Contos de fada em do maior

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A NOIVA

     O comboio emitia já um ta-ta-tam suave e até agradavel ao ouvido. A estação da cidade à que se dirigia o Anjo Monsalves Salgado estava proxima... A gente amontoava-se nos passadiços das carruagens. Dos serviços saiam de vez em quando alguma senhora guardando o pente no bolso, crianças que perguntavam aos maiores que os acompanhavam sobre dados determinados. Anjo observava com especial detenimento a um rapaz que explicava a um senhor maior, é possivel que fora seu avo, o primeiro que faria namais chegar à cidade: compraria um doce com cromos dos «pantunflos», personagens da TV. Polo sotaque do menino, Monsalves não tivo que se deluvar em demasia o cerebro para compreender a procedencia da criança. Um garoto que respondia aos estimulos e habitos da TV não Suevnia.
     O Anjo tinha arredor de uns trinta, estatura media com os olhos claros e o cabelo aloirado. Era uma pessoa calada e muito observadora, no trabalho os colegas chamavam-lhe o «filosofo». A sua frase preferida, e quase gastada de tanto usá-Ia era: «A experiencia é um pente que nos dá a vida quando já estamos calvos»...
     Quando o comboio se detivo o «filosofo», vestido impecavel e com a mala pequena que sempre o acompanhava, desceu com decisão e passo firme. Como corresponde no mês de Outubro, o ar de Canoseco roçava as orelhas dos peões com certa violencia. De subito o Monsalves parou-se e vestiu o sobretudo que portava no braço esquerdo.
     —Quem me mandaria a mim! —pensou para si com incerteza.
     Realmente não estava seguro de que lhe servira para algo a viagem que acabava de realizar. Fazia dous anos que tinha como noiva a uma mulher de Canoseco. Um dia recebeu uma carta na que se lhe comunicava a surpreendente decisão, por parte dela, de se deixarem. Seica não estava segura de querê-lo... Ademais, havia outro!
     —Mala chispa a parta! —De novo lembrou a realidade que o envolvia.
     Eram as oito da manhã e ainda se viam aos mendigos dormindo à porta do Metro ou em algum recanto de rua estreita, com cheiro a mijos e sujidade... Acelerou o passo para deixar atrás aquela zona cheia de marginação e miseria indigente. Não podia tomar-se um café com leite e algum produto de bolaria em presença daqueles desgraçados. Coitados!
     Andou umas quadras mais, adentrou-se numa luxuosa cafetaria. Desejava descansar tranquilamente durante algum tempo entanto ordenava as ideias. Na mesa proxima à que ele se sentou havia dous individuos trajeados e com vistosas gravatas que continham as cores da bandeira da Nebrijia. Asinha lhe serviram um café com leite bem quente, como pedira.
     Poucos dias havia que o IRA atentara contra do governo da G.B. Os sujeitos da mesa contigua lamentavam que o atentado resultara falhido!
     —Foi magoa! É uma filha do diabo... Entretanto ela governe, não nos devolverão a «pena».
     O Monsalves olhou-os com estranheza e desconcerto, e cavilou na subjetividade das causas... Se o atentado do IRA for dos da ELSA, aos sujeitos ali sentados resultaria-lhes um ato abominavel e criminoso seguramente... Filosofou no seu interior sobre o fato de que uma ação pode ser um crime para uns e um ato de patriotismo para outros! O Anjo buscava a verdade absoluta sem compreender. Ia polo segundo café... Tinha que fazer o tempo, a rapariga com a que se queria ver não madrugava grande cousa.
     Pouco a pouco começou a entrar o sol pola vidraria ampla do local onde se encontrava. Havia tres grandes janelas que davam ao nascente. A gente entrava e saia da cafetaria sem apenas deter-se mais de uns breves minutos.
     —Bares-presepio! —musitou.
     Logo retrocedeu no tempo, com o pensamento, ao começo das relações com a que agora já não era a sua noiva. Ela tinha-se amostrado tão segura da união sentimental entre ambos os dous que por vezes jurara fidelidade certa, e agora a realidade vinha a dizer-lhe que não, que tudo é relativo!
     No amostrador da cafetaria uma parelha beijava-se com apaixonamento... Ao melhor dentro de um tempo esse amor, que hoje semelha tão seguro torna-se efemero e passa a ser simples pagina da historia individual! O Monsalves maldezia aos que lhe tinham ensinado a crer na fidelidade... E pensava:
     —Onde ficam os valores morais dos que tanto me falaram no colegio religioso aquele? Se a lealdade é fragil e a verdade tão relativa?
     Nesse instante, atordoado, abrumado polas contradições proprias e do sistema filosofico no que se baseava o seu ensino, abriu um livro que trazia no bolso por uma pagina qualquer e leu:

«Entanto aquele individuo seguia com o seu atormentado relato, eu afundava-me num prazenteiro relembrar do meu pasado, a criança, os anos de estudante; que marcam às pessoas para sempre. Não sei quem dixo: Eu sei que no vago final de um dia qualquer o sol enviar-me-á a sua ultima despedida. Aquelas borrosas frases sem senso extraidas de algum lugar deram pé à inspiração posterior. A imagem imprecisa da noiva que descrevera o sujeito atravesara-me o cerebro confuso...»

