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Parte III

 

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III. A NENHURES: (PSIC)ANÁLISE ABSTRUSA


                    "verdadeiramente o que ten é un cofre de dor

                    e ningún escándalo lle causa a ausencia de significado na raiz" (Chus Pato)


POETA

Pensares-te nascendo um céu da gente.
Acreditar falácia de criar grupo. Aplauso
intercambiável. Nomes. Não.

A palavra. Livre. Brinco adiante
contra beijar mãos. Nunca.
Eu. Cadeias em mim desfazem o verso. Sem
olhar atrás.
Sobre o céu eu.
Poeta.


INSONE

Como loucura, pássaro estrelando-se contra vidros,
vermelho, beijo de sangue,
colisão;
há verde de ramos que voa na janela,
sombras chinesas ocultando identidades,
cabeças.
Por que essa voz partida que avisa; que conta?
Quem a oculta que tampa?
Tantas falas, velhas, sem linguagem, gastada dia-a-dia por nada.
Que calem
!, e os olhos de moucho que vão para o parque...
É noite.


DESESPERO

Caia a lâmpada e persianas decapitem a manhã,
de vidros pés e passo.
Irrompe a alva com luz de dente;
quanto brilhar de gin, tom falso, e que deem...
Arde.
Caia a lâmpada
!
Eclipse-se o fulgor nos olhos de um sapo que foge
!

Rebente o coração
se continuar vivo
!


                                                         (Para H.)

INDELÉVEL pegada, imagem de corpo em recordo,
um gesto flexivo: joelho em ângulo, atando no
chão cordões, arco com o torso, curva nas costas,
nuca, franzino perfil de rosto, caracóis.

Esforço deitando olhares, gestos fora; uma mão
de palavras contra o revérbero, amor. Luta libertando
emotivo de outrora louvaminhas, testemunhos de aventuras;
afugentando perseguidora amarra, afogado.

Inútil. Estás sempre em mim, viúvo de vivo daquele
perdido em si, sem alma, diluída em corpo hoje.
Impossível outra curva, costas, nuca, franzino perfil;
extraviada essência vertida, passado no vazio, nada.

Jamais encontrar o amado no novo, só lembrança que
traz graça indecifrável, amor, pesquisa, fusão.
Lástima, desesperada espera do implícito ser ausente
em ti, inomeável, perdido no rio antanho fluido.

Tu, morto mudo. Hoje.
Tu, amor todo. Ontem.
Tu, H. Heráclito. Rio.

(Busco-te porque em ti, o outro.)


H

Com olhos criança infância prateada.
Um cigano contando dias. Busca
incansável num deus cristal. E uma
mulher entrada em silêncio loura palpita
gelo no teu sangue e ainda assim. Dobrado
num perfil observam-te seres figura partida em espelho o azougue.
Por que ocultas que mistério amar-te?
Se houver a beleza veneno que sane...
E o obscuro. Virá Aquiles. Que jamais
livrar-me. Vi-o e sei. Sempre. Perdoa.


DISTÂNCIA
                       (Para Carlos)

Sonhar Amsterdã longe, entre nós
pontes; aguarda canal um bateau
mouche: Paris ou Ponte Velha.
Rio: destino. Escuto a tua
-emerge- música, passeios dialécticos.
Tanto trabalho para enxergarmos
Arte: vendados olhos sondando
verdades. Acho-te a faltar,
e o silêncio.


ONTEM TRÊS
                          (Para Marta, Carlos e Luís)

Apagou. Calor feminino
em ondas varrido e névoa:
pedra.

Olhos. Música encaracolada
tempos adeus e silêncio:
onde?

Álcool. Pés
poemas em sombra brancos:
risos.

Crepúsculo.


OS VELHOS
                      (Para papai e mamãe)

Não seria... gesto hostil noctígeno
que amanhã se esfuma? Tantos anos de amarem-se.
Rosna escada acima em passo
lento, atrás a remora avança com abafo.
Antítese, cálida habilidade
no tempo: aceitarem-se tudo esquecendo.
Cada amanhecer, luz. Dois.


CONJUNTO VAZIO

Saber quando a mão ajuda,
apoiar-se com segurança no ombro.
Cúmplice golpedejoelho ou
fala de atrás um olhar-manto.
Tempos idos de rio, abraços em noites,
figurados enlaces de uma felicidade
carrusel. Quinze anos e
lágrimas entre domínio e solidão,
alegria obscura. Logo, autodefesa contra
estátuas, poder de homem firme
às costas. Da manipulação marchando;
um ponto de luz quotidianamente só.
Só.


POLÍTICO

Assinar nota, avisar (telemóvel) e responder:
- Sim, que sim -em desatino de carro fantástico, Eu ordeno.
Tal poder; e fato e gravata alaranjada,
com toque especial de corredores entre acólitos.
Traçar a tinta o mapa provinciano, petiscar (tortilha dos operários) e vinho;
o flash azeda o fundo de paisagem, verde-lilás,
com tanto branco de dentes que lhe riam.


MARÉ

Cachão de sangue, sangue-mar,
corrente. Refugalhos metálicos,
oxidação. Madeira torada
de proa: mascarão sereia;
violáceos, escama verde,
peitos. Preta cabeleira:
ronsel de argaços, crime.
Detenham-no.
No more...


SUPERMARKET

Corrente: cartão master diário e convulso. Simples.
Escaparates preenchidos, minipreços, etiquetas de neon
em arco cego. Colónias: como cheiram os estantes,
sonhos mercadores. Azeite de luz resvala por frios
rostos. Pó de areia, disfarce, sob um olhar de desvario.
Robôs do nada, fantoches. Intimidadas sombras
regidas por bandidos. Onde a bomba? Libertar-se.
Corrente...


MENINO NA AÇOTEIA DE SHERATON
                                                                   (Para Ricardo Lísias e Menino)

Deram migalhas que recolher sem honra à sombra de tacões;
mãos picadas, buracos de queijo entre as unhas
e não dizer nem fazer reverências, que o cansaço é muito:
ciática eterna em memória de agachar-se.
Necessitar tanto tempo para (re)carregar a máquina de ódio,
romper o vento.
Não ficarão mais que soluços,
só ais
! de verdugo.
Escachar a taça, deixar o troco na mesa e lembrar:
evita escada que vítimas constroem, inocentes!
Escachar a taça
e saltar(mos)
(pelos ares).


LABIRINTO EM ESPIRAL

Cambalhota.
  Meia volta.    Bong!          (Espiral)
      Alarido.      Culatra.         Fuzil.        (Espiral)
Gatilho.
        Hélice.          Tiro.             (Espiral)
         Rol.          Processo.         Giro.    (Espiral)
Sangue.
     Culpa.             Castigo.       (Espiral)
       Espiar.       Expiar.           Expirar.   (Espiral)



                             "Nós todos, derrotados." (M. Álvarez Torneiro)

RENÚNCIA a continuar,
converter-se num paria,
matar num o intruso...



                                                                                                                                                (Galiza, 2007)






































 

 

 

 

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