivo hoje todo este tempo o nosso chefe?
Vindiciano.— Deve ser que anda a Igreja polo meio e isso enternece-o.
Levelino.— A ver se lhe dura.
Vindiciano.— A ver.
(Pausa mui breve. Colocam a escada).
Levelino.— (Assegurando a escada). Estará já pronta, nom?
Vindiciano.— Penso que sim.
Levelino.— Será melhor que subamos um dos dous só, por se acontecesse algo... Podemo-lo botar a sortes.
Vindiciano.— Julgo que será melhor irmos os dous, haverá mais confiança quando os encontremos. Já estám todos os polícias em redor (gesticula para corroborar as suas palavras) para botar umha mao no caso de ser preciso.
Levelino.— Tens razom. Aliás, assim nom perde nengum. Tu diante!
Vindiciano.— Por isso nom há pega.
Levelino.— (Gestos de impaciência). Acabemos, pois, de umha vez com esta história.
Vindiciano.— Acabemos, a poder ser nem novidade.
(Sobem a escada, decididos. Música de suspense de fundo, enquanto no cenário se debilita a luz. Pausa breve).




XVI

(Levelino, Vindiciano ,
Padre Pedro, Dom Tibúrcio, Voz).


Padre Pedro. (Entra. Dirige-se aos dous inspectores). Quê, como vai isso?
Levelino.— Estamos a investigar, mas nada, nom vimos nada por agora.
(Novamente os ruídos).
Padre Pedro. Pois aí andam. E dentro, desde logo, nom quedárom.
Levelino.— Isso está claro, o caso é dar com eles; agacham-se bem.
Dom Tibúrcio.— (Entrando, incomodado, a Padre Pedro). Nom suportava mais aí dentro. Como a Chefa da Guarda Municipal insistiu em que nom lhe importava ficar a velar só vim também, para comprovar como evolui todo. Voltárom a escuitar-se os ruídos.
Padre Pedro.— Voltárom, nós também os ouvimos.
Dom Tibúrcio.— (Indignado). Quando desafio, e que inútil. Porque, desde logo, a quererem chamar a atençom já o conseguírom; e se se querem burlar de nós... a quererem-se burlar de nós a fé que esgotárom a nossa paciência; nom lhes há de ficar vontade para nunca mais. Como me chamo Tibúrcio, que vou fazer-lhe caso por esta vez, padre Pedro, e ham de quedar bem escarmentados semelhantes delinqüentes...
Padre Pedro. (Indignado. Em alto). Sacrílegos!
Dom Tibúrcio.— Abusons!
Padre Pedro. Endemoninhados!
Dom Tibúrcio.— Imensamente errados!
Padre Pedro. O que eu lhe digo. A esta gente nom se lhe pode dar confianças de nengumha maneira. Em vez de aproveitá-las já vê como reagem, a rir-se de um. E digo mal gente: esta escória; nem gente som!
Dom Tibúrcio.— O mau é que cada vez há mais pessoas a interessarem-se e nom gosto de tanta expectaçom, nom gosto nada de nada. Se por um acaso fracassarmos pode acontecer um verdadeiro desastre.
Levelino.— Isso é impossível, está todo controlado.
Dom Tibúrcio.— Aguardo que assim seja, mas...
Levelino.— Faga-me caso.
Dom Tibúrcio.— De todas as formas, tanta gente a mirar para aqui nom me gosta nada.
Padre Pedro.— Mande dissolvê-los!
Dom Tibúrcio.— Nom é para tanto a cousa, nom estaria bem. Os polícias temos como missom a de vigiar e ajudar, nom nos pagam para metermo-nos com indefensas pessoas que estám pacificamente a curiosear, o que é razoável e compreensível, num caso assim. Penso eu.
Padre Pedro.— O senhor comissário é demasiado consentidor, nota-se que está para retirar-se.
Dom Tibúrcio.— Jamais gostei de liortas com os vizinhos. Por isso me jubilo aqui e nom noutro lugar, ou que pensa? Quigem ser um polícia honrado, mas também de consciência.
Padre Pedro.— Faga como quiger, que lhe vou aconselhar eu!
Levelino.—

(À parte). Contra com o chefe!, careta de pessoa e língua de sermom. Este home parece desconhecido. Veremos por quanto tempo.

Voz.— Meninho, meninho, que nom se pode passar...




XVII

(Dom Tibúrcio, Padre Pedro, Meninho 1, Meninho 2).


Meninho 1. (Entra a correr, detrás dele o Meninho 2). A bola, nom está aqui a bola?
Dom Tibúrcio.— (Gestos de desesperaçom). Justo o que faltava! Nom, aqui nom há bola nengumha.
Meninhos 1 e 2.— (A umha). Seguro?
Meninho 2.— (Estranhado). Que faze tanta gente e polícias a cheirar para aqui se nom há nengum partido nem sequer estám a cantar ou a tocar?
Meninho 1.— Isso, por que olham tanto?
Padre Pedro.— Porque sim.
Meninho 1.— Eu quero a bola, eu quero a bola...
Meninho 2.— Eu também, onde vai a bola?
Dom Tibúrcio.— (Tom paternalista). Já vos dixem que nom está aqui, nom há nengumha bola.
Meninhos 1 e 2.— (A umha). Seguro?
Meninho 1.— Caiu-nos e veu cara aqui.
Dom Tibúrcio.— Seguro que aqui nom está, nom teria quiçá ainda tempo de chegar. Ide-vos, agora nom podo atender-vos. Se a vejo, nom vos preocupe que a guardo e devolvo-vo-la; e a nom vos aparecer, dou-vos outra mais tarde, quando acabemos umha tarefa que andamos a fazer. (Fai um gesto e os dous meninhos saem. Depois, desassossegado). Iso nom é sério, aqui pode entrar qualquer, apesar do grande risco que corremos. (Indignado). Depois vou ter muito que investigar, muito, a ver por que acontecem todos estes despropósitos...
(Levelino e Vindiciano desaparecen no telhado do monumento).




XVIII

(Padre Pedro, Dom Tibúrcio, umha cadela).


(Entra umha cadela no cenário. Dança ao som de umha música de fundo suave e popular).
Dom Tibúrcio.— (Divertido). Arde-lhe o eixo!
(Padre Pedro amostra umha atitude séria, de indignaçom, que nom dissimula: exterioriza-a com gestos contundentes e chegam a provocar comicidade. Ao rematar a dança, a cadela achega-se aos dous. Saúda-os. Padre Pedro nega-lhe a saudaçom. Depois, vai em direcçom à parte dianteira do cenário. Fai umha reverência, solene, para o auditório. Sai, sempre a olhar para o público, lentamente. De fundo, acompanham-na risos e rumores).




XIX

(Padre Pedro, Dom Tibúrcio, Vozes. Depois Vindiciano).


Padre Pedro. Isto principia a parecer-se a umha feria.
(Escuita-se muito barulho e vozes de polícias que pedem no exterior calma e tranquilidade).
Dom Tibúrcio. Mesmamente, parece como se adiantassem à festa maior. (Novos gestos de desesperaçom). Quanta gente, Deus!
Padre Pedro. (Imperativo, apressado). Mande que os dissolvam, mande que os dissolvam, que vaia cada um para a sua morada, que é onde devem estar.
Dom Tibúrcio.— (Com força). Isso nunca!
Voz elisa a S.— Que, tinha razom ou nom? Nom sei como hei de dizer que Elisa a Sota nunca mente. Sempre digo verdade. O que passa é que a verdade por vezes nom se quer crer, nom convém, ou custa. Porém, aí tendes, todos os polícias; é um roubo grande, de seguro que nom deixárom nem a imagem do pladroeiro para a procissom de amanhá...
Voz Dra. Coro. Que vos parece se executamos umha cantiga para animar isto? Seguro que toda a gente nos presta atençom, vai ser um êxito...
Voz elisa a S.— Que dize esse garoto?
Voz Garoto.— Nada, nada... eu presto-me a colaborar com os senhores polícias a me quererem. Nom fizem a carreira, mas conheço de cor toda a técnica de Sherlock Holmes, e num caso assim pode ajudar, penso eu...
Voz S. Anúncia. Que Deus os ampare! Todas as religiosas ficárom a rezar para que tenham sorte, seguro que nom há de acontecer nada mau...
Voz Rapariga 1. Mai, mai, vem aginha, que som muito horas de jantar, pola tarde quero regressar à praia...
Voz elisa a S.— Eis o sacristám... (Chama). Sacristám, sacristám, que acontece?
Voz Sacristám. Sei tanto como acabas de dizer: seica andam a roubar, mas nom sei se levárom algo.
Dom Tibúrcio.— Isto é cada vez mais insuportável.
Padre Pedro.— Se me fizesse caso a mim!
Dom Tibúrcio.— Nom sei, nom sei, é normal, depois de todo...
(Reagem nervoso Dom Tibúrcio).
(Pausa breve. Escuita-se, de fundo, música suave e vozes que interpretam, baixo, um cantar popular. Continua o barulho).
Vindiciano. (Aparece, subido na escada, dirige-se a Dom Tibúrcio, gestos de muito preocupado). Senhor, chefe, já o temos.
Dom Tibúrcio.— (Achega-se, ao igual que Padre Pedro). Quantos son? Entregam-se ou nom?
(Silêncio, cessam todos os sons e vozes do exterior. Escuita-se outra vez o ruído).
Padre Pedro.— Ao fim vam ter o seu merecido.
Dom Tibúrcio.— A ver, responde, quantos som?
Vindiciano. É que...
Dom Tibúrcio.— Que... quê?
Vindiciano. Nom é o que pensamos.
Padre Pedro.— Ah, som jovens, drogaditos talvez! Esses som os piores, os que e devem escarmentar deveras para que nom recaiam. Duro com eles!
Voz Exterior. Duro, duro com eles!
Vindiciano. Na realidade...
Padre Pedro.— Quê? Som de famílias conhecidas, porventura? Pois o mesmo tem, o facto é grave e a lei deve ser a mesma para todos, depois de toda a que armárom. (Em alto, rotundo). Dura lex, sed lex!
Vozes Exterior.— Duro, duro!
Dom Tibúrcio.— (A Padre Pedro, suplicando-lhe, com gestos, serenidade). Mas, se ainda nom se sabe se fizêrom algum mal ou se talvez lhes aconteça algo mau a eles! (Enérgico). Nom os condene de memória, fagame o favor!
Padre Pedro.— (Acalma, reage sossegado e tranquilo). Bem, bem, pois resolvam pronto. Deixo-os sós para nom ser um estorvo. (À parte). Vou sair, nom vaia ser o demo que haja problemas agora que dérom com eles. Se começam os disparos, a mim aqui nom me apanham.
(Sai Padre Pedro).