     Passando a mão esquerda pola cara acordou pedir-lhe uma entrevista à rapariga pola que viajara toda a noite. Sabia onde ela trabalhava e não tinha mais que apresentar-se à entrada do edificio minutos antes das dez... Mas ainda a duvida fazia-lhe cavilar. Era ela uma mulher temperamental, seguramente não o quereria receber. O dia continuava frio mas os raios do sol luziam sobre a cidade com admiravel luminosidade... O Anjo perguntava-se se deslocar-se ao lugar em Metro... Mas logo decidiu-se polo taxi. Tinham-lhe contado tantas atrocidade sucedidas nesse meio de transporte que preferiu obviá-lo.
     Uma vez contara-lhe um conhecido seu que mora cá, que um dia ele ia num comboio, por uma linha pouco concorrida, viajavam apenas dous sujeitos, uma moça e alguns garotos. Num momento determinado ficou com a respiração interrompida quando viu que um dos individuos de uns quarenta anos, feio e com a roupa suja, ia-se masturbando...
     —lncrivel —interrompeu o pensamento o Monsalves— se lho conto a alguem no meu pais não acredita!
     Quando o sujeito estava a ponto de lograr o orgasmo puxo-se defronte à moça e ciscou-lhe no rosto o liquido...
     O Anjo tomava um taxi, ao concluir o repasso do sucedo que lhe contaram exclamou em voz alta:
     —Que nojo!
     —Como diz? —perguntou o taxista.
     —Nada, nada. Desculpe.
     O edificio onde trabalhava a noiva era de grandes dimensões, tinha amplas janelas de aluminio. Albergava a sede de uma multinacional da construção. Ela costumava entrar pola porta principal a isso das dez e alguns minutos. Eram as nove da manhã e cinquenta e cinco... O Monsalves dava curtos passeios diante da porta. Parou-se e observou que um carro se detinha a poucos metros. Era ela, desceu do asento contiguo ao condutor. Quando puxo os pés no chão soltou-lhe um beijo na boca ao individuo que logo seguiu com o auto. O Anjo escondeu o rosto e dando media volta alonjou-se do lugar... Viera à grande cidade para tratar de a recuperar, mas depois do olhado no anonimato do asfalto concordou para sim proprio que seria melhor tentar de sintonizar o seu sentimento noutra frequencia menos interferida.
     Sem duvida, aquele dia ficaria para sempre gravado no seu arquivo particular como um dos piores. Mesmo durante o seu deambular, sem rumo, pola paisagem urbana, chegou a questionar-se seriamente os principios polos que se tinha regido até ali... A bussola de referencia quedou-se-lhe a agulha magnetizada em excesso e o barco não encontrava porto seguro! Nunca bebera o Monsalves mas no dia negro chegou às dez da noite bastante bebado... Simplesmente uma molha dela interior —dizia com a lingua pesada.
     Nuns letreiros luminosos anunciava-se um baile com orquestra... Não duvidou. Havia que sentar-se a descansar algo, fora muita caminhata durante o dia inteiro. Os anuncios luminosos ressaltavam o nome da sala, o Monsalves mirou de relance para a indicação dos preços: cavalheiros 400, damas 200...
     —Vaia! Disto não protestarão as mulheres.
     Lembrou então que a ex-noiva era uma dessas feministas à que tratara de compreender sem muito exito. Tirou da algibeira o dinheiro preciso e adentrou-se pola escada em caracol que o conduziu até um subterraneo cheio de luzes de exoticas cores que partiam quase todas do centro do tecto. Uma sala quadrada e extensa que possuia uma plataforna algo mais elevada no centro. Ali moviam-se com lentidão interessada as parelhas que fingiam bailar. Ao fundo uma orquestra de seis musicos interpretava peças melodicas e de ar indeterminado, adagio, largo? À direita, nada mais descer as escadas e antes de se introduzir na sala, havia um pequeno bar onde serviam bebidas de todo tipo. O Monsalves para ter onde pôr as mãos, pediu um «whisky» sem gelo. Com o copo na direita e com a esquerda acariciando-se o queixo, cruzou por entre a gente que, proximos ao circulo de baile, charlava ou bebiam ao carom das mesas dispostas por um amplo espaço. Foi sentar a uma cadeira desde a que se observava o teclado do orgão electronico. Por vezes o efeito do alcool impedia-lhe seguir com claridade as mãos do executante sobre o instrumento.
     Quando acordou já ninguem ocupava o local.

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