Contos de fada em do maior

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A DAMA DE PRETO

     Embora terem uma criança bem humilde, todos os seus antigos amigos da infancia disfrutavam de situações de vida acomodada e até desempenhavam, alguns, postos de responsabilidade no governo da sua majestade. Onde ficavam aqueles juramentos de principios indomaveis, onde as promessas feitas e seladas com o sangue dos dedos? Tudo brincadeira que o primeiro vento do outono escarfalha, como as folhas das arvores vão caindo ao chão uma a uma.
     No cavilar daquele sujeito, embrulhado num abrigo com as lapelas subidas, as mãos nos bolsos e o assento todo ele reclinado. À sua beira ia uma dama elegante com poses de intelectualidade ilustrada. O preto predominava na sua vestimenta. Debaixo de uns oculos totalmente transparentes podiam-se ver seus olhos ligeiramente adornados com suave toque azul. O atardecer impedia reflectir com certeza a cor. No video do autocar passavam um filme baseado num romance do Graham Greene.
     O sujeito tomara um café bem carregado na ultima paragem que fizera o autocarro. E agora sentia seus efeitos ...Um conforto indiscritivel e ademais sentia a euforia do trabalho concluido! Fazia seis meses que trabalhava nos «Serviços da inteligencia» da sua majestade ... Era o unico do departamento de origem não «prussiano» e ainda assim já colaborava em operações denominadas de alta segurança. Num bolso especial, no interior do abrigo, guardava um pequeno envelope branco com certas anotações em clave entregadas naquela manhã polo embaixador do «Francestão», que continham segredos importantes para a «segurança nacional» ...Nada menos que ele, Hilduaro Chaminé Farrapeiro!! Um agente feliz de o ser ...
     O murmurio ia alongando-se nos ouvidos do Hilduaro, as pestanas juntando e o resto dos sentidos todos ficavam paralizados. Algumas noites sem dormir e um certo ambiente tepido no interior do autocarro era o que precisava o sujeito. De subto um brinco do Hilduaro, esparavaneando e rosnando incoerencias, convertiu-o em ponto principal de atenção do resto dos viageiros. A dama, observou-o, escrutou-o, diria-se melhor, com uma mirada cheia de incerteza e desprezo ao tempo. Ele desculpou-se cortezmente. Assegurou-lhe que se devia às muitas noites sem fechar olho! Ela debruçou um sorriso insignificante no rosto e perguntou-lhe:
     —Muito pandego você?!
     O Hilduaro intentou exprimir-se o mais correcto possível para negar tal afirmação... Mas no meio do relatorio não desgostou tanto na ideia e deixou cair a duvida no ar.
     Um bulir de gentes, taxistas e reclamadores de hotel anunciavam a chegada dos viageiros à capital do Estado. O Hilduaro tomou um taxi e encaminhou para o hotel habitual onde pernoitava nos seus multiplos deslocamentos à capital. Dispunha-se a tirar do bolso do interior do abrigo a bilheteira que continha o documento que faria as maravilhas do criptogramista do departamento para o que trabalhava, quando seu rosto tornou-se de multiplas cores... Interrompeu a respiração por uns segundos e deixou-se cair acima da cama, colhendo-se com as duas mãos os cabelos. Que lhes diria aos responsaveis na manhã seguinte? Aguardando que estavam o documento cifrado!
     Poucas noites tinha passado como aquela. Não conseguia dormitar. Previa o seu final. Já dava por terminadas as memoraveis ceias depois de cada trabalho ben feito.
     Lá, pelas quatro da madrugada logrou fechar um tanto os olhos mas o pensamento seguia funcionando bem lucido, como um receptor de radio que continua conectado ainda que seus ouvintes se tenham ausentado ... As veladas anteriores, triunfais e alegres, mesclavam-se na cabeça do Hilduaro com a silhueta primeira e logo com a imagem clara e nitida da dama de preto que o acompanhara horas antes desde uma provincia em estado de emergencia pelas revoltas... Caminhava agora por uma rua ... viu o rotulo que anunciava «Rua das camelias» ... Já no final dela observou polos vidros dum escaparate à dama de preto no interior que sorria alegremente detras de um amostrador, uma tenda de peles de alta costura. Ele introduziu-se e sem dizer palavra prantou-se diante da mulher. Ela surpreendida duvidou algo ao primeiro mas logo, e ante as provas confessou:
     —Ia devolver-te a bilheteira, mas não tive tempo.
     O Hilduaro continuou em silencio e dirigiu-se a um pequeno chinelo de madeira de castanheiro que pendurava da parede atrás do amostrador, estava aberto e a bilheteira, com o documento acima de uma pequena estantaria, no seu interior. O Hilduaro perguntava-se para si proprio que para quem trabalharia aquela dama. Mas corno era sonhando —dizia-se— não se pode deter! E nesse preciso instante espertou e comprovou com grande pesar que tudo tinha sido um sonho!
     —Maldição!
     Olhou que as agulhas do seu relogio marcavam as sete da manhã. Às nove estava citado com os contactos ... Ergueu da cama lavou-se com agua muito fresca. E seguia pensando no sonho. Agora fazia esforço em lembrar a rua onde a tenda ...«Rua das Ca ...», «... das Camelias».
     —Isso é!
     Do interior de uma pasta preta, onde guardava cousas de asseio pessoal, tirou um mapa da capital... No indice de ruas comprovou, com estranheza, que a rua do sonho existia. Seu pensamento desdobrou-se em duas bifurcações. Como se foram duas pessoas na mesma. Uma esforçava-se em contrarrestar os impulsos da outra. Uma parte desejava crer no sonho e a outra sentia ridiculez só ao cavilar que se ia deslocar para comprovar a existencia de uma tenda e de uma dama «sonhadas» ...
     Às nove abriram alguns comercios entanto que outros faze-Io-iam às dez horas. Comprovou então que a rua distava pouco do lugar da cita à que tinha que assistir. O unico que diferia um tanto era a hora! Afinal, às nove e quinze minutos rondava enfundado no abrigo pola rua ... Buscou a tenda que olhara no sonho.. Andivo uns cem metros e a tenda não aparecia ... Claro, isso passa-me por fazer-te caso! Dizia-lhe uma pessoa à outra no interior do cerebro do Hilduaro.
     Já se podia ver o final da rua e ele aligeirou o caminhar para tomar a primeira rua à direita. Os pés fixaram-se-lhe no chão. O rosto petrificado e os movimentos congelados ficaram quando comprovou que a dama do sonho entrava pola porta da tenda anunciada!
     A forma de resgatar o documento resultou diferente a como o leitor está aguardando ler... No chinelo não havia uma bilheteira com o documento. Encontrava-se uma pistola carregada! Com ela o Hilduaro logrou que a «dama» lhe entregara o papel criptogramado.
     O leitor seguramente duvidará da veracidade do relato. Só lhe posso dizer uma cousa: eu também!

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