XX

(Dom Tibúrcio, Levelino, Vindiciano).


Vindiciano.— (A Dom Tibúrcio). Achegue-se, achegue-se mais.
(O comissário obedece. Volta o silêncio).
Levelino.— (Aparece). Que cousas, chefe, que cousas acontecem por vezes nesta profissom!
Dom Tibúrcio. A ver, queredes já relatar de umha vez de que se trata?
Vindiciano.— (Confidente). Nom é nengum roubo. Trata-se de umha gata recém parida, que está aqui (assinala para o telhado), com as suas crias; os ruídos que fazem som os mesmos que escuitamos todo este tempo.
Dom Tibúrcio. (Gestos de enorme assombro e contrariedade). Como dizem? Umha gata parida... estám seguros?
Vindic., Level.— (A umha). Sim, senhor.
Dom Tibúrcio. (À parte). Com certeza, é o caso mais raro de toda a minha carreira. Onte o porco que relatava a Chefa da Guarda Municipal e hoje estes gatos! Desde logo, devem andar os astros muitos revoltos. (A Vindiciano e Levelino). Bem, a ser assim, baixem rápido e nom os apressem.
(Sai rápido Dom Tibúrcio. Vindiciano e Levelino baixam a escada a presa, tropeçam e caem. Levelino sai, Vindiciano fica no chao).




XXI

(Vindiciano).


(Vindiciano ergue-se, com parsimónia. Começa a cair o pano, mui lentamente). 
(Soa de novo o ruído, que provém do monumento).
Vindiciano.— (Face à Igreja). Os ruídos outra vez! Eis toda a verdade da existência resumida neste episódio.
(Sai).




XXII

(Voz de Dom Tibúrcio).


(Continua a cair mui devagarinho o pano. O cenário principia a escurrecer progressivamente). 
Voz D. Tibúrc.— (Distante, imperativa). Você e você, recolham a escada e ponham-na no seu sítio. Ah, e avisem à chefa da guarda municipal que já rematou a missom satisfactoriamente. O resto, para o quartel. A continuar este trabalho de nom fazer nada.


(Pano final rápido)


O Ponto.— É preciso ridiculizar os inimigos do homem, os profissionais da morte, para glorificar a vida e tudo o que lhe diz respeito.


(LUIS DE STTAU MONTERO)

Páxina Anterior

Ir ao índice de Páxinas

 


logoDeputación logoBVG © 2006 Biblioteca Virtual Galega