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Antes quando eu era moço dava-se-Ihe
muita importancia ao misterio que arrodeavam alguns sucedidos relacionados com os mortos. Cousas que
quase sempre eram produto de alguma mão humana e viva que as impulsava ou bem de algo
normal que as provocava.
Em Barbaim acontecera um caso tambem muito soado por então. Morava ali, tinha casa
propria e terreno, um homem só, tal como eu hoje sorri o guerrilheiro
que lhe chamavam
o Pego, creio, ou o Cachorro... Não lembro bem.
Este homem não era nada amigo dos cregos nem de ir à missa os domingos... Por isso cada
vez que o abade o colhia por banda, que ademais era um abade bastante antiquado, dava-lhe o
grande responso.
Mas o homem, Cochorro, tomava tudo com bastante
filosofia. Chamavam-lhe tambem o «vermelho».
E ao pobre Cochorro, ou Pego, chegou-lhe a hora
da morte. A sua casa estava no cimo do lugar e algo arredada das outras. Ao velatorio ninguem
queria assistir,
imagina... Um «vermelho» podia contagiar! Os moços apoderaram-se do velatorio, não todos, uns
quantos.
Os mais argalheiros!
Prepararam um cabaço, esvaziaram-no e fizeram-lhe uns quantos buracos de maneira que ao introduzir dentro
um candil aceso semelhava a cabeça do demo... Colgaram o trebelho no quarto do morto, pendurado do teito
e deram-lhe uns quantos empurrões, abriram portas e janelas. O ar bruava forte como é proprio dum mês
de inverno, o cabaço que não parava de pendurar ...e em cima os moços faziam estranhos ruidos dentro da
casa do «vermelho».
As mais beatas da aldeia alarmaram-se.
O demo... apoderou-se da sua alma pecadora! exclamavam.
Os moços, cheios de rir, deixaram a casa do pobre «vermelho» e não se lembraram de descolgar o cabaço
da discordia. Ao dia seguinte todo o mundo descobrira o misterio.
É que não sabeis fazer as cousas bem... Olhai que esquecer-vos de descolgar o cabaço! E isso que estava
todo argalhado tão maravilhosamente que semelhava um «milagre» lamentava o abade.
Agora vão pensar que «o vermelho» morreu como um homem de bem